Pegadinha
Anunciado como acústica, nova apresentação de Joe Bonamassa no Brasil ratifica a força do classic rock com ode às guitarras e sólida base musical. Fotos: Luciano Oliveira.
Identificado com o blues rock, em cerca de duas horas Joe Bonamassa desfila sua base musical no classic rock que inclui referências a The Who, num diálogo surpreendente com Bergman; Jeff Beck – dessa vez preferiu mandar “Spanish Boots” em vez de “Blues Deluxe”; Deep Purple e Thin Lizzy; e Gary Moore, numa versão aplaudidíssima de “Midnight Blues”. A rigor, o show dessa turnê é bem parecido com o da anterior, mesmo porque de 2012 para cá o prolífico Bonamassa não lançou material inédito. Na matemática do repertório, são cinco músicas a mais (o set acústico), três de “Driving Towards the Daylight”, o tal do álbum mais recente do guitarrista, e oito já tocadas no ano passado. O que, no cômputo final, não representa necessariamente uma repetição. Na extraordinária “Dislocated Boy”, por exemplo, Bonamassa saca uma guitarra double neck e, a despeito de o riff ser a estrela da música, desanda a solar na parte final em meio à ovação por parte do público.
Entre as “inéditas”, “Story Of a Quarryman” outra com um riff dos bons, recebe um solo completamente distante da melodia inicial, num traçado até inovador para um tipo de música em geral bem emoldurada em termos de arranjo. “Mountain Time”, que fecha o set, revela evoluções de guitarra de cair o queixo até do menos enturmado no classic rock. Joe Bonamassa é do tipo workaholic. Entra no palco, toca por mais de uma hora sem dar um pio, não desfruta de intervalos entre as músicas e sequer molha a garganta: o show não pára, é porrada atrás de porrada. Ao blues, o guitarrista dedica “Who’s Been Talking?”, com a intro vocal gravada do próprio Howlin’ Wolf, e “Someday After Life”, com solos distintos unidos criativamente, além da já citada “Midnight Blues”.Se não fosse um ícone da guitarra, Bonamassa poderia faturar uns caraminguás como cantor. Impressionante com a voz, muitas vezes com sotaque oitentista, se encaixa perfeitamente em suas músicas e reinterpretações, em timbre e – até – alcance. A esticada final de “Mountain Time” que o diga. Mas ele foi esperto em escolher a guitarra para pagar as contas e se dá ao luxo de imitar uma maria fumaça para avisar que “Slow Train” está chegando. A música é um blues rock dos mais pesados e realça certa variedade de abordagens dentro do mesmo estilo. A versão de quase 10 minutos de “Sloe Gin”, uma das preferidas dos que quase encheram a casa no domingão, é o bônus deixado para o bis, que ainda reservou a bateção de cabeça – acreditem – na derradeira “The Ballad of John Henry”. Pode vir todo ano, Joe. Só não precisa mandar o caô do acústico.
Set list completo:1- Palm Trees Helicopters and Gasoline
2- Seagull
3- Jelly Roll
4- Athens to Athens
5- Woke Up Dreaming
6- Dust Bowl
7- Story of a Quarryman
8- Who’s Been Talking?
9- Someday After a While
10- Dislocated Boy
11- Driving Towards the Daylight
12- Slow Train
13- Midnight Blues
14- Spanish Boots
15- Song of Yesterday
16- Django
17- Mountain Time
Bis
18- Sloe Gin
19- The Ballad of John Henry
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