O Homem Baile

Grande encontro

Veterano Uriah Heep ignora novo álbum e dá geral na carreira em show repleto de clássicos no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista Bernie Shaw se supera com inacreditável alcance vocal e grande performance de palco

O vocalista Bernie Shaw se supera com inacreditável alcance vocal e grande performance de palco

É ainda a parte inicial da noite e o Teatro Rival com lotação máxima começa a ser sacudido por duas músicas lançadas há mais de 40 anos. No palco, o Uriah Heep engata a quinta marcha e faz o público vibrar com a dobradinha “Sunrise” e “Stealin’”, e com o vocalista Bernie Shaw se superando não só no inacreditável alcance vocal para quem beira os 60 anos, mas por uma presença de palco contagiante. Na primeira, ele coloca o povão pra cantar numa paradinha na parte instrumental, e a segunda – aí sim – deságua em grande interação entre banda e público, como pouco se vê em shows de grupos mais jovens. “Vamos fazer essa quarta virar uma sexta à noite”, grita Shaw, como se fizesse diferença: ali já se vivia uma saborosa viagem no tempo, narrada pelos próprios músicos.

No início, contudo, não parecia que seria dessa forma. A plateia parecia fria, contemplativa a ponto de praticamente não se interessar pelo estonteante arremate instrumental da pesada “Overload”, mais recente, do álbum “Wake The Sleeper”, de 2008, que marcou um dos retornos do grupo. Foi preciso o vocalista ganhar o público na raça, convocando a cantoria e – óbvio – se fazendo valer de clássicos inalienáveis das histórias individuais de cada um que atravessou as catracas do velho teatro. “Vamos tocar todos os clássicos durante toda a noite”, avisou Bernie Shaw, como se pedisse licença para mandar umazinha só do álbum mais recente, “Into The Wild”, lançado há seis anos. A escolhida é “I’m Ready”, que leva Mick Box à beirada do palco com a guitarra erguida sobre a plateia para que todos toquem um pouquinho.

O guitarrista Mick Box, 66 anos, único remanescente da formação original, fazendo das suas

O guitarrista Mick Box, 66 anos, único remanescente da formação original, fazendo das suas

O repertório - de fato - percorre toda a carreira do Uriah Heep ao visitar nada menos que 11 álbuns da extensa discografia. Curiosamente, o novo lançamento do quinteto, “Outsider”, que sai em junho e já tem o single “One Minute” tocado em tudo o que é canto (saiba mais), é enfaticamente omitido em qualquer conversa que venha do palco. Não que alguém do público tivesse algo a reclamar em meio à empolgação da apresentação, mas dá a entender que o grupo vem ao Brasil meio fora de hora, no intervalo de uma turnê para a outra, provavelmente seduzido pelo generoso cachê oferecido pela Virada Cultural de São Paulo (R$ 129 mil), onde tocou no final de semana. Ao mesmo tempo, sugere que uma nova visita, para o lançamento desse novo trabalho, em um intervalo menor do que os longos oitos anos e ausência na cidade.

As caipirinhas que, segundo consta, Mick Box vinha entornando desde a tardinha em Copacabana, fizeram efeito durante o show, sobretudo na segunda metade, garantindo, além de um semblante de pura alegria e satisfação – “O que importa é que nós e vocês estamos aqui”, resume – extraordinárias intervenções. É o que acontece, por exemplo, numa alongada versão para “Gipsy”, que inclui introdução cantarolada, troca de guitarra no meio da música e uma enfileirada de solos sobre solos estonteante. A música vem antes de “Look At Yourself”, e o tom épico dá lugar à dramaticidade enfatizada pelo tecladista Phil Lanzon, não sem Box esmerilhar a guitarra como se estivesse em um pub britânico no início dos anos 1970. Dá gosto de ver como este senhor de 66 anos, único remanescente da formação original, toca e se diverte com em élan juvenil que só o rock pode lhe fornecer.

Russel Gilbrook esbanja potência na bateria do Uriah Heep, em noite de grande interação com o público

Russel Gilbrook esbanja potência na bateria do Uriah Heep, em noite de grande interação com o público

O desfecho com uma versão meio improvisada para “Get Back”, dos Beatles, não chega a ser grande coisa, mas a recompensa vem no bis, com clássicos que fazem parte do imaginário popular do rock’n’roll em todas as épocas. Para “Free’n’Easy”, Bernie Shaw convoca uma punhado de mulheres para o palco – “Ao menos mais de 17, para superar o show de Porto Alegre”, contabiliza -, e o fato de boa parte delas não saber cantar nem o refrão não desfigura a versão bem mais pesada que a original prometida na fala de Mick Box. Cabe a “Easy Leavin’” (sim, você também sabe qual é) o sprint final de 90 minutos carregados de emoção e com satisfação garantida típica dos grandes encontros: a essa altura, banda e público eram quase uma coisa só.

Set list completo:

1- Against the Odds
2- Overload
3- Traveller in Time
4- Sunrise
5- Stealin’
6- I’m Ready
7- Between Two Worlds
8- Gypsy
9- Look at Yourself/July Morning
10- Lady in Black
11- Get Back
Bis
12- Free ‘n’ Easy
13- Easy Livin’

Alegria total: o tecladista Phil Lanzon, Mick Box, Bernie Shaw, o baixista Dave Rimmer e  Russel Gilbrook

Alegria total: o tecladista Phil Lanzon, Mick Box, Bernie Shaw, o baixista Dave Rimmer e Russel Gilbrook

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