No Mundo do Rock

Cineastas do metal

Baixista conta como o Metallica se aventurou em produzir um filme em 3D a partir de um show do grupo. Fotos: Divulgação.

Kirk Hammett e James Hetfield acompanham o set de filmagem junto diretor, ator e produtores do filme

Kirk Hammett e James Hetfield acompanham o set de filmagem junto diretor, ator e produtores do filme

O dia estava cheio. Assistir em primeira mão ao novo filme do Metallica, “Metallica Through The Never”; partir para a Cidade do Rock e prosseguir com a cobertura do Rock In Rio; deixar de ver os shows de Sepultura, Ghost e – principalmente – Rob Zombie para entrevistar o baixista Robert Trujillo; e voltar para a Cidade do Rock a tempo de finalizar o dia 19 com Alice In Chains e – claro – Metallica. O chefe do departamento pessoal que por ventura anotasse os centros de custo correspondentes debitaria seguramente mais de oito horas de trabalho deste que vos escreve na conta desse monstro chamado Metallica.

Mas vale à pena porque arrancamos informações de Trujillo, o último na linha sucessória, sobre o filme “Metallica Through The Never”, rodado em 3D, que estreia no Brasil nesta semana (veja resenha e detalhes do filme aqui). Antes, não deu pra segurar uma perguntinha só sobre o show que aconteceria naquela noite, mas o que importa agora é que, depois de ler essa entrevista, você que gosta do Metallica vai aos cinemas com muito mais informação. É jogo rápido, mas é o que temos no cardápio. Aproveite:

Rock em Geral: É serio que vocês estão chegando agora, direto da Europa?

Robert Trujillo: Eu nem lembro onde estivemos. Voamos para a Califórnia, onde tivemos alguns festivais de cinema e estávamos em um festival na noite de ontem. Antes, começamos essa turnê em Moscou, estivemos dois dias em Berlim, e antes em Toronto (no Canadá). Foram cinco dias de muita coisa para fazer. Tem sido séria essa turnê de divulgação do filme. E aqui estamos no Rio para tocar nesse grande festival (a entrevista foi feita cerca de três horas antes do show do Rock In Rio).

REG: Deixa eu perguntar de uma vez: vocês vão tocar a íntegra do “Black Album” hoje? É o papo que tá rolando por aqui…

Trujillo: Espero que não, não ensaiamos nada…

REG: Ah, mas vocês sabem tocar…

Trujillo: Não, fizemos isso uma única vez na Europa e outra nos Estados Unidos e foi muito bom. Eu adoraria poder tocar o disco todo hoje, porque é muito divertido.

REG: Falando do filme, como a história de fazer um longa com o Metallica surgiu primeiro?

Trujillo: Foi há 15 anos, quando o Metallica se aproximou da IMAX filmes. Nessa época a empresa era só de filmes sobre natureza, explorações, e basicamente não funcionou. Na época, especialmente no que se referia à tecnologia 3D, as câmeras e os equipamentos eram muito grandes, pesados e caro para bancar. Logo que eu fui testado para a banda, em 2003, tivemos um encontro com os produtores sobre o filme 3D e todas as possibilidades e viu-se que poderia funcionar. Então três ou quatro anos depois, nossos empresários colocaram a ideia de novo, porque a tecnologia já tinha avançado, era viável fazer um show em 3D e a banda sacou que era uma boa. Então começou a construção do palco, que levou um ano e meio para ficar pronto. E finalmente teve a decisão de gravar em negativo para coexistir com as imagens do show. E tínhamos que achar um diretor que topasse isso. Então fechamos com o Nimród Antal (“Predadores”), que é um cara maluco por topar fazer isso conosco.

REG: Como ele apareceu?

Trujillo: Tínhamos uma produtora chamada Charlotte Huggins. Começamos a procurar por diretores em entrevistas e com o Lars (Ulrich, baterista), porque ele conhecia algumas pessoas, tem muito amigos na indústria do cinema. A maioria dos diretores não se mostrava interessada porque eles não entendiam como poderiam trabalhar com negativo como formato 3D. Mas a essa altura o palco estava construído, as músicas quase todas escolhidas, então o diretor tinha que começar a trabalhar a partir daí, para se encaixar no projeto.

