No Mundo do Rock

Criando texturas

Em novo álbum solo, o guitarrista do Barão Vermelho, Fernando Magalhães, mostra a veia de compositor em canções instrumentais. Fotos: Daryan Dornelles/ Divulgação.

Fernando Magalhães posa com uma das guitarras

Fernando Magalhães posa com uma das guitarras

Quando não está girando o Brasil com o Barão Vermelho, o guitarrista Fernando Magalhães passa o tempo tocando com os amigos. O que, na prática, significa quase a mesma coisa. Ou, por outra, ele pode compor com os amigos, e é assim chegamos ao recém lançado segundo álbum solo, “Rock It!” - o primeiro saiu em 2007. O disco não segue a linha rock blues do Barão: é todo instrumental. Nada, contudo que desande em virtuose desvairada, é um álbum de canções.

Fernando entrou no Barão em meio à crise detonada pela saída de Cazuza, que foi curtir grande sucesso como artista solo. Mas só se tornou integrante fixo, creditado como tal, a partir de 1990. De lá pra cá não largou mais a banda, e mesmo quando ela está em recesso, como agora, ele acaba tocando nos projetos solos dos Barões, como o do baixista Rodrigo Santos, ao lado de quem, na estrada, Fernando respondeu, via e-mail, umas perguntinhas básicas do Rock em Geral.

Mas vamos aos amigos e ao disco novo. Em “Rock It”, todas as músicas são assinadas por Fernando e o ex-baixista do Herva Doce, Roberto Lly, com quem ele já se aventurou a montar até uma gravadora. Também participaram das gravações o baterista do Blues Etílicos, Pedro Strasser; o tecladista Sergio Villarim (Bacamarte); Sergio Melo (bateria); o baterista do Kid Abelha, Kadu Menezes; Humberto Barros (teclados) e Mauricio Barros, tecladista do Barão. Praticamente um supergupo. Abaixo, Fernando fala do trabalho solo e dos convidados no disco, mas também de sua atividade no Barão:

Rock em Geral: Esse é o seu segundo disco solo, sendo que o primeiro é de 2007. Por que rolou esse intervalo de seis anos entre um e outro?

Fernando Magalhães: Fiz este disco em meio a muitos trabalhos paralelos. Não parei de fazer algo para gravar, só fui gravando em brechas. Comecei, mesmo, quando me bateu a vontade.

REG: Pela sua trajetória junto ao Barão Vermelho, uma carreira solo mais ligada ao rock e blues seria o mais óbvio. Como foi feita a opção por um trabalho instrumental?

Fernando: Sou roqueiro até a alma. Eu não me sinto seguro e à vontade para cantar, ainda. O (Luiz) Carlini, guitarrista do Tuti-Fruti, me falou: “Você não fez um disco instrumental, apenas não tem voz”. Ele quis dizer que o CD não tem esse perfil, as músicas são, na verdade, canções. Adoro guitarra, não sou um guitarrista do tipo “indo a um lugar que ninguém conseguir ir ainda”. Sou apenas um guitarrista, que gosta de compor riffs e criar texturas.

REG: A capa do disco e o texto de apresentação revela um tom dos tempos da adolescência, de descobrir o rock com os amigos. Há músicas dessa época ou elas foram compostas recentemente, mas com a inspiração nesse período?

Fernando: Neste disco todas as músicas são novas. Eu tinha a ideia da concepção, o que eu queria que o disco representasse e a capa veio. Falei com o Humberto Barros que entendeu na hora, afinal ele viveu isto também.

REG: Em geral temas instrumentais de guitarra ganham força quando a guitarra faz as vezes dos vocais, sobretudo em um refrão. Você se preocupa, digamos, com esse jeito de fazer música, na hora de compor?

Fernando: Me preocupo em soar bem e tentar fazer as coisas com bom gosto, pelo menos com o meu gosto. Me ligo em criar temas simples, nada tão complexo, mas que faça eu me sentir bem ouvindo.

REG: Como você dá título às músicas, já que elas não têm letras? É uma escolha aleatória ou o título tem a ver com a criação de cada canção?

Fernando: É meio abstrato, eu tento associar com alguma imagem que vi, ouvi ou já vivi. Tem certas músicas que nos induzem a achar um nome fácil, outras são dificílimas.

REG: Há agenda para fazer shows com essa turma e as músicas desse disco? Você acha que dá para trabalhar comercialmente, no Brasil, um repertório essencialmente instrumental?

