Escolhas erradas
Convidados fracos dão o tom na homenagem à Cazuza; Ney Matogrosso e Barão Vermelho original salvam a Pátria. Fotos: Léo Corrêa (1), Bianca Obadia/Divulgação (2) e Jorge Oliveira/Divulgação (3).
A salvação da lavoura veio com Ney Matogrosso, este sim, intérprete de mão cheia, e mesmo parado no palco, com a idade já avançada, cantou com a emoção nos olhos. Deu sorte, também, de começar por “O Tempo Não Para”, uma das músicas mais contundentes da trajetória dramática de Cazuza. Ele ainda dá vida a outras duas, “Codinome Beija-Flor” e “Brasil”, antes de dar espaço à formação original do Barão Vermelho, que, afiada por conta da recente turnê de 30 anos (veja como foi no Rio), detonou em “Por Que a Gente é Assim” e “Blues da Piedade”, antes de encerrar com a emblemática “Pro Dia Nascer Feliz” com todos os convidados no palco. Frejat, além de lembrar Cazuza em uma fala, dedicou o show a Ezequiel Neves (saiba mais), que primeiro deu ouvidos a Cazuza e ao Barão.
O show com arranjos modificados, de certa forma, cobre as variações da carreira de Cazuza e do próprio Roberto Frejat, que, fora do Barão Vermelho, tem trajetória inserida na mpb. Depois do início rock’n’roll porra louca à Stones com o Barão, a carreira solo de Cazuza também foi desaguar em outras plagas como à do samba (“Brasil”) e da bossa nova (“Faz Parte do Meu show”). O problema é que, da turma de Cazuza lá do Baixo Leblon, só estavam os Barões e Bebel Gilberto, que convenhamos, nunca foi cantora. Ok, inclui-se Ney Matogrosso, que gravou e colocou nas rádios mais comerciais o hit “Pro Dia Nascer Feliz”. Marcaram ausência Lobão, autor de “Vida Louca Vida” com Bernardo Vilhena; Arnaldo Brandão, parceiro em “O Tempo Não Para”; e George Israel, só para citar alguns.Em vez deles, o público da Cidade do Rock viu um esforçado Paulo Miklos, que nem chegou a decorar as letras das músicas, e performances horríveis de Rogério Flausino, do Jota Quest, e Maria Gadu. Flausino, em que pese a emoção de ser fã de Cazuza, comete o imperdoável equívoco de, em vez de interpretar a música, fazer uma patética esquete do músico, imitando os trejeitos do homenageado. Para Gadu, ao menos sobrou a escolha certa: a insossa “Faz Parte do Meu Show”. Mas vê-la trucidar “Bete Balanço”, uma das que recebeu um arranjo bem diferente, foi de embrulhar o estômago. É sabido que é difícil agradar a todos em shows do tipo tributo, mas dessa vez o erro foi de conceito, e, as escolhas, erradas.
Antes, a Orquestra Sinfônica Brasileira tocou por meia-hora e teve a comprovação de que quando a música é boa, mesmo erudita e quando tocada para um público árido, é bem aceita. Por isso a plateia vibrou com passagens de Villa-Lobos, antes de serem executadas duas suítes com temas de clássicos do rock (lista aqui). É muito bom ver os acadêmicos tendo que ler partituras para tocar músicas compostas num galpão de junkies, como “Sweet Child O’Mine”, do Guns N’Roses, ou feita por adolescentes arruaceiros, caso de “Master Of Puppets”, do Metallica. Para quem está em casa vendo pela TV, tanto o Tributo á Cazuza quanto a OSB tocando clássicos do rock pode parecer uma patacoada dos diabos. Mas quem está no local se emociona de verdade. É preciso sair do sofá pra ser feliz.Set list completo Tributo à Cazuza:
1- O Poeta Está Vivo
2- Vida Louca Vida
3- Down em Mim
4- Exagerado
5- Faz Parte do Meu show
6- Bete Balanço
7- Todo amor Que Houver Nessa Vida
8- Preciso Dizer Que Te Amo
9- Solidão Que Nada
10- O Nosso Amor a Gente Inventa
11- Ideologia
12- Codinome Beija-Flor
13- O Tempo Não Para
14- Brasil
15- Por Que A Gente é assim
16- Blues da Piedade
17- Pro Dia Nascer Feliz
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