O Homem Baile

Vencedor

Beck visita tantos gêneros musicais no show do Planeta Terra que não consegue alinhavar proposta consistente. Fotos: Fabrício Vianna/Popload.

Beck, sob a aura de um dos músicos mais influentes e ecléticos de sua geração: vencedor ou perdedor?

Beck, sob a aura de um dos músicos mais influentes e ecléticos de sua geração: vencedor ou perdedor?

Embora tenha feito sucesso – e seja reconhecido ate hoje – pela baladinha indie “Loser”, que lhe empresta a alcunha de “fracassado”, Beck é um vencedor. Do tipo que faz do apelido ruim uma marca registrada e se dá bem com ela. Mas ele é vencedor porque consegue sobrevida sem nunca ter chegado à conclusão do que deseja realmente fazer. Assim, atira para todos os lados há anos e permanece na ativa. Foi mais ou menos isso que ele mostrou no bom show de ontem (9/11), no encerramento do palco secundário do Planeta Terra.

Mas - alto lá - de bobo Beck não tem nada e trouxe ao Brasil – pela primeira vez em São Paulo, dá para acreditar? – uma bandaça capaz de derrubar todas as fronteiras em nome do jeito Beck de ser. Bandaça não em quantidade – é ele mais quatro loucões -, mas na capacidade de encarar qualquer desafio imposto pelo chefe, que muitas vezes parece ir decidindo as coisas ali na hora mesmo. Mas, não é assim, não. Tudo é muito bem ensaiadinho, mesmo os trechos em que Beck inventa, improvisa e vem com uma maluquice ou outra, como por exemplo se fazer de bravo, sair do palco e, místico, voltar com um manto purpurinado para fazer todos “enlouquecer”. Ou imitar mal e porcamente, de propósito, os passos que deram fama à Michael Jackson, na boa e engraçada cover para “Billie Jean”. Ou - e ainda tem mais essa - fazer o público dançar no ritmo dos passinhos de um baile charm, no final, em “Where It’s At”.

Beck com camisa de quadradinhos e o terninho que ameaçou tirar na performance de 'Billie Jean'

Beck com camisa de quadradinhos e o terninho que ameaçou tirar na performance de 'Billie Jean'

Se a imprevisibilidade e esse relativo ecletismo é o que há de melhor em Beck, artista e performer, pode ser também o que há de pior. Porque não há como passar incólume por uma dobradinha de músicas inspiradas na fase country blues do Led Zeppelin e depois desaguar num baticum dos diabos, só para que isso realce como versatilidade ou ecletismo do mal. Ou ver cair no colo, do nada, uma versão para “Tainted Love”, que ganhou fama com o Soft Cell. Soa, isso, sim, como anti-virtuose gratuita, justamente vinda de um sujeito símbolo do “menos é mais”. Metafísico, Beck diz odiar solos, mas vai fazer um em sua guitarra surrada para captar a energia de todos os lugares de uma vez só. Tudo bobagem, assim como a citação do guitarrista a um trecho de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Não por acaso Beck tem se saído melhor como produtor do que como cantor/compositor. Deve ser um cara incrível para acrescentar ideias realmente diferentes para qualquer artista que esteja em busca de formatar determinado tipo de música. Mas carreira musical, se é caldeirão de experiências para sempre, não chega a lugar algum, e aí é que se vê o porquê de Beck andar, andar e não sair do mesmo lugar. Todos gostam, a crônica elogia, mas para onde aponta? O que de novo pode trazer para a música? Muito pouco além de diversão truncada e do reconhecimento por ser eclético, inovador e criativo. Tá bom, né? E, a bem da verdade, não deixa de ser um show divertido, mas, seguramente, dos mais esquecíveis. Muito pouco para o nosso “winner”.

Set list completo (a conferir):

1- Devil’s Haircut
2- Novacane
3- Loser
4- One Foot in the Grave
5- Black Tambourine
6- Soul of a Man
7- Modern Guilt
8- Tainted Love
9- Get Real Paid
10- Hotwax
11- Qué Onda Güero
12- Debra
13- Gamma Ray
14- Girl
15- Soldier Jane
16- The Golden Age
17- Lost Cause
18- Billie Jean
18- E-Pro
20- Where It’s At

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