O Homem Baile

Guitarras para o povo

Autoramas brilha e Krisiun destrói tudo na primeira noite do PMW Rock Festival, evento gratuito, em Palmas; Boddah Diciro é destaque da cena local. Foto: Emerson Silva/Divulgação.

Gabriel Thomaz e Flávia Couri: o perfeito entrosamento da duplinha de frente rock'n'roll do Autoramas

Gabriel Thomaz e Flávia Couri: o perfeito entrosamento da duplinha de frente rock'n'roll do Autoramas

Primeira banda de projeção nacional a subir ao palco na décima edição do PMW Rock Festival, neste sábado (27/7) o Autoramas sabe direitinho como agitar a plateia. “Venham!”, bradou o líder do grupo, Gabriel Thomaz, para reunir na beirada do palco o público que se dispersava pela avenida que fica em frente à Praia da Graciosa. Explica-se que a estrutura do festival de Palmas, capital do Tocantins, é apurada, com um palcão de fazer inveja a muito evento de porte do Sudeste e - ainda tem essa - o evento é gratuito, o que leva o povão a ficar o tempo todo circulando, mesmo durante os shows. Não no caso do Autoramas, que se é querido na “vizinha” Goiânia, não fica atrás em termos de popularidade na capital mais nova desse Brazilzão. De cara, o trio manda quatro músicas no talo, sem deixar o público parar e pensar no que está acontecendo. E isso mostrando até “Menina”, da nova safra do álbum “Música Crocante”, o mais recente do trio.

Antes de “Abstrai” - uma das melhores composições de rock dos últimos tempos -, Flávia Couri mostra apreço pelas manifestações, nova coqueluche da juventude, ao avistar um mascarado na plateia. A baixista está mais integrada ao trio, cantando em quase todas as músicas e interagindo com Gabriel, numa duplinha irresistível. Em “Lugar Errado”, mostra uma interessante peraltice jovemguardiana. Mas são as músicas clássicas do grupo que encontram eco definitivo na plateia: a guitarra avassaladora da urgente “Você Sabe”; “Cathy Chorus, numa versão alongada e dançante que salienta ainda mais a vocação dela para as pistas; e o para sempre hit mainstream “Fale Mal de Mim”. De longe a horinha mais redonda da primeira noite do festival, consolidando uma plateia que viu o trio carioca pela terceira vez nessas 10 edições do PMW Rock Festival.

Prejudicado pelo atraso acumulado de cerca de uma hora, o Krisiun subiu ao palco na alta madrugada para um público bem reduzido. Para piorar, o trio tocou praticamente às escuras, com um fraquíssima iluminação de palco apoiada pelas imagens de um videoclipe que se repetiam ad eternum no telão no fundo. Das duas uma: ou era essa a intenção, para enfatizar o clima “from hell” do show, ou uma pane no gerador que deixou os bastidores no breu também prejudicou a luz do palco. Nada que, entretanto, abalasse a disposição do grupo, acostumado a tocar em tudo o que é buraco no underground europeu, mesmo porque o som estava bom e alto pra chuchu, o que para uma banda de sonoridade complexa e extrema como o Krisiun, é fundamental. O grupo manteve o set inteirinho, com direito a um solo de bateria de Max “mais rápido do oeste” Kolesne.

Foi a primeira vez do Krisiun em Palmas e se os camisas pretas da região decepcionaram em quantidade, os que se aglomeraram na frente do palco se acabaram de tanto bater cabeça. Músicas como o “Vengeance’s Revelation”, cuja transição das partes mais velozes para as mais cadenciadas é primorosa; “Descending Abomination”, citada pelo vocalista/baixista Alex Camargo como um momento de “amansada” na porradaria insana do grupo; e “The Will to Potency”, na qual o guitarrista Moyses Kolesne exercita um lado melódico panterizado avassalador detonaram a plateia impiedosamente. Mesmo carecendo de um novo trabalho - o disco mais recente é de 2011 -, o Krisiun prossegue mostrando o resultado da evolução de anos e mais anos de metal extremo. E não há falta de luz que atrapalhe.

Entre as atrações locais o Boddah Diciro é de longe a banda mais acertada e pronta para o mercado. É de se estranhar, inclusive que o quarteto ainda não tenha uma maior visibilidade em centros de maior repercussão cultural do Brasil. O nome é esdrúxulo, mas o som é redondinho. De inspiração grunge, o grupo se esparrama por outros subgêneros do rock, com um som por vezes viajante e noutras colantes, mas sempre pesado. Liderada pela vocalista Samia, que ainda toca guitarra - e bem! - o grupo mostrou duas músicas novas que devem fazer parte do segundo álbum; o primeiro se chama “Strange” e foi lançado já há quatro anos. O show é realçado pelos vídeos de animação que a própria banda faz (foi a que melhor aproveitou o telão do fundo), interagindo com a viagem sonora, e pela performance arrojada da baterista Didia, irmã de Samia. A reação do público à imponência da banda não foi das mais animadas, mas músicas como “Bring Me Down”, com um sotaque stoner e cantada pelo guitarrista Beto, e a nova “Angela Dust” infernizaram os tímpanos menos ferozes.

A ideia de juntar as bandas Críticos Loucos e Mata Burro numa única apresentação não era das piores, mas assim como acontece no Palco Sunset no Rock In Rio, a mistura não funciona. Primeiro porque integrantes das bandas, envolvidos com a produção do festival e pressionados com os atrasos e outras mazelas, não tiveram tranquilidade para tocar. Depois, é evidente que as duas não ensaiaram direito, juntas, resultando num final desentrosado como se os integrantes tocassem uma música cada um. Pior para o Críticos, que faz um death metal radical interessante, com letras em português, e se viu perdido junto com o Mata Burro. Este, por sua vez, pecou pela intranquilidade e não passou a mensagem do crossover hardcore/metal tão bem como poderia.

Já o Cão de Rua é uma banda muito nova que ainda guarda resquícios de quando era - o grupo ou seus integrantes principais - cover. O pop rock deles cheira à rock Brasil à anos 80 e à classic rock mofado e não tem nada de autoral como reivindicam o vocalista e o guitarrista. Cada uma das músicas remete a artistas consagrados e há, no mínimo, duas canções do repertório com trechos fielmente decalcados de um tal Jimi Hendrix. Os rapazes precisam aprender a compor com urgência. Na abertura, para um publico ainda minguado que ia chegando ao festival, o casal de rappers Markim das Antigas e Mina Tay segura bem a onda, com a rimas de métrica questionável comuns ao gênero. O problema é que eles misturam temas como devoção cristã, drogas e bandidagem, e ainda mandam um rap fofo no qual um se declara para o outro no maior estilo Jane e Herondy. Pode isso?

Set list completo Autoramas:

1- Mundo Moderno
2- Domina
3- Rei da implicância
4- Nada a Ver
5- Abstrai
6- Couldn’t Care At All
7- I Saw You Saying
8- A 300 Km Por Hora
9- Você Sabe
10- Verdade Absoluta
11- Paciência
12- Lugar Errado
13- Catchy Chorus
14- Jogos Olímpicos
15- Fale Mal de Mim
16- Surfin’ Bird

O PMW Rock Festival prossegue neste domingo, dia 28, na Praia da Graciosa e a entrada é franca. Os shows começam a partir das 18h15 e a atração principal é o rapper Gabriel O Pensador. Clique aqui e veja todos os detalhes.

Marcos Bragatto viajou a Palmas à convite do festival.

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado