O Homem Baile

Para os fãs

No Circo Voador lotado, Bad Religion passeia por quase toda a discografia em show com trechos pinçados só para os fãs de longa data. Fotos: Luciano Oliveira.

O professor Greg Graffin não blefou e o Bad Religion fez mesmo um show especial no lotado Circo Voador

O professor Greg Graffin não blefou e o Bad Religion fez mesmo um show especial no lotado Circo Voador

“Sempre que lançamos um disco, saímos em turnê pelo mundo e guardamos o melhor para vocês daqui”, diz o vocalista Greg Graffin ainda na primeira metade do show do Bad Religion em um Circo Voador jorrando gente pelo ladrão, ontem (5/2), no Rio. O que parecia ser uma bravata típica de popstar, do tipo “que fala isso para todos”, faz todo o sentido no desenrolar da apresentação, cujo repertório surpreende pela inclusão de músicas nem sempre tocadas nos shows, muito menos em turnês mundiais. O resultado soma 80 minutos de um suadouro dos diabos, com nada menos que 29 músicas (em 2011 fora “só” 25; veja como foi) tocadas no gás, contemplando quase toda a discografia da banda, com direito a roda de pogo, body surfing e muita cantoria e muito lalalá como bem pede o hardcore melódico.

As quatro músicas do novo álbum, “True North”, lançado no ano passado, encontram resposta na ponta da língua do público, sobretudo a faixa-título, durante a qual uma roda de pogo gigante se abre sob a lona, e na abertura, com a singela “Fuck You”. O professor Graffin surge no palco de camisa pólo e o guitarrista Brian Baker e o baixista Jay Bentley com cabelos aparados e engomados para trás, mas quem se importa? O novato Mike Dimkich, que trocou o The Cult para substituir Greg Hetson – que, dizem, arrumou uma esposa brava que não deixa fazer turnês – tem visual nerd e parece bastante enturmado ao solar em várias músicas, sempre no estilo curto e grosso que a música do Bad Religion às vezes pede; a maioria das canções não tem solo e isso é ótimo.

O bem penteado Brian Baker prometeu e cumpriu: Greg Graffin cantou 'Punk Rock Song' já no bis

O bem penteado Brian Baker prometeu e cumpriu: Greg Graffin cantou 'Punk Rock Song' já no bis

Registre-se que o Bad Religion se tornou uma banda grande no Brasil, o que faz o grupo açambarcar fãs de todos os tipos em suas passagens por aqui. Desde os fascinados por “Punk Rock Song”, que tocou muito em rádios de programação de gosto duvidoso em meados dos anos 90, até aqueles que conhecem o grupo a fundo desde os primórdios. Sim, “Punk Rock Song”, pedida desde o show de 2011 entra no meio do bis, como prometera Brian Baker em entrevista a este Rock em Geral (leia aqui), e faz a alegria ampla geral e irrestrita no caldeirão do Circo. Mas quando são tocadas músicas pouco comuns à grande maioria, o show acaba dando uma caída, do ponto de visa da reação da plateia. É o que acontece, por exemplo, na sequência com “You”, desenterrada do bom álbum “No Control”, de 1989; “Before You Die”, do pouco explorado “New Maps of Hell” (2007); e “Beyond Electric Dreams”, uma das mais fracas do pouco inspirado “The Empire Strikes First”, de 2004.

Nessas horas é que os não iniciados se desesperam e os “die hard fans” seguram a onda. Em outros trechos da noite, contudo, o repertório reserva blocos bem sacados e até surpreendentes, como o que inclui um espécie de mini especial do clássico álbum “Suffer” (1988) com nada menos que quatro porradas coladinhas: “You Are (The Government)”, “Suffer”, “How Much Is Enough?” e “Do What You Want”. Pouco importam os erros e a falta de entrosamento do grupo no início desta última, a reação do povaréu é de um incrédulo alvoroço que unifica a paixão dos fãs – de todas as origens – pelo Bad Religion. Antes desse bloco temático, a urgente “Can’t Stop It” já tinha trazido o público para a mão do professor Graffin direitinho. Até Ronald Reagan na versão surfista ladrão de banco do filme “Caçadores de Emoção” curtiu.

Novato no grupo, o guitarrista Mike Dimkich, ex-The Cult, caprichou no visual nerd e nos solos

Novato no grupo, o guitarrista Mike Dimkich, ex-The Cult, caprichou no visual nerd e nos solos

Ainda há espaço para “Stranger Than Fiction”, a faixa-título do álbum que fez muito sucesso no Brasil lá pelos idos de 1994 – e Bentley lembra que é o aniversário de 20 anos! -, mas que ficou de fora em 2011, e para clássicos do naipe de “21st Century (Digital Boy)”, escondida ali na parte inicial do show. “Struck a Nerve”, ao vivo, ganha um riff pesado e dramático, ao passo que o bis, enxuto há três anos, dessa vez é matador, com direito a duas músicas mais lentas, “Sorrow” e “Infected”, que o público, curiosamente prossegue adorando. Mas são “Recipe for Hate”, a tão querida “Punk Rock Song” e “American Jesus”, essa no derradeiro desfecho, que enlouquecem o caldeirão punk em seu sprint final. Dívida paga ou anda ficou faltando alguma coisa?

Set list completo:

1- Fuck You
2- Dharma and the Bomb
3- New America
4- Stranger Than Fiction
5- Raise Your Voice
6- Generator
7- True North
8- Skyscraper
9- Flat Earth Society
10- New Dark Ages
11- 21st Century (Digital Boy)
12- Past Is Dead
13- Struck a Nerve
14- You
15- Before You Die
16- Beyond Electric Dreams
17- Supersonic
18- Prove It
19- Can’t Stop It
20- You Are (The Government)
21- Suffer
22- How Much Is Enough?
23- Do What You Want
24- No Direction
Bis
25- Recipe for Hate
26- Sorrow
27- Punk Rock Song
28- Infected
29- American Jesus

Greg Graffin aponta para o pano de fundo com o logotipo do Bad Religion: 29 músicas em 1h20 no gás

Greg Graffin aponta para o pano de fundo com o logotipo do Bad Religion: 29 músicas em 1h20 no gás

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Guile em fevereiro 7, 2014 às 14:14
    #1

    Que besteira esta frase: “do pouco inspirado ‘The Empire Strikes First’”. É um dos melhores discos do Bad Religion, é só perguntar para os fãs.

  2. Carlos em fevereiro 10, 2014 às 2:15
    #2

    Fato. O ‘The Empire Strikes First’” é maravilhoso! Um dos melhores da fase mais recente da banda.

  3. Arnilha em outubro 29, 2015 às 11:40
    #3

    Gosto é gosto, mas falar que o Empire Strikes First é pouco inspirado?!?! É o disco mais aclamado na nova fase da banda nos anos 2000 com o retorno do Brett e a entrada do Brooks.

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