Release
The Galo Power - Lysergic Groove
Release feito em 2013 para o lançamento do segundo disco do The Galo Power, via Monstro Discos.
“A Galo não revoluciona, não cria algo novo nesse universo musical”, acredita o guitarrista e vocalista Bruno Galo. “Engolimos praticamente todo estilo relacionado ao rock dos anos 60/70, digerimos e usamos como uma ‘força maior’. Acaba sendo uma releitura do rock clássico mundial, abrangendo o universo do blues, hard rock e psicodelia, mas não saberia explicar”.
Não tem problema, Brunão, a gente explica. Porque essa releitura é que é a novidade, e não começou agora, não. O som do Galo Power cabe facilmente no chamado novo classic rock que já há alguns anos vem se espalhando pelo mundo. Parece contraditório, mas o fato é que hoje “classic rock” não é mais ligar o rádio, ouvir “Sultans Of Swing”, do Dire Straits e reclamar da programação.
O termo engloba um sem número de bandas que surgiu pelo mundo com a ressaca do novidadeirismo criado com o advento da internet, e depois que os mais experientes aprenderam a usar a ferramenta, para atualizar e renovar o bom e velho rock’n’roll. Bandas com Rival Sons, Airbourne, o guitarrista Joe Bonamassa e – yes, nós temos bananas - The Galo Power estão nesse rol.
Na revisão antropofágica apresentada pelo quarteto, podem colocar sem medo de errar Grand Funk Railroad, Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. Tudo devidamente assimilado e colocado para fora em outra dimensão, que, se inexplicável como diz Bruno Galo, de imediata combustão e natural digestão até mesmo para o ouvinte de primeira viagem. Também estão na formação Evandro Galo (bateria), Rodolpho Gomes (baixo e vocal) e Thomas Bove (órgão elétrico, guitarras, vocais e piano).
O segundo álbum do grupo é “Lysergic Groove” – eles cantam em inglês, claro – e está sendo lançado pela goiana Monstro Discos, Meca do rock independente nacional. O disco, gravado no estúdio Jardim Elétrico, em Farroupilha, na serra gaúcha, foi produzido pela própria banda e é um apanhado de boas músicas que já nascem como habitantes do inconsciente coletivo. “Big Mama”, por exemplo, é uma extraordinária peça sessentista pré-heavy metal com teclados e sérias interferências da música negra americana. Pesada e ao mesmo temo colante na primeira audição, realça o groove estampado no título do álbum.
O disco tem os vocais gravados em volume mais alto, o que parece óbvio, mas é raro em produções independentes brasileiras. O refrão colante de “(Our First) Odissey” não deixa dúvidas quanto ao poder de fogo do repertório. A atitude é quase punk, mas as variações fazem lembrar as mudanças de andamento do Rush em início de carreira, com órgão no fundo piando o tempo todo e viradas de bateria. Pauleira das boas. “This Town is Dead”, de seu lado, tem uma base de baixo que parece uma locomotiva e flerta com o rock’n’roll de raiz, dos bailes dos anos 50, cortesia do piano à Little Richards.
O órgão elétrico também realça o peso de “Wicked Woman”, com uma cama de guitarras desenvolvendo um riff muito bem sacado. A música é mais lenta, mas surpreende ao desaguar em um refrão nervoso. “Blue Car” tem um “quê” do rock garageiro anos 90, link direto com a Goiânia Rock City, e cabe à psicodélica faixa-título, espécie de apanhado/síntese do álbum, o arremate multirreferenciado do classic rock pregado pelo Galo Power: uma autêntica pauleira anos 70 devidamente atualizada para os nossos tempos.
O nome da banda – é claro – vem do sobrenome dos rapazes (Bruno e Evandro são primos), mas, pensando bem, a cabeça de um galo, colorida e de cartilagem disforme, é um belo ícone psicodélico por natureza. De modo que a capa de “Lysergic Groove” representa a fusão natural do conceito da banda – incluindo seu próprio nome - e do álbum. Já chega de arco-íris e flores para todo o lado, meus amigos.
Marcos Bragatto, novembro de 2013
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