O Homem Baile

Sem rusgas

Blur volta ao Brasil maduro e, com repertório do tipo “classic rock”, acerta as contas com o passado e com o público no Planeta Terra. Foto: Fabrício Vianna/Popload.

Ninguém segura: imparável e mais experiente, hoje o vocalista Damon Albarn é um frontman dos bons

Ninguém segura: imparável e mais experiente, hoje o vocalista Damon Albarn é um frontman dos bons

Havia uma dívida a ser saldada de parte a parte. Desde 1999, quando o Blur esteve no Brasil pela primeira vez, uma dúvida: por que praticamente ninguém foi vê-los nos shows do eixão Rio-São Paulo? E, de outro lado, por que os gatos pingados que estiveram na beirada do palco, naqueles shows, viram uma banda blasé e com mais marra que o habitual? Questões que ficaram para trás no primeiro acorde da dançante “Girls & Boys”, a primeira do show que o grupo fez ontem (9/10) no encerramento do Planeta Terra, para, segundo a organização, uma multidão de 27 mil pessoas. É ou não é um belo motivo para se esquecer as rusgas do passado?

Primeiro, que a banda que tocou ontem no Campo de Marte não é mais a de quatro garotos mimados do lado B do britpop (o A é o Oasis), mas sim um quarteto experiente que já pode ser chamado de classic rock, afinal estávamos diante de uma turnê de reunião com um repertório recheado de sucessos. Transborda experiência e presença de palco no vocalista Damon Albarn, convertido de menino emburrado em frontman dos bons. E, depois, que o Brasil deu a sorte de ver o show completo, com a adição dos backing vocals e de um eventual naipe de metais que transforma o Blur em uma inesperada super banda. Você pode até achar que bastam 17 hits, mas, no fundo, no fundo, os novos (pero no mucho) arranjos fazem, sim, diferença.

Outra cabeça pensante no Blur, o guitarrista Graham Coxon não amarelou ante ao naipe de metais

Outra cabeça pensante no Blur, o guitarrista Graham Coxon não amarelou ante ao naipe de metais

Se vê que uma banda está na ponta dos cascos ao vivo quando as músicas ganham um punch que faz a gravação original, do disco, parecer cantiga de ninar. Por exemplo, “There’s No Other Way”, apesar de ser um single de sucesso do Blur, nunca foi essa coca-cola toda. No show, ganha peso inesperado turbinado pela entrega de Albarn e com a participação do público de arrebatar o mais cético dos críticos do britpop de segunda do grupo. A coisa só não foi melhor, num início matador, porque “Popscene”, que seria tocada entre ela e “Girls & Boys” foi inexplicavelmente omitida do set list previamente distribuído pela produção. Mas pode contar que ali no meio do saltitante gargarejo ninguém se deu conta disso.

Também, pudera. Teve “Parklife”, com a participação do ator Phil Daniels, revivendo o clipe original da música; teve a discreta “Trimm Trab” – aquela do megafone que em 99 caiu mal - ganhando um final à Sonic Youth repleto de guitarras distorcidas; “Tender”, atendendo ao chamado dos cartazes com a expressão “Oh, baby”, que por pouco não se transforma numa espécie de “Hey Jude” de arranjo gospel do britpop; e ainda o imparável Damon Albarn descendo na grade para cantar boa parta de “Country House” com três seguranças o mantendo erguido pela bunda. O vocalista ainda fez a alegria de um dos patrocinadores ao colocar um exemplar dos óculos cedido pelo público, que era fartamente distribuído no Campo de Marte. Coisas de festivais modernos e suas mil e uma marcas de apoio.

A consagração final do Blur com o público enlouquecido com um dos melhores shows do Planeta Terra

A consagração final do Blur com o público enlouquecido com um dos melhores shows do Planeta Terra

A mão pesada do baterista Dave Rowntree também contribui para a pegada do show, mas, olhando bem, o guitarrista Graham Coxon é quem segura bem a onda, ao não se omitir ante aos arranjos de metais/vocais que por vezes tendem a ofuscá-lo. Em “Out Of Time” ele cumpre bem essa função, e na boa “Beetlebum” mostra, ao final, com belas evoluções, que também não está para brincadeiras. No bis, “For Tomorrow” ganha um élan de peça épica que bem poderia resumir o espírito desse formato de show de reunião do Blur. Mas o que vai ficar da cabeça de todos que circularam pelo arrumadinho Campo de Marte é o encerramento enlouquecido com a “Melo do Urrúl”, de novo com Phil Daniels. Já que eles não conseguiram um bom título para esse hit vocacional, demos um jeitinho à brasileira. Era o final de um dos melhores shows do Planeta Terra, quiçá do ano.

Set list completo:

1- Girls & Boys
2- There’s No Other Way
3- Beetlebum
4- Out of Time
5- Trimm Trabb
6- Caramel
7- Coffee & TV
8- Tender
9- To the End
10- Country House
11- Parklife
12- End of a Century
13- This Is a Low
Bis
14- Under the Westway
15- For Tomorrow
16- The Universal
17- Song 2

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