O Homem Baile

Bem acompanhado

Hits radiofônicos, carisma e interatividade garantem sucesso de Gabriel O Pensador no encerramento do PMW Rock Festival, em Palmas. Foto: Thuanny Magalhães/Divulgação.

gabrielpmw13A estrutura montada na avenida que dá acesso à Praia da Graciosa, em Palmas, enfim fez jus às suas dimensões no encerramento do PMW Rock Festival. Quando Gabriel O Pensador subiu ao palco – e já era madrugada de segunda! – cerca de cinco mil pessoas pulavam de lado a lado da pista, numa recepção que teve resposta imediata por conta de Gabriel e sua – explosiva, para dizer o mínimo – banda. Escorado por um punhado de hits radiofônicos, dos tempos em que o jabaculê reinava ainda mais nas FMs, o rapper ouviu a cantoria do público, registrou imagens em aparelhos para as redes sociais (veja uma aqui), e durante quase duas horas contagiou a multidão.

Os hits de letras decoradas pelo inconsciente coletivo ajudam, mas não se pode tirar o mérito do show em si, agitado e contagiante o tempo todo. Primeiro que Gabriel já entra duelando com outro rapper, Fábio Beleza, e depois, que praticamente todos na banda participam, incluindo performances individuais do parceiro das antigas Tiago Mocotó e do DJ Leandro Nerurose. O auge da noite acontece numa sessão de improviso, que, por mais que já tenha algo desenvolvido com antecedência, reproduz as batalhas de rappers de rua com precisão e criatividade. Até um rapaz da plateia é alçado ao palco para participar e não faz feio. A boa banda do Pensador inclui ainda músicos experientes que dão inclusive suporte vocal.

Falastrão, logo no início do show Gabriel puxa para si o posto de precursor das manifestações, nova coqueluche da juventude, mas acaba vestindo saia justa, uma vez que o evento é fortemente patrocinado pela prefeitura, a ponto de políticos locais terem sido homenageados pelos produtores do festival em pleno palco, antes do show. Sob vaias, claro. Até que o rapper tem razão, se levarmos em conta letras como as de “Até Quando”, que fechou a noite; da boa “Nunca Serão”, que teve até body surfing na plateia, e de “FDP3”, entre outras. O tiro é certeiro e o público se identifica claramente com os versos mais fortes, muito embora Gabriel se pareça mais com a auto-referente (e com letra modificada) “Playboy”. Não podemos esquecer que ele é o “filhinho da mamãe” que ajudou a eleger o Presidente Collor num passado não tão distante.

Os pontos baixos ficam por conta da fraca “2345meiasete8”, que poderia ser limada do set, assim como “Lôrabúrra”, e de “Palavras Repetidas”, uma espécie de mash up ao vivo que mistura AC/DC, Legião Urbana e Blitz com um mau gosto incrível, embora o público delire. Nem a versão em português para “Get Up Stand Up”, de Bob Marley, foi pior. Diante dos grandes sucessos do passado, as músicas do disco mais recente, “Sem Crise”, acabam ganhando posição secundária, embora a faixa-título e “Linhas Tortas” cumpram um bom papel, na abertura da noite. No frigir dos ovos, Gabriel e sua banda fazem um grande espetáculo de entretenimento, que agrada pelo chamado conjunto da obra.

É um apena que o público tenha chegado tarde só para ver a atração principal. Na abertura, Don MC, com uma bandaça tocando soul e funk de raiz, já dava o recado. Usando o telão do palco para exibir imagens das recentes manifestações contra tudo, ele mandou temas que iam do rap ostentação a uma ode à capital do Tocantins. Os melhores momentos ficam por conta de dois funkões de raiz apresentados no início e no fim do show, e, os piores, na participação do cantor brega-romântico Josifran Melo em duas músicas. Antes de Gabriel, o La Cecília distribuiu um reggae roots cantado em português, fortalecendo certa maresia de água doce. O bom vocalista segura bem a onda, mas o show soa repetitivo, como se só as letras fossem inseridas em uma única música de 40 minutos de duração.

Outras duas bandas tocaram mais cedo, ambas voltadas para o pop rock: Acústico Bob, cujo equívoco é o próprio nome, e o Vinil Digital. Esta é um daqueles grupos covers com músicas próprias, cujas composições parecem os hits que os influenciam. Não por acaso o show é encerrado com o vocalista fazendo uma verdadeira súplica para que o público cante com ele “Quase Sem Querer”, da Legião Urbana. Dá pra fazer melhor, pessoal.

Set list completo Gabriel O Pensador

1- Sem Crise
2- Linhas Tortas
3- O Cachimbo da Paz
4- Nunca Serão
5- FDP3
6- Pátria Que Me Pariu
7- Lavagem Cerebral
8- Pra onde Vai?
9- Improvisação
10- Palavras Repetidas
11- Surfista Solitário
12- Boca Com Boca
13- Playboy (parte 2)
14- Tudo Certo
15- Rap do Feio
16- 2345meiasete8
Bis
17- Astronauta
18- Get Up Stand Up
19- Eu e a Tábua
20- Se Liga Aí
21- Até Quando

Marcos Bragatto viajou a Palmas à convite do festival.

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