O Homem Baile

Transe

Com atmosfera etérea, Florence And The Machine se esforça para conquistar plateia numerosa do Rock in Rio, mas repertório fechado em si próprio não ajuda. Fotos: Léo Corrêa.

Florence Welch e o semblante hipnótico durante o show de sexta, no Palco Mundo do Rock In Rio

Florence Welch e o semblante hipnótico durante o show de sexta, no Palco Mundo do Rock In Rio

Não foram muitos os momentos em que Florence Welch subiu em um palco do tamanho do Palco Mundo do Rock In Rio, e, ao chegar na Cidade do Rock pela primeira vez, na noite de sábado (14/9), a moça sentiu o baque. Não de imediato. Com as vestes de um discípulo de Cristo ou de qualquer religião alternativa, a moça se esforçou o quanto pode, assim como a numerosa banda, para segurar a onda. Mostrou boa forma ao correr de lado a outro do palcão, numa apresentação aeróbica; soltou a voz que Deus lhe deu de mão beijada; se comunicou, se emocionou; mas o encanto se acabou antes dos setenta e poucos minutos que durou a apresentação. Um verdadeiro transe, com início, meio e fim.

A “The Machine”, sem Florence, possui formação incomum já na paisagem. Logo de cara uma harpa gigante se mostra mais vistosa que musicalmente influente no contexto, e há piano e teclados com efeitos, além de baterista e percussionista que fazem mais ou menos a mesma coisa. Musicalmente, há a exploração de um formato fixo de arranjo em todas as canções: o início etéreo, climático, seguido de uma crescente que deságua em uma pegada com todos os instrumentos no gás, com ênfase num entorno eletrônico consistente. O que muda são as composições: quando boas, grudam; se menos expressivas, dão a impressão de mais do mesmo, para o mal ou para o bem.

Em uma performance aeróbia, Florence simula voar em direção ao animado público do Rock In Rio

Em uma performance aeróbia, Florence simula voar em direção ao animado público do Rock In Rio

Como emplacou várias músicas no mercado britânico, o paraíso dos singles, metade do repertório de Florence and The Machine é conhecido do público, muito embora, àquela altura, já era o Muse (veja como foi) a concentrar as atenções. “What The Water Gave Me”, logo a segunda, é celebrada e cantada por todos, o que impulsiona a movimentação que seria uma constante na performance da cantora. Antes de “Drumming Song”, Florence se mostra tocada pela aceitação do público e vai se soltando até passear, como um fantasma esvoaçante do bem, pelo fosso entre palco e público (uma constante no festival), em “Rabbit Heart (Raise It Up)”. No caminho, recebe presentinhos fofos e uma bandeira do Brasil. Em “Spectrum”, um dos singles manjados, sugere espécie de abraço coletivo ou aperto de mão à “Paz de Cristo”.

Como cantora, e até por esse conjunto da obra, Florence lembra o gogó de Kate Bush e a volatilidade de Enya, muito embora as duas cantoras nem se assemelhem entre si. A diferença é que Florence convive com a modernidade, e suas vocalizações são repletas de efeitos de tudo quanto é tipo, possivelmente comandados na retaguarda de sua banda. Em alguns momentos, o vozeirão singular é surpreendido por um delay que permanece ativo depois que ela cerra a boca ou corre de um lado para o outro com os pulmões cheios de ar. Nada que afete negativamente o processo, mas também não há o porquê de não verificar que, sem efeitos, o resultado, na cantora e na máquina, possivelmente seria outro.

De tão característico, o conjunto com as 11 músicas (veja a lista completa no final do texto) se funde em um bloco só, o que é a causa primordial de o show se tornar enfadonho precocemente. Talvez seja o curto repertório de apenas dois álbuns lançados ou a conhecida pressa britânica em projetar novos artistas como grandes sensações, ou mesmo a falta de rodagem de uma banda de uns seis anos de existência. Embora promissora, precisa encorpar o repertório para encarar com mais firmeza um festival do porte do Rock In Rio. Ou, quem sabe, tocar em espaços menores durante no processo. Pode crer que vai melhorar.

Florence corre de lado a outro do palco e acena

Florence corre de lado a outro do palco e acena

Set list completo:

1- Only If For a Night
2- What the Water Gave Me
3- Cosmic Love
4- Drumming Song
5- Rabbit Heart (Raise It Up)
6- You’ve Got the Love
7- Between Two Lungs
8- Shake It Out
9- No Light, No Light
10- Spectrum
11- Dog Days Are Over

Veja mais: os shows do Rock In Rio

Veja mais: tudo sobre o Rock In Rio

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado