Tijolada vespertina
Na tarde do sabadão nu-metal no Monsters Of Rock, também brilharam três bandas que renovam o som pesado contemporâneo. Fotos Divulgação XYZ: Stephen Solon.
“Vocês são foda!”, ele gritou em bom português, prenunciando o caos em que se transformaria o festival, sob um sol de rachar capacete. Na ótima “In Ashes They Shall Reap”, o verso/refrão “Born to bleed/fighting to succeed” logo virou um mantra from hell gritado a plenos pulmões com uma bela multidão de braços erguidos que pareciam ensaiados. Do disco novo, “The Divinity Of Purpose”, lançado no início do ano, duas músicas: “Honor Never Dies”, mais cadenciada e recheada de solos; e “Dead Men Breathing”, com riffs de guitarra de fazer inveja ao Slayer em início de carreira. Repita-se que guitarrista Wayne Lozinak nunca esteve tão próximo do metal como agora, o que garante um peso renovado ao grupo.
O “plus a mais” se deu na participação do guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, numa versão ultra pesada (mais sem o groove da dura bateria) para “Refuse/Resist”. “Há tempos, numa outra fase da nossa carreira, uma banda nos deu muitas oportunidades, essa banda é o Sepultura”, disse o agradecido Jasta, levando o público à loucura mesmo antes de a música começar a ser tocada. O desfecho, com a dobradinha “I Will Be Heard”/“Destroy Everything” matou a pau, deflagrando o maior coletivo de rodas de pogo que o Monsters viu este ano. E não eram nem cinco da tarde na fornalha de concreto em que se transformou a Arena Anhembi.
Quem apostou no Killswitch Engage como o grande show durante a tarde de sábado quebrou a cara. Não que a banda tenha se apresentado mal, mas não conseguiu superar algumas questões circunstanciais. A principal é a volta do vocalista Jesse Leach, que não supre a ausência de Howard Jones, com o qual o KE obteve sua melhor fase. A outra é que o grupo executa versões muito enxutas das músicas – foram 14 em uma hora, faça a conta -, num estilo cujo improviso instrumental e pesado é quase obrigatório. E, por último, uma infeliz qualidade de som deixou o quinteto a ver navios várias vezes, com bruscas oscilações de volume pegando o público de supetão a toda hora.Os melhores momentos acontecem quando os guitarristas Adam Dutkiewicz e Joel Stroetzel embarcam num transe melódico em duelos de tirar o chapéu. É o que acontece em “Vide Infra”, “The New Awekening” e “A Tribute to The Falen”, as duas últimas do novo álbum, “Disarm The Descent”, de onde saíram outras quatro músicas, incluindo “You Don’t Bleed For Me”, segundo Leach, tocada pela primeira vez. Outros bons momentos acontecem quando Jesse Leach combina bem os vocais limpos – e afinados, diga-se – com os gritados, outra façanha desse novo metal made in USA. É o caso de “Reckoning” e de “The Hell in Me”, quando o som, enfim, sai alto e poderoso das caixas.
Jesse Leach foi aplaudido antes de “My Last Serenade”, ao falar das manifestações que acontecem no Brasil de junho para cá. “Estou vendo o que está acontecendo no Brasil, pessoas nas suas, o poder para o povo. Nos Estados Unidos não é assim”, disse o vocalista, desencadeando um bater de cabeça numeroso, já que a música é mais cadenciada e menos veloz. Outros destaques foram “Rose Of Sharyn”, que o público adora, e o hit “The End Of Heartache”, bem mais pesado ao ser tocado ao vivo. A nota ruim vai para o guitarrista Adam Dutkiewicz, cujo modo escalafobético de agitar em nada contribui para o tipo de som que ele e a banda produzem. No fim das contas, até que foi um bom show.
Mais cedo, o francês Gojira também enfrentou problemas com o som, mas não se intimidou. Uma pena que início tem sido logo com a boa “Explosia”, a bela peça do metal extremo que abre o disco mais recente, “L’Enfant Sauvage”. Outra música desse disco que se destacou no repertório foi “The Axe”, com um trabalhado trecho instrumental no meio. Diferentemente do Killswitch, o Gojira estica o que pode, enfatizando um peso dramático que lhe é bem peculiar. O simpático vocalista/guitarrista Joe Duplantier fez de tudo para se comunicar com o público e citou o Sepultura como principal referência do grupo, como o irmão dele, o baterista Mario Duplantier, nos antecipara nessa entrevista exclusiva. O show foi curto, mas deu para o grupo tocar uma das músicas que tiveram mais intensidade no festival, a climática “Love”, um verdadeiro massacre lento, arrastado e super pesado. Esse merece voltar ao País numa turnê solo.Na abertura, o brasileiro Project 46, apesar do nome, canta em português e teve 40 minutos para mostrar um metalcore de primeira, pesado e gritado como deve ser. O enfezado vocalista Caio MacBeserra não se cansou de gritar e xingar o público o tempo todo, conseguindo a façanha de colocar todo mundo para pular num calorão dos infernos. Na maior parte do tempo com vocais gritados, o grupo sofreu com as oscilações do som, mesmo porque abria o festival. No final, depois de tanto fazer cara de mau, Caio (e a banda) puxaram, na última música, um corinho de fazer inveja ao de “Fear Of The Dark”, do Iron Maiden. Tá calminho agora?
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