O sujeito que assinou o contrato representando o Helloween para o show do Palco Sunset no Rock In Rio não deve ter lido direito todas as cláusulas. Ao menos não leu a que reza que o show deveria ser especial com a participação de Kai Hansen. Só isso explica o porquê de o guitarrista, fundador da banda e um dos alicerces do heavy metal melódico, só ter tocado três músicas no final do show. Ora, se é um palco de encontros, imagine Hansen tocando e cantando só músicas dos três primeiros discos do Helloween, nos quais participou ativamente? Ou seja, fracassou outra vez a tese do show de “encontros especiais” do Palco Sunset. Uma pena.

O que não quer dizer que o show do Helloween tenha sido um fiasco, longe disso. Mesmo porque seria muito difícil isso acontecer, por vários motivos: a) Com um repertório enorme, cheio de hits, é fácil escolher uma dúzia; b) Público completamente na mão e a fim de curtir; c) Muitos do interior do País e que nunca viram a banda ao vivo; d) Em dia de metal todos chegam cedo e a área no entorno já estava lotada; e e) Todas as alternativas anteriores. Para completar, o vocalista Andi Deris, até hoje questionado no meio, estava em uma tarde inspirada, todo bem humorado, sobretudo na hora de dividir o público em “blocos vocais”. Chegou a soltar um “calem a boca agora, seus filhos da puta!”, aumentando a diversão.

Quase metade das músicas tocadas em uma hora redonda foi, honra seja feita, retirada da fase de ouro da banda, a dos álbuns “Keeper Of The Seven Keys”, I e II, o que por si só já é garantia de uma boa tarde de heavy metal. A abertura, com “Eagle Fly Free”, classicaço dos bons, já fazia a diversão do público, o maior da tarde no Palco Sunset até então. Mas a surpresa entre as músicas da tal fase de ouro foi “I’m Alive”, nem sempre incluída nos shows. A atual formação da banda – que já mudou trocentas vezes – manda muito bem nas músicas antigas, em que pese a dupla fundadora Michael Weikath, na guitarra, e o baixista Markus Grosskopf segurar a onda de Deris, cuja voz, por vezes muito rouca (cansada?) não convence em trechos de alcance mais alto. Não é por acaso que ele permanece na banda já há 20 anos.

Das músicas gravadas nesse período, as grudentas “Power” e “If I Could Fly”, de refrões inesquecíveis, circularam com grande repercussão cantarolante entre o público. Mas o ponto alto foi mesmo a entrada de Hansen para a trinca final com “Dr. Stein”/”Future World”/”I Want Out”. Não só por conta da lenda viva Kai Hansen esbanjando energia no palco, mas porque as músicas, tocadas ao vivo por três guitarras, representam o supra-sumo no heavy melódico em todas as épocas. E os três somados ao baixista Grossskopf na beirada do palco em coreografia ensaiada é algo lindo de se ver. Uma bela conclusão de um show que, se não foi o esperado, tampouco deixou a desejar. O que o Helloween fica devendo agora é um show completo no Rio, o que já não acontece há um tempão.

Set list completo:

1- Eagle Fly Free
2- Where the Sinners Go
3- Waiting for the Thunder
4- I’m Alive
5- Live Now!
6- If I Could Fly
7- Power
8- Are You Metal?
9- Dr. Stein
10- Future World
11- I Want Out

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