Fernando: Tem um caminho a parte, como os festivais de blues, e até de jazz e blues. É um público que gosta de música de uma forma mais passional e eles são fiéis, quando gostam. Pretendo lançar e fazer shows, sim. Estou ensaiando para isso. Mas esse é um segmento que não tem retorno rápido, se é que ele existe. Aliás, está difícil ter retorno, mesmo com o pop/rock.

A capa do álbum remete à adolescência do músico

A capa do álbum remete à adolescência do músico

REG: Como rolou a parceria com o Roberto Lly e chamar os músicos que gravaram o disco?

Fernando: O Roberto Lly é meu conhecido desde a década de 80, mas ficamos amigos mesmo quando fui tocar com o Vinny. Ele foi o produtor dos discos do Vinny e nos identificamos na mesma hora em que tocamos. Da galera que tocou no disco, todos são todos meus amigos. Com uns já toquei e com outros ainda toco hoje em dia.

REG: Você e Lly tinham uma gravadora juntos. Em que pé anda esse trabalho? Quantos artistas/bandas foram lançados?

Fernando: Não temos mais. Foi a T-rec, pegamos o momento do “Armagedon” das gravadoras. Tudo estava engessado na indústria fonográfica. Lançamos umas cinco bandas, com muita dificuldade de fazer qualquer movimento.

REG: Você fez shows de abertura para o Joe Satriani. Conte como foi essa experiência, se teve contato com os músicos e como foi a reação do público:

Fernando: Tive pouco contato com eles. Tentei ser bem profissional e cumprir os horários e agenda. A recepção do público foi muito bacana, é uma plateia que está ali para ouvir música e não para levantar mão. Eles gostam de rock, são fiéis.

REG: Em que grupos você tocava antes de entrar para o Barão Vermelho?

Fernando: Entrei no Barão antes do “Declare Guerra” e toquei com uma banda punk chamada 402, que existiu por três meses. Chegamos a abrir para os Paralamas, nos primórdios do “Brock”.

REG: Em que grupos/com quem você costuma tocar quando o Barão não está na ativa?

Fernando: Toco direto com o Rodrigo Santos, baixista do Barão, que segue em carreira solo. Esse que é, aliás, muito bom, é um trabalho que adoro.

REG: Você é ligado mais ao rock, mas pegou uma fase do Barão vinha com músicas cheias de arranjos com violões, nos discos “Na Calada da Noite” e “Supermercados da Vida”. Foi difícil se adaptar ou fala mais alto o lado músico/profissional da coisa?

Fernando: Sou roqueiro, mas nunca fui xiita. Gosto de outras coisas, o Barão sempre foi uma banda que flertou com vários tipos de música, como salsa, mpb, samba, tem de tudo ali. Sempre aprendi a tocar e curtir coisas diferentes com o Barão.

REG: Não há muitas composições de sua autoria junto com o Barão. Isso acontece porque o Frejat acaba centralizando os trabalhos ou você é que, no caso do Barão, se considera melhor como intérprete do que como autor?

Fernando: Não tenho hábito de compor sempre, componho quando tenho vontade e algo para dizer. No Barão, você pode levar quantas músicas você quiser, se elas forem as que mais agradam a todos, trabalhamos elas.

REG: A mais conhecida delas é “Pedra, Flor e Espinho”, conte como essa música foi feita:

Fernando: Fiz com o Frejat, num hotel no sul do Brasil. Ele tinha a letra da Dulce (Quental) e eu um riff. Ele juntou tudo, acrescentou várias coisas lindas e a música estava pronta. Assim também foi com “Meus Bons Amigos”, que é minha, do Guto (Goffi, baterista) e do Mauricio (Barros, tecladista).

REG: Nos shows você deve incluir músicas do Barão também, certo?

Fernando: Nunca fiz Barão, mas nada impede de ter algo no futuro.

Fernando reuniu amigos para gravar as faixas instrumentais de seu segundo álbum solo, 'Rock It!'

Fernando reuniu amigos para gravar as faixas instrumentais de seu segundo álbum solo, 'Rock It!'

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. michelle mello em janeiro 1, 2014 às 14:42
    #1

    Tive o privilégio de vê-lo e ouvi-lo tocar neste final de ano e fiquei boquiaberta com a performance do Fernando, um dos melhores guitarristas do Brasil. E tudo isso na maior doçuura e humildade! Um verdadeiro presente de ano novo! Merece da crítica os elogios que vem recebendo. É o cara!

  2. Thelma em janeiro 16, 2014 às 15:36
    #2

    Onde posso comprar o CD no Rio? Obrigada.

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