Boa viagem
Livre, Macaco Bong apresenta a nova formação no Rio e deixa a impressão de que muita música boa ainda vai ser produzida pelo trio. Fotos: Léo Corrêa
Não que a tal formação tenha mudado tanto assim. É que Bruno Kayapy, o guitarrista ajoelhado, recebe no palco Gabriel Muzak – o outro guitarrista – e a cantora Marcela Vale, conhecida como Mahmundi, nessa verdadeira peça instrumental que parece ter sido desenvolvida ali mesmo, na hora, sem ensaio sem nada, tudo na intuição e no feeling. Antes, Muzak, que é dado a invencionices, participa de uma versão ultra pesada para “O Canto da Ema”, de Jackson do Pandeiro, que Bruno chamou de “sei lá music”. Totalmente instrumental e completamente diferente da original, jamais seria reconhecida se não fosse anunciada pelo título. A música mostra que o guitarrista, único remanescente da formação clássica do Macaco, está em grande forma e – o melhor – inspiradíssimo.
Nas primeiras músicas, porém, a impressão que se tem é que o Macaco passa a ser a carreira solo de Bruno Kayapy, e que Uchoa e Jaú atuam como coadjuvantes de luxo. Mas, a rigor, sempre foi assim. Se o quesito técnica e improvisação é dominado amplamente pelos cinco (no total), é de Kayapy o mérito de tocar guitarra de um modo criativo e extremante peculiar, em que pese as referências claras a guitarristas como Joe Satriani e a encarnação viva de Jimi Hendrix no processo. Ou seja, não é possível o Macaco Bong sem o guitarrista. Curiosamente, o grupo estreia essa nova fase no Rio quando a cidade tem, em três finais de semana, a Mostra Internacional de Rock Progressivo. Está certo que o Macaco não se limita ao termo, mas as longas músicas instrumentais, bem tocadas e cheias de mudanças de andamento certamente agradariam aos adeptos do gênero.A novidade do ponto de vista do novo trio está em “Black Marroca”, música lançada no final do ano passado e que aponta para o rock de guitarras pesado e pungente, comandado por riffs em cima de riffs. Ao vivo, a música cresce como se a guitarra de Kayapy se multiplicasse em várias outras, graças também a uma pegada diferente do batera Eder Uchoa, que aparentemente é muito mais conectado com o rock do que o seu antecessor. A música flerta com os bons tempos do stoner rock instrumental praticado pelo Karma to Burn lá atrás, na virada dos anos 90 para 00, e o até antão discreto baixista Igor Jaú também faz das suas, apontando uma coesão que certamente o trio deve explorar nesses novos tempos.
A música é conectada com outro tema instrumental que leva Kayapy a novos exercícios de solo, incluindo ecos, efeitos meticulosos via captação da guitarra, lap guitar sem mesa e até a operação dos controles do amplificador, resultando naquele final barulhento e sem volta que todos adoram. Uchôa, de pé, transforma a bateria em tambores, o que só aumenta o clima de desfecho da apresentação, marcada pela intuição musical, sempre escorada em boa técnica. Embora a quantidade de público seja reduzida, a vibração é grande e todos esperam por um bis, que - tava na cara – não vem, Um final como aquele não poderia mesmo ter continuação. E a impressão que fica quanto à nova formação do Macaco Bong, livre para voar, é a melhor possível. Certeza que muita coisa boa ainda vai sair dali.
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Man, você acertou demais em definir a nova fase do Macaco. O som desses caras é do caralho.