O Homem Baile

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Com longo caminho pela frente, Revamp mostra no show do Rio que precisa se afirmar como banda para não ser “apenas” um projeto da vocalista Floor Jansen. Fotos: Daniel Croce.

Experiente, Floor Jansen mostra larga versatilidade em um momento de pura agressividade vocal

Experiente, Floor Jansen mostra larga versatilidade em um momento de pura agressividade vocal

Pode um único integrante centralizar todas as ações de uma banda de modo a só ele ser indispensável e inquestionável centro das atenções em cima de um palco? A julgar pelo show do Revamp realizado nesta segunda no Rio, a resposta é sonoramente afirmativa. A banda, ao vivo e como consequência de seus discos é literalmente a figura ampliada da vocalista Floor Jansen, em todos os sentidos: se destaca quando ela é destaque, tem de melhor no que ela é melhor e fracassa quando ela não vai bem. Pode parecer estranho, mas, no Revamp, os demais integrantes são menos que coadjuvantes e Jansen é muito mais que artista solo. Substitua a moça, por hipótese, por outro vocalista qualquer e a banda se acaba em um passe de mágica.

No show, Floor entra no palco usando o figurino de cartoon que estampa o segundo álbum do Revamp, “Wild Card”, em que ela é espécie de “coringa médico e monstro”, e a explicação vem com o desenrolar da noite: praticamente todas as músicas do álbum são tocadas, incluído as faixas bônus. De um lado, mostra uma atenção que poucas bandas têm, ao fazer uma apresentação de quase duas horas, com 20 músicas, coisa rara. De outro, mostra que a esbeltez do repertório é a principal marca negativa do show, uma vez que dificilmente um álbum só tem músicas que se encaixam bem ao vivo – às vezes nem as turnês de artistas consagrados tocando álbuns clássicos funcionam – e, para piorar, o Revamp é um banda nova com apenas dois discos lançados e, à exceção de Floor, os demais integrante são mais intérpretes que compositores das músicas.

O discreto guitarrista Jord Otto ao lado de Floor Jansen, figura mais que central no Revamp

O discreto guitarrista Jord Otto ao lado de Floor Jansen, figura mais que central no Revamp

Nesse cenário, fica fácil entender que a vocalista seja absolutamente tudo no palco, ainda mais depois da visibilidade que ela atingiu ao ser alçada ao posto de vocalista de Nightwish para resgatar, ao vivo, os grandes momentos da banda com Tarja Turunen (veja como foi o show do Rio, em 2012). Mas aqui o domínio é de Floor, e é por ela que seguramente as cerca de 200 pessoas compareceram no Teatro Rival em plena segundona. Eles vibram a ouvidos vistos quando a gigante encarnada mostra, logo em “On The Side Line” (abreviando), um de seus trunfos: a alternância entre vocais líricos, afinados e de bom alcance, com trechos guturais. Dá para ouvir o grito da plateia como se fosse o de torcida em estádio de futebol quando há a transição de um modo de cantar para o outro. Floor Jansen sabe disso desde os tempos do After Forever e não poupa o uso do artifício. Seguramente tudo no Revamp dever ser feito pensando em como ela irá se sair na prática, vale reforçar.

A citação ao After Forever, cujo fim não tem explicação razoável, tem o propósito de cravar que, musicalmente, o Revamp é quase a mesma coisa, mas, como banda nova, ainda precisa achar um caminho como grupo entrosado que não se escore “apenas” na figura da vocalista. Mesmo assim, é bom que bandas desse tipo venham ao Brasil em um estágio ainda insipiente, até para se ver como funcionam bem músicas como “The Limbic System”, com poderoso refrão e um forte arremate vocal; “Here’s My Hell”, uma porrada que tem outro bom refrão e que realça a versatilidade de Floor, além de resgatar um trecho chocho do set list; e “Misery’s no Crime”, marcada por um belo riff, quando finalmente aparecem os guitarristas Arjan Rijnen e Jord Otto.

A boa vocalista mostra carisma e simpatia ao interagir com o entusiasmado público de diversas formas

A boa vocalista mostra carisma e simpatia ao interagir com o entusiasmado público de diversas formas

Ocorre que, no geral, não há muitas composições boas no repertório do Revamp, de modo que depende dos arranjos e de como – repita-se - Floor Jansen se coloca nas músicas, para o bom resultado final. Como os músicos não são lá grande coisa, o show não engrena boas sequências, em que pese o som abafado e irregular da casa nesta noite. Para o público, contudo, vale a máxima de “quanto menor, mais fanático” e há quem acredite estar diante do melhor show de todos os tempos, música após música, muitas cantadas de cor e salteado. E a interação funciona com muita vibração por parte da banda, que não acredita que é tão querida no Brasil. Tanto que Floor – esperta -, devolve o registro de imagem (grande praga dos nossos dias), cantando com uma câmera nas mãos “para todo mundo ver no dia seguinte no youtube”. Mais esperta ainda por seguir em frente com o Revamp, já que, no Nightwish, ela sabe que depende do bom humor de terceiros.

Set list completo:

1- The Anatomy of a Nervous Breakdown: On the Sideline
2- The Anatomy of a Nervous Breakdown: The Limbic System
3- In Sickness ‘Till Death Do Us Part: All Goodbyes Are Said
4- Wild Card
5- Precibus
6- Sweet Curse
7- Amendatory
8- I Can Become
9- Million
10- Distorted Lullabies
11- I Lost Myself
12- Here’s My Hell
13- Head Up High
14- The Anatomy of a Nervous Breakdown: Neurasthenia
15- Misery’s no Crime
16- In Sickness ‘Till Death Do Us Part: Disdain
17- Wolf and Dog
Bis
18- In Sickness ‘Till Death Do Us Part: Disgraced
19- Nothing
20- Sins

Jord Otto, Floor Jansen e o guitarrista Arjan Rijnen; lá no fundão, o tecladista Ruben Wijga

Jord Otto, Floor Jansen e o guitarrista Arjan Rijnen; lá no no fundão, o tecladista Ruben Wijga

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