O Homem Baile

Salve simpatia

Estreando no Rio, Anvil cumpre o papel de banda de pequeno porte e, com carisma, faz a alegria dos fãs “das antigas”. Foto: Daniel Croce.

O carisma do guitarrista/vocalista Steve 'Lips' Kudlow conquistou o público carioca no sábado

O carisma do guitarrista/vocalista Steve 'Lips' Kudlow conquistou o público carioca no sábado

Parecia uma tardia passagem de som, mas quando o vocalista/guitarrista Steve “Lips” começou a flertar com o público como se seu sorriso assustado viesse da própria guitarra era sinal de que o show começava. E com a instrumental “March Of Crabs”; pense bem, qual é a banda que inicia uma apresentação com uma música instrumental? Era a deixa de que matinê do Anvil, no sábado, no Teatro Odisséia, no Rio, valeria à pena. Não se teria ali mais um dos shows do ano que a crônica aponta a cada final de semana, nada de “épico” ou “histórico”, mas apenas mais uma banda “das antigas” tocando para o público do seu tamanho e tirando o atraso de décadas. Poderia ser sempre assim.

O melhor do show, antes de qualquer riff, é perceber que o trio está amarradão no palco, tocando todas as músicas com uma felicidade sem par. “Puta merda! Estamos na porra do Rio pela primeira vez”, vibra Lips, antes de mandar “Badass Rock’n’roll”, uma das novas da banda, inspirada no AC/DC, para dizer o mínimo. A facilidade que o guitarrista tem em interagir com a plateia é notável, mesmo com a boca fechada. É o que ajuda a costurar, de certa forma, um repertório mal engendrado, cheio de altos e baixos que não chega a ter grandes sequências, entre as músicas no novo álbum, “Hope In Hell” – foram quatro – e as canções antigas, mais familiares à plateia.

O baixista Sal Italiano, o baterista Robb 'Robbo' Reiner e Steve 'Lips' detonando do Teatro Oddiséia

O baixista Sal Italiano, o baterista Robb 'Robbo' Reiner e Steve 'Lips' detonando do Teatro Oddiséia

O ponto alto do entardecer é em “Mothra”, quando, entre solos, evoluções de guitarra e show do batera “Robbo” Reiner, Lips saca um vibrador do bolso para tocar a guitarra – recurso já tradicional para o trio, diga-se. O guitarrista ainda usa o captador da guitarra como microfone, fanfarronice aprovada pelo ralo público que se esbalda num cantarolante grito der torcida. “Thumb Hag” vem coladinha e revela outra incrível semelhança, dessa vez com o Black Sabbath. Não à toa, a música é dedica a Ronnie James Dio, o vocalista substituto de Ozzy. A trinca de decalques é completada com “Through With You”, outra das novas, cuja estrutura, riff o modo como é cantada vem diretamente de “Smoke On The Water”, o clássico do Deep Purple que até a sua avó reconhece em dois tempos.

A despeito de semelhanças de parte a parte, ao tocar “This Is Thirteen”, a música tema do documentário que trouxe de volta os holofotes ao esquecido Anvil, Lips, em tom de brincadeira, reclama de o novo álbum do Black Sabbath também se chamar “13”. “Não tem problema, nós também já pegamos muita coisa do Sabbath”, disse o vocalista, e ele fala sério. Outro bom momento do show é em “Swing Thing”, praticamente uma jam session que abre caminho para um belo solo de “Robbo”. E é justamente numa instrumental à “YYZ”, do compatriota Rush – olha o decalque aí de novo – que o público mais participa, muito por causa do carisma de Lips. Isso sem falar no bis, quando a pesada e arrastada “Forged In Fire” faz a alegria dos braços erguidos. A essa altura, o trio já usava camisas da seleção canarinho com os próprios nomes gravados às costas. Copacabana ficou pequena para esses canadenses tardios.

Lips já no bis, vestindo uma camisa da seleção brasileira: empatia garantida com o público carioca

Lips já no bis, vestindo uma camisa da seleção brasileira: empatia garantida com o público carioca

Na abertura, o Statik Majik fez um show corrido, realçando a boa estrutura de produção do trio. Antes ligado ao stoner, a banda absorve cada vez mais referências de outros subgêneros do metal, enriquecendo o repertório e mesmo a composição de novas músicas. Destaque para a curiosa versão de “Sabbath Bloody Sabbath”, com muitas inflexões diferentes da original. Só resta saber o porquê de a banda, com tempo exíguo para tocar, ter preferido omitir mais uma do bom repertório próprio.

Set list completo Anvil:

1- March of the Crabs
2- 666
3- School Love
4- Badass Rock ‘n’ Roll
5- Winged Assassins
6- On Fire
7- This Is Thirteen
8- Mothra
9- Thumb Hang
10- Through With You
11- Swing Thing
12- Hope in Hell
13- Eat Your Words
14- Metal on Metal
Bis
15- Forged In Fire
16- Running

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