Som na Caixa

Diablo Motor
Diablo Motor

(Monstro)

diablomotorcdAcontece de tempos em tempos. Quando se questiona o poder de renovação do rock, eis que ele ressurge do nada. Ou quase isso, já que o Diablo Motor está na estrada já há uns cinco anos, o que parece ter revestido o quarteto da maturidade necessária para o lançamento desse disco de estreia, um bem acabado tributo ao rock de todas as épocas, traduzido para os nossos dias e locais. Cantado em português, o disco tem o dedo do cascudo Iuri Freiberger (Plebe Rude + trocentas bandas de 1990 para cá) na produção e foi masterizado por um tal Don Grossinger (Rage Against The Machine, Flaming Lips), em Nova York. E traz um encarte/pôster com arte malucona que só engrandece o chamado conjunto da obra.

Mas não é por isso que o disco se salienta como um dos melhores desse ano. Primeiro, porque é um disco de rock, com todas as referências que se fazem necessárias ao gênero, incluindo um pé nos anos 70, peso, riffs, guitarras bem sacadas e sem desvarios virtuosísticos. Depois, o mais importante: é repleto de boas músicas. “Não Quero Te Entender”, por exemplo, é um hit nato em letra e música, com os riffs e um refrão que gruda logo de cara. A gravação destaca os vocais de Rafael Sales o bastante para o sujeito querer recomeçar a audição justamente por essa faixa, perdida lá pelo meio do CD. E isso sem fazer pouco caso da parte instrumental, cujo peso é alternado por um inusitado silêncio na meiúca. O tipo de música para estourar em FMs, caso elas ainda tivessem relevância.

As histórias contadas pelo grupo, que é do Recife, giram em torno de uma juventude desregrada cuja identificação com a sonoridade é imediata, óbvia até. Mas pense bem: para que ficar procurando chifre em cabeça de cavalo? É na simplicidade que o rock se encontra, e um AC/DC (citado nominalmente em “Meio Blues”) aqui, um MC5 acolá, sejamos francos, nunca é demais. O disco não tem pena de ser pesado e, ao mesmo tempo, não traz exageros típicos de iniciantes. Por isso “Sem Moderação”, a faixa de abertura, é música chave para se entender o DM. Uma porrada seca, certeira, que carrega uma ode à intensidade inerente ao rock e finca logo de início a bandeira do grupo em terra desconhecida. E como se decretasse, sem dó: de agora em diante, é rock.

Impossível não enxergar no Diablo Motor, ainda, uma identificação com bandas que, lá fora, têm renovado o rock de raiz e criando um novo conceito para o termo classic rock, como o Rival Sons, e, sobretudo o Airbourne. Não mais uma coisa ultrapassada e revivalista, o gênero ganha o frescor dos nossos tempos e os caras do Diablo sabem disso. Mas não se pode negar, tampouco, que o grupo segue, deliberadamente ou não, a pista deixada por bandas intramuros como o Black Drawing Chalks (e antes, Mechanics e MQN), que ganhou o Brasil nos últimos tempos com a visceralidade de um rock pesado e garageiro. Só que o Diablo consegue traduzir tudo para um entorno mais pop/cativante, o que contribui sobremaneira as letras em português. Não por acaso o disco tem a chancela da Monstro, selo goiano sempre de olho nesse ramo do rock nacional.

As 10 músicas do álbum trazem participações de vários músicos da cena local, que remetem a bandas como Volver, Terra Prima e AMP, entre outras. Uma delas é “Silly Little Game”, única com letra em inglês, mas não menos colante, com os vocais de Johnny Hooker. Outra que se destaca pelo fator grude e tem como plus um belo solo do guitarrista Filipe Cabral é “Al Dente”, que faz dobradinha com a densa “Garota Fogo”. Mas, para um disco que começa “acordando em outro lugar”, a mensagem que fica pode ser resumida no título/verso repetido no final da ótima “Não Pare”, que encerra o disco e deixaria Malcolm Young orgulhoso. Não é para parar mesmo.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. gustavo cunha em dezembro 17, 2013 às 18:23
    #1

    Belo texto Bragatto, salve o Diablo Motor!

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