O Homem Baile

Pegadinha

Anunciado como acústica, nova apresentação de Joe Bonamassa no Brasil ratifica a força do classic rock com ode às guitarras e sólida base musical. Fotos: Luciano Oliveira.

De volta ao Brasil, Joe Bonamassa começou com um acústico, mas logo se entregou às guitarras

De volta ao Brasil, Joe Bonamassa começou com um acústico, mas logo se entregou às guitarras

O set acústico que Joe Bonamassa aprontou na noite de ontem, no Vivo Rio, de tão paradoxal para a carreira do guitarrista não lhe dá orgulho. Tanto que ele não quer ser fotografado sentado, com um violão no colo fazendo às vezes de um vovô precoce a espera de doações numa calçada de New Orleans. Mas a notícia é boa porque o show, anunciado como acústico, tem só cinco músicas nesse formato, em 15 minutos que soam mais como espécie de “abertura para si próprio” que poucos vão lembrar quando for contar a história dessa noite de domingo para os amigos. Já o que veio depois…

Bonamassa canta, com Derek Sherinian  no fundo

Bonamassa canta, com Derek Sherinian no fundo

Embora solo, Bonamassa tem construído, como artista eminentemente de palco, uma carreira sólida com músicos que têm um espantoso entrosamento. Muito embora pareçam ensaiadas, as partes instrumentais das músicas soam como verdadeiro devaneio, graças ao batera Tal Bergman e o baixista Carmine Rojas, com quem o guitarrista se diverte o tempo todo. O trio é o mesmo que esteve no Brasil há cerca um ano, em apresentação igualmente estonteante (veja como foi). Agora, há o plus a mais de Derek Sherinian (aquele mesmo, que fez fama no Dream Theater) nos teclados, o que configura metade do Black Country Communion, grupo paralelo de Bonamassa capitaneado por Glenn Hughes, e fortalece ainda mais a aplaudida versão de “Song Of Yesterday”, na parte final do set. O tecladista também fez das suas na incrível “The Ballad of John Henry”, resultando numa versão upgradeada em relação ao do show do ano passado.

Identificado com o blues rock, em cerca de duas horas Joe Bonamassa desfila sua base musical no classic rock que inclui referências a The Who, num diálogo surpreendente com Bergman; Jeff Beck – dessa vez preferiu mandar “Spanish Boots” em vez de “Blues Deluxe”; Deep Purple e Thin Lizzy; e Gary Moore, numa versão aplaudidíssima de “Midnight Blues”. A rigor, o show dessa turnê é bem parecido com o da anterior, mesmo porque de 2012 para cá o prolífico Bonamassa não lançou material inédito. Na matemática do repertório, são cinco músicas a mais (o set acústico), três de “Driving Towards the Daylight”, o tal do álbum mais recente do guitarrista, e oito já tocadas no ano passado. O que, no cômputo final, não representa necessariamente uma repetição. Na extraordinária “Dislocated Boy”, por exemplo, Bonamassa saca uma guitarra double neck e, a despeito de o riff ser a estrela da música, desanda a solar na parte final em meio à ovação por parte do público.

Debulhando a double neck, novidade nesse ano

Debulhando a double neck, novidade nesse ano

Entre as “inéditas”, “Story Of a Quarryman” outra com um riff dos bons, recebe um solo completamente distante da melodia inicial, num traçado até inovador para um tipo de música em geral bem emoldurada em termos de arranjo. “Mountain Time”, que fecha o set, revela evoluções de guitarra de cair o queixo até do menos enturmado no classic rock. Joe Bonamassa é do tipo workaholic. Entra no palco, toca por mais de uma hora sem dar um pio, não desfruta de intervalos entre as músicas e sequer molha a garganta: o show não pára, é porrada atrás de porrada. Ao blues, o guitarrista dedica “Who’s Been Talking?”, com a intro vocal gravada do próprio Howlin’ Wolf, e “Someday After Life”, com solos distintos unidos criativamente, além da já citada “Midnight Blues”.

Se não fosse um ícone da guitarra, Bonamassa poderia faturar uns caraminguás como cantor. Impressionante com a voz, muitas vezes com sotaque oitentista, se encaixa perfeitamente em suas músicas e reinterpretações, em timbre e – até – alcance. A esticada final de “Mountain Time” que o diga. Mas ele foi esperto em escolher a guitarra para pagar as contas e se dá ao luxo de imitar uma maria fumaça para avisar que “Slow Train” está chegando. A música é um blues rock dos mais pesados e realça certa variedade de abordagens dentro do mesmo estilo. A versão de quase 10 minutos de “Sloe Gin”, uma das preferidas dos que quase encheram a casa no domingão, é o bônus deixado para o bis, que ainda reservou a bateção de cabeça – acreditem – na derradeira “The Ballad of John Henry”. Pode vir todo ano, Joe. Só não precisa mandar o caô do acústico.

Joe Bonamassa só no groove de sua guitarra

Joe Bonamassa só no groove de sua guitarra

Set list completo:

1- Palm Trees Helicopters and Gasoline
2- Seagull
3- Jelly Roll
4- Athens to Athens
5- Woke Up Dreaming
6- Dust Bowl
7- Story of a Quarryman
8- Who’s Been Talking?
9- Someday After a While
10- Dislocated Boy
11- Driving Towards the Daylight
12- Slow Train
13- Midnight Blues
14- Spanish Boots
15- Song of Yesterday
16- Django
17- Mountain Time
Bis
18- Sloe Gin
19- The Ballad of John Henry

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