Para o Vintage Trouble, o tempo não passa. O quarteto suou o paletó sob um sol daqueles no Palco Sunset do Rock In Rio nesta sexta (13/9) e foi recompensado. Quem ainda ia chegando à Cidade do Rock – o show começou às 16h – teve que dar uma paradinha para saber o que se passava. Lá em cima, o vocalista Ty Taylor apronta. Tal qual um Elvis negro, soltava o rebolado como se estivesse nas festinhas dos anos 50 que horrorizavam os conservadores e desaguaram no que hoje se conhece como rock’n’roll. Carismático, Taylor não se conteve e chegou a descer no meio do público, de microfone em punho, só por diversão. Dá até pra dizer que, em termos de empolgação, o show do quarteto superou o do Living Colour, no horário nobre do Sunset (veja como foi).

O som do quarteto, completado por três branquelos bons de briga, é rock dos bons, com muito funk de raiz, blues e soul no meio, em que pese a pegada grooveada da cozinha formada pelo baixista Rick Barrio Dill e pelo nervoso batera Richard Danielson. De cara, o grupo manda uma sequência forte com “High Times”, um rock de salão transmutado da década de 50 para cá, e “Blues Hand Me Down”, quando Ty gira feito um peão de madeira sem esboçar sinais de tontura. A pegada é pesada, firme e, ao mesmo tempo, clássica. É o autêntico classic rock renovado na veia negra americana. O guitarrista Nalle Colt, embora invista em texturas de base fortes, se solta em solos cativantes que contribuem como o contexto festivo da apresentação.

Em “Pelvis Pusher”, algo como “empurrador de quadris”, o saliente Taylor dá uma de Elvis, “The Pelvis” de verdade: “empurre os quadris em mim!”, diz o verso mais forte da letra, repetido diversas vezes. A música é um funk rock dos bons e contagiaria o público de uma forma ou outra, só pela sua pegada, mas não há como dissociar Ty Taylor do contexto. Revestida de soul e funk embutidos em riff colantes, a música deságua em um solo que leva Colt a se ajoelhar no palco. Era o rock de verdade – mais “de raiz” impossível – estreando no Rock In Rio. A música ainda reserva uma paradinha para o público participar com gritos e um bater de palmas, outra constante do show.

Numa das falas entre as músicas, Ty Taylor se derrete pela oportunidade de tocar no Rock In Rio. “Crescemos ouvindo falar desse festival lá no interior dos Estados Unidos e agora realizamos um sonho tocando aqui”, diz, em tom emocional. Como o Sunset é o palco dos encontros musicais, a cantora britânica radicada no Brasil Jesuton emprestou a bela voz em duas músicas. Na baladinha “Nobody Told”, do repertório do Vintage, mandou bem, arrancando aplausos da plateia. Na outra, o erro foi a escolha: “Mas Que Nada”. A música, de Jorge Ben, virou hit mundial á custa de uma pulverização bancada por DJs e representa hoje uma obviedade que incomoda. Foi engraçado, ainda assim, ver Ly Taylor arriscando o refrão em português canhestro.

Mas é no blues rock “Run Like The River” que o vocalista se diverte. Desce no meio do público e continua cantando a música. Não é que ele tenha se jogado sobre o público: desceu e andou de lado a outro, ladeado pela horda festiva. É hábito ele fazer isso nos shows, mas não deixa de ser “novidade” para a tarde da Cidade do Rock. Nalle Colt, de seu lado, manda uma slide guitar clássica que caminha entre o country e o rock e mostra – de novo – de onde vem a onda do Vintage Trouble que varre o público insipiente no melhor show do primeiro dia na Cidade do Rock. Dá até para imaginar essa dinamite toda num local fechado e lotado.

Set list completo:

1- High Times
2- Blues Hand Me Down
3- Pelvis Pusher
4- Nancy Lee
5- Total Strangers
6- Nobody Told
7- Mas Que Nada
8- Run Like The River
9- Strike

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