O Homem Baile

Renascido

Abraçado por séquito de fãs fiéis, Angra mostra vontade de continuar com novo vocalista, o italiano Fabio Lione. Texto: Daniel Dutra. Fotos: Daniel Croce.

O italiano Fabio Lione: a nova e talvez definitiva cara do novo Angra convence o público carioca

O italiano Fabio Lione: a nova e talvez definitiva cara do novo Angra convence o público carioca

Pode uma banda renascer duas vezes? Vivendo a sua segunda grande crise em mais de 20 anos de carreira, o Angra apega-se ao passado para tentar se reerguer em meio às dúvidas sobre o que reserva o futuro. E a turnê para comemorar as duas décadas do lançamento de “Angels Cry” (1993) - um dos marcos do metal nacional e, sim, um dos pilares do metal melódico - apresenta duas boas razões para apostar num novo sopro de vida. A primeira atende pelo nome de Fabio Lione (Rhapsody). Convidado para assumir o microfone após a saída de Edu Falaschi, prova ser uma ótima escolha. Fora um gritinho sem propósito aqui e acolá, o italiano não precisa fazer força para cantar as músicas das duas fases da banda. E também é um baita frontman. Mas o mais importante, no entanto é que os fãs ainda acreditam. Os cerca de 1500 que encheram o Circo Voador na noite de domingo (28/7) provam que o quinteto paulista não perde o trono com qualquer tombo.

Os 'originais' Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt

Os 'originais' Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt

Nem mesmo os 35 minutos de atraso incomodam. Bola rolando, dois golaços logo de cara: “Angels Cry” e “Nothing to Say” são recebidas com histeria. Melhor ainda, executadas como mando o figurino, ajudando a apagar a última passagem do Angra pelo Rio – no fatídico e justamente criticado show no Palco Sunset do Rock In Rio, em 2011 (veja como foi). “Waiting Silence” mostra a visível dificuldade de Ricardo Confessori em executar as partes mais intrincadas compostas por Aquiles Priester, mas os fãs pouco se importam com o fato de as músicas terem recebido outra interpretação, mesmo próxima da original, nas mãos do atual dono das baquetas.

“Winds of Destination” perde alguns dos licks de Priester, mas ganha com Felipe Andreoli fazendo melhor o papel que originalmente é de Hansi Kürsch (Blind Guardian). E como o jogo já estava ganho, tudo é motivo de festa. A participação do vocalista Gus Monsanto em “Time” é um dos pontos altos. Assim como a agradável surpresa chamada “Gentle Change”, melhor música do fraco “Fireworks” (1998). Lione, que havia se desculpado por não falar português direito, é um show de simpatia ao se comunicar em espanhol. Anuncia “Milennium Sun” como uma música do “espetacular álbum ‘Temple of Shadows’” (2004). Fica tudo bem. Os fãs sabem que é do “Rebirth” (2001).

O discreto e seguro baixista Felipe Andreoli

O discreto e seguro baixista Felipe Andreoli

Eles também não se incomodam quando Lione anuncia que Rafael Bittencourt cantaria a próxima música, “The Rage of the Waters”, do também fraco “Aqua” (2010), uma vez que não sabe a letra. Muito pelo contrário. Os fãs compram o discurso emocionado do guitarrista, com direito a uma indireta para Andre Matos. “Para quem achava que o Angra deveria acabar, eu digo que estamos apenas começando”. Em tempo: numa entrevista recente, o vocalista original revelou ter recebido um convite para fazer a turnê e recusou prontamente. Segundo ele, a banda já havia cumprido a sua missão e deveria parar.

Mas a noite é de festa, e o clima, de leveza. Bittencourt e Kiko Loureiro – que, vejam vocês, distribui sorrisos a todo instante – sentam em banquinhos e, violões empunhados, mandam um curto set acústico recheado de histórias da banda. O público participa rindo, comentando e fazendo até piada com a guitarra rosa que Loureiro usava anos atrás. E representado por uma fã que serviu apenas de enfeite no palco, canta junto “Reaching Horizons”, e em uníssono “Late Redemption” e “Make Believe”.

Confessori: dificuldade nas partes de Priester

Confessori: dificuldade nas partes de Priester

Rafael Bittencourt estava mesmo emocionado. Mais leve, agradece a todos os integrantes que passaram pelo grupo – sim, cita nominalmente Luis Mariutti, Matos, Falaschi e Priester. Pronto. Se alguém havia ficado chateado pela citação anterior do guitarrista, esqueceu tudo com a providencial mea culpa. Só que a música era a melhor resposta. “Evil Warning” encerra o set esquentando os fãs para o que seria um bis apoteótico. Com um coro de 1500 vozes e até mesmo rodas de pogo, “Nova Era”, “Rebirth” e “Carry On” (com Lione esquecendo parte da letra e Bittencourt ajudando) fazem alguns fãs – principalmente algumas fãs – irem às lágrimas. Pode uma banda renascer duas vezes? Com Fabio Lione, o Angra parece ter achado o caminho para provar que sim, é possível.

Set list completo:
1- Intro/Angels Cry
2- Nothing to Say
3- Waiting Silence
4- Time
5- Lisbon
6- Millennium Sun
7- Gentle Change
8- Winds of Destination
9- The Rage of the Waters
10- Silence and Distance
11- Wings of Reality
12- Reaching Horizons (acústico)
13- Late Redemption (acústico)
14- Make Believe (acústico)
15- No Pain for the Dead
16- Evil Warning
Bis
17- In Excelsis/Nova Era
18- Rebirth
19- Carry On

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Carlos em julho 30, 2013 às 19:27
    #1

    Excelente texto, apenas exageraram o dizer que o Angra teria encontrado um caminho com Fabio Lione, isso não vai acontecer e vou explicar porque digo isso.

    Ele próprio disse quando esteve em SP com o Vision Divine, que não assumiria o Angra por morarem longe e por não ter o timbre adequado ao estilo da banda.

    E sejamos sinceros, ele é um exímio vocalista, mas não alcança notas altas como o Matos, não diria que é um ponto negativo, mas não é o estilo dele.

    Quem ouve Rhapsody nota que o estilo de vocal dele é interpretativo, assim como o Roy Khan (Ex-Kamelot), ambos gostam de dar “vida” ao personagem através do estilo de cantar.

    Enfim, digo e afirmo (com certa tristeza): Lione não será vocalista do Angra.

    Abraços

  2. Clarisse em julho 30, 2013 às 19:29
    #2

    Esse show foi, com certeza, um dos melhores que já fui do Angra. Como fã há quase 20 anos, senti exatamente isso: a banda estava renascendo, de novo! Kiko e Rafael emocionados até o último fio de cabelo e eu era uma das fãs histéricas que derramou algumas lágrimas (em “Make Believe” mais ainda).
    Parabéns pelo post, fez jus ao lendário show no Circo!

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