O baixista Robert Trujillo em cena do filme: típica coreografia utilizadas nos shows do Metallica

O baixista Robert Trujillo em cena do filme: típica coreografia utilizadas nos shows do Metallica

REG: Por que vocês decidiram não fazer um documentário? Falei com as caras que fizeram o filme do Rush (“Beyond The Lighted Stage”) e o do Iron Maiden (“Flight 666”), Sam Dunn e Scot McFadyen, e eles disseram que estavam interessados em fazer algo parecido com o Metallica…

Trujillo: Sim, o Sun Dunn é um grande amigo meu. Faz um tempo que ele falou conosco, com o Lars, sobre a ideia e eu acho que esses caras são incríveis documentaristas. Eles são especializados em documentários, e faz tempo que fizemos o “Some Kind Of Monster”, que é mais que um documentário, no fim das contas é uma história sobre relacionamentos. Não tem muito a ver com música, é sobre relacionamentos. Talvez a conversa não tenha evoluído porque o ideia do filme em 3D já existia nesse período.

REG: Como vocês participaram do roteiro de “Metallica Through The Never”? Escrevendo, aprovando os textos…

Trujillo: Quando o Nimród foi escolhido, voltamos à história que se desenrola em torno do personagem Trip, que é o personagem principal do filme. Trip é um uma espécie de “runner”, um cara que segue a banda por onde ela vá. É um fã do Metallica e vai no show e enfrenta todo o tipo de dificuldades, barreiras, maldades ou qualquer coisa que você queira chamar. E, para mim, é um universo real que existe por trás de um show de arenas ou estádio, você nunca sabe de verdade o que é real ou o que é um pesadelo ou alucinação. O Nimród veio com isso e nós basicamente incrementamos, adicionamos coisas ao personagem, que seria impossível para qualquer diretor fazer um personagem desses sem nos consultar, sem o Metallica estar envolvido. Então tem muita coisa no filme que nós pusemos.

REG: Quando você diz o Metallica envolvido, você se refere a vocês quatro? Há quem se envolva mais que os demais?

Trujillo: Sim, nós quatro. O Lars é o cara que conhecia a maioria dos diretores e ainda é um apaixonado por cinema. Eu gosto de cinema também, mas ele gosta mais e foi mais criativamente influente no processo. Mas a criação da história de “Through the Never” foi coletiva. E o Nimród era o cara certo, receptivo a sugestões. Por exemplo, originalmente o personagem principal tinha uma bicicleta, e eu disse: “Runners” não usam bicicletas, “runners” têm veículos. Então arrumamos uma van para ele. Foi com coisas assim que contribuímos e ele topou. Tudo sobre a história, o visual, a dinâmica, o filme com o show, o palco, tudo foi cuidado por Nimród com a nossa participação.

REG: Há poucos dias vocês tocaram na China e parece que um novo documentário deve surgir lá…

Trujillo: Alguns diretores chineses fizeram registros e devem colaborar com o Metallica, para estreitar as relações com o pessoal de lá. A música é universal, fizemos grandes shows na China, foi a nossa primeira vez e pretendemos voltar mais vezes. As pessoas na China estão receptivas a novas experiências na música, por isso fizemos dois grandes shows. Sentimos a eletricidade e a energia do público, como se estivéssemos descobrindo algo novo. Vamos ver no que isso vai dar, estamos animados, voltaremos logo a tocar lá.

REG: Um jornal brasileiro dá como certo um show do Metallica aqui em dezembro ou janeiro, em São Paulo (saiba mais)…

Trujillo: Acabei de falar isso com o Paulo e o Andreas (baixista e guitarrista do Sepultura, respectivamente), vai ver eles estão com uma agencia de shows (risos). Não posso confirmar isso, você sabe de algo que eu não sei. E, agora, estamos concentrados no filme e todos shows e as outras coisas estão de lado.

O personagem Trip com a bandana no rosto na qual aparece o Metallica tocando ao vivo em cena do filme

O personagem Trip com a bandana no rosto na qual aparece o Metallica tocando ao vivo em cena do filme

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