O Homem Baile

Abalado

Em show travado, mas ainda assim agressivo, Slayer homenageia passagem do guitarrista e alavanca múltiplas rodas de pogo no Rock In Rio. Fotos: Léo Corrêa.

O baixista e vocalista Tom Araya, meio paradão, com o mundo pintado de vermelho do Slayer ao fundo

O baixista e vocalista Tom Araya, meio paradão, com o mundo pintado de vermelho do Slayer ao fundo

Recebido com ampla expectativa apesar de escalado cedo demais na segunda noite dedicada ao heavy metal no Rock In Rio, no domingo, dia 22, o Slayer parecia travado. Não que o grupo tenha feio uma apresentação ruim ou menos agressiva, sonoramente falando, do que em outras oportunidades, mas a imagem de um Tom Araya paradão diante do microfone resume um show que soou quase protocolar. Talvez seja a recente morte do guitarrista Jeff Hanneman (detalhes aqui), ainda não digerida e a conseqüente sensação de “e agora?”. Ou ainda os conflitos eu resultaram na saída do baterista original, Dave Lombardo (veja aqui), embora Paul Bostaph seja um substituto à altura.

O ponto alto do show foi a homenagem feita a Hanneman, durante a matadora sequência final com “South of Heaven”, “Raining Blood” e seus indefectível riff, e “Angel of Death”. No telão eram exibidas imagens do guitarrista e o logotipo da marca de cerveja que patrocina o festival convertida em logo do próprio Jeff Hanneman, que tinha uma guitarra assim. Parece mau gosto, mas o ser humano é desse jeito: celebra quem bebe e os amigos beberrões e lamenta por quem morre de cirrose, caso do guitarrista. E também não dá para ser santo com uma banda cuja matéria prima vem justamente do lado de lá da vida eterna. Divagações inúteis diante das múltiplas rodas de pogo que se abriam mesmo à léguas de distância da grade que separa o palco do público, sugando até este que vos escreve, em mais de uma vez/local.

Os guitarristas Gary Holt e Kerry King duelando durante o show agressivo do Slayer no Rock In Rio

Os guitarristas Gary Holt e Kerry King duelando durante o show agressivo do Slayer no Rock In Rio

Mas a tese de que o quarteto está realmente afetado com o que vem acontecendo se comprova quando é o guitarrista do Exodus, Gary Holt, emprestado provisoriamente, quem mais se destaca no palco. E olha que ele está tocando ao lado do monstro Kerry King. O carregador de correntes parecia acabrunhado e deu o azar – ele e a plateia – de o som de sua guitarra falhar em diversos momentos. Por isso também a guitarra espirrada de sangue de Holt apareceu bem mais. Com agressividade em “Disciple”, na porradamente generosa “Mandatory Suicide” e na já citada trinca final. Mas, aí, o som funcionou, King também parecia possesso e ambos garantiram um dos melhores momentos do show e de todo o festival. Ou, seja, dá para seguir em frente e fazer um showzaço com Gary (ou outro guitarrista) na vaga de Hanneman. O problema vai ser na hora de compor.

Sem lançar nada desde 2009, ano do bom álbum “World Painted Blood”, a aposta mais segura são os clássicos da carreira, e aí vale colocar quatro de “Seasons in the Abyss”, disco que marcou a fase de maior sucesso comercial da banda, em plena década de 1990. É na faixa título, uma das poucas do grupo em que se pode cantar, que a plateia reage com maior intensidade, muito embora fosse difícil não ver aquela massa se deslocando para tudo o que era lado o tempo todo. Foi bonito, inclusive, ver os adeptos do Avenged Sevenfold (veja como foi o show), que tocaria depois, em geral mais novos, aprendendo a abrir roda de pogo de verdade, num grande exemplo de legado vivo sendo criado bem ali, na sua frente. Coisa linda esse tal de metal pesado.

Kerry King: toda a fúria do carregador de correntes

Kerry King: toda a fúria do carregador de correntes

Set list completo:

1- World Painted Blood
2- Disciple
3- War Ensemble
4- At Dawn They Sleep
5- Mandatory Suicide
6- Hallowed Point
7- Die by the Sword
8- Dead Skin Mask
9- Hate Worldwide
10- Seasons in the Abyss
11- South of Heaven
12- Raining Blood
13- Angel of Death

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Léo Rocha em setembro 24, 2013 às 12:54
    #1

    Outro fator muito provável para o jeitão paradão de Tom Araya seja uma operação que se submeteu há poucos anos tendo que inclusive cancelar turnê(s). Não lembro ao certo mas foi algo relacionado a estrutura vertebral, relacionado diretamente a muitos anos “batendo-cabeça”

  2. fabio em setembro 24, 2013 às 15:30
    #2

    Exato Leo, a causa desse Araya paradão foi uma cirurgia de coluna. Antes ele batia cabeça junto com a turma, agora, ele fica paradão se divertindo, dando risada das rodas que se abrem na pista.
    O som da guitarra do King só tava saindo dos PAs dos lado direito do palco. Uma banda com a experiencia do Slayer não pode se dar ao luxo de uma falha desse tipo.
    Slayer rende melhor em lugares menores.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado