O Homem Baile

Desequilíbrio

Em apresentação irregular, Nine Inch Nails alterna bons e maus momentos em um dos shows mais desprezados do Lollapalooza. Fotos: MRossi/Divulgação T4F.

Trent Reznor empunha o pedestal do microfone no show que fechou o Palco Onix, no sábado do Lolla

Trent Reznor empunha o pedestal do microfone no show que fechou o Palco Onix, no sábado do Lolla

Era para ser uma das atrações de maior apelo de público da edição desse ano do Lollapalooza – e como não sê-la após o retorno de um recesso e o lançamento de um disco de inéditas? -, mas o Nine Inch Nails acabou com um dos menores públicos de todo o festival. Tido como uma das quatro atrações principais, o grupo foi jogado para o encerramento do Palco Onix, que fica pra lá de onde o Judas perdeu as botas e de onde era impossível sair em tempo hábil para o Palco Skol, onde se apresentaria, diminutos cinco minutos depois, o Muse (veja como foi), responsável por açambarcar grande parte das 80 mil pessoas que encheram o Autódromo de Interlagos, no último sábado, dia 5.

Quem se dispôs a seguir o grupo de Trent Reznor e asseclas, contudo, não teve muita sorte. Apesar da promessa de o show ser do tipo “básico”, sem participações especiais e com o quarteto fazendo tudo por si próprio – o que de fato aconteceu -, o show peca pela forma como o repertório é executado, sob uma aura experimentalista exagerada que não empolga como um todo, apenas em passagens pontuais. Por isso a meiúca da apresentação cria um anticlímax desanimador que, inclusive, empurra parte do pequeno público de volta à civilização, isto é, ao festival propriamente dito. Porque ali, num local tão ermo e distante, o clima é de transe. E isso, em algumas partes do show, é muito bom.

Eterno parceiro de Reznor, Robin Finck quase não toca guitarra durante o show do Nine Inch Nails

Eterno parceiro de Reznor, Robin Finck quase não toca guitarra durante o show do Nine Inch Nails

Não é que o tal transe não se dê pelas músicas, mas a iluminação tensa, vinda de um gigantesco painel (pouco) luminoso montado no fundo do palco contribui um bocado, sobretudo em músicas como “Letting You”, do disco anterior ao “Hesitation Marks”, o mais recente; a consagrada “March Of The Pigs”, que incentiva a plateia para abrir uma autêntica roda punk, e justamente à direita do palco, o lado mais habitado; e na tensa “Hand Covers Bruise”, do projeto do chefão Reznor com o produtor Atticus Ross, já na parte final do show. No palco, corre um revezamento de músicos e respectivos instrumentos que nem sempre resulta em boas decisões. Por vezes só teclados dominam o ambiente e, embora o show não perca em tensão e no clima caótico sempre mirado pelo grupo, cai por terra no âmbito musical ao passar a ser pouco – ou quase nada – orgânico.

Acontece, por exemplo, em músicas como “Disappointed”, sem bateria, que ajuda a criar um clima de discoteca dos mais infelizes, em se tratando de um show de rock; “The Big Come Down”, convertida em um reggae pop eletrônico esquisitão, mas que contribui no quesito “transe”; e “All Time Low”, totalmente sem bateria, que só agrada quando acaba, ao citar “Closer”, aquela que ficou famosa por ter um clipe censurado nos anos 1990 e que – sabe-se lá o porquê - ficou de fora desse show. Entre as novas, do álbum “Hesitation Marks”, já que curiosamente o bom single “Copy Of A” ficou de fora e a dupla “Disappointed”/”All Time Low” fracassou, caberia a “Find My Way” honrar os novos tempos, mas ela também não cai no gosto do público, apesar das palmas marcadas por sugestão de Trent Reznor.

Transe: a vista do palco esfumaçado e saturado na cor azul, uma constante na apresentação

Transe: a vista do palco esfumaçado e saturado na cor azul, uma constante na apresentação

Mas tem a parte boa da noite, com a dobradinha “Burn”/“The Great Destroyer”. Na primeira, a configuração é de banda de verdade com bateria e guitarra, e o clima de transe dá espaço à velocidade e aos solos de guitarra, enfim. Na segunda, carregada de efeitos que incluem tiros de metralhadora e uma tecladeira “from hell”, o público é que se empolga, fato raro durante o show. A plateia também canta junto na boa “Piggy”, manjada de outros carnavais. A música começa como quem não quer nada e se transforma numa intensidade sonora e de volume de arrepiar a turma toda. Uma pena que tenha sido apenas um momento pontual, numa apresentação que peca pela falta de velocidade, dinâmica e peso o suficiente para se tornar minimamente cativante.

Set list completo:

1- Wish
2- Letting You
3- Me, I’m Not
4- Survivalism
5- March of the Pigs
6- Piggy
7- Find My Way
8- Sanctified
9- Disappointed
10- All Time Low
11- Burn
12- The Great Destroyer
13- The Big Come Down
14- Gave Up
15- Hand Covers Bruise
16- Beside You in Time
17- The Hand That Feeds
18- Head Like a Hole
19- Hurt

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Comentários enviados

Existem 7 comentários nesse texto.
  1. Thayná em abril 10, 2014 às 0:03
    #1

    Essa review é épica de tão ruim. Parabéns.

  2. Felipe em abril 10, 2014 às 0:49
    #2

    Melhor show do Lollapalooza e fim de papo! Quem fez essa resenha não manja de NIN. E na boa, o show do Muse foi uma bosta.

  3. Marcio em abril 10, 2014 às 9:45
    #3

    Esse cara que escreveu isso deve ter ido em outro show que eu não fui.

  4. Matheus em abril 10, 2014 às 10:21
    #4

    Banda de verdade é baixo bateria guitarra e vocal? Fale-me mais sobre isso… Espero que você não ande por ai falando que é crítico musical, pois necessita de um pouco mais de conhecimento pra ter tal título.

  5. Adriano em abril 10, 2014 às 13:43
    #5

    Não sou de comentar, mas que resenha péssima, tá explícito que quem escreveu não entende nem um pouco de NIN e sua atmosfera. Com certeza ele tava no show errado.

  6. Luisa Daher em abril 10, 2014 às 21:53
    #6

    Você definitivamente não viu o mesmo show que eu vi…

  7. Fabio em abril 11, 2014 às 12:11
    #7

    Rapaz, eu nao fui e só vi o pedaço final pela TV…
    Perto do show que vi no Rio há quase 10 anos, me pareceu que esse show foi marromenos mesmo… E olha que o show daqui rolou quase 3 da manhã, para poucos gatos pingados, com chuva, numa mega desorganização da produção do festival.

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