Convenceu
Com repertório apenas mediano, Breeders supera síndrome de segundo escalão e convence público com ode à guitarra distorcida noventista. Fotos: Luciano Oliveira.
Outra coisa que faz diferença, sim, é o fato de a adorável Kim Deal, que há anos exibe uns quilões a mais, manter a voz doce que a consagrou no Pixies, onde se contrapunha em vários sentidos ao chefão Frank Black. A mana Kelley Deal, gêmea, também exibe o mesmo vocal dócil/sapeca em algumas músicas e com destaque no cover “Happines Is a Warm Gun”, desencravada dos Beatles, além de um show de slide guitar na surfística “No Aloha”. Nessas horas, dá para imaginar que uma ou outra canção da matriz, originalmente cantada por Kim Deal, pode até entrar no set, mas o passado de desentendimentos que culminou na saída dela do Pixies justamente quando o primeiro single em 10 anos é lançado (saiba mais) acaba com qualquer possibilidade de isso acontecer. Quer saber? A coisa estava tão boa e o público tão integrado ao show que nem fez falta. Ou, por outra, fez sim. Decidam.
Ocorre é que não há nada que supere ouvir “Cannonball” bem ali na sua frente tocada como manda o figurino: os ruídos do início, a entrada com o baixo claudicante, o efeito de voz reproduzido ao vivo com perfeição a custa de um microfone esparadrapado, o apito, a dicotomia silêncio-esporro e a bela crescente que culmina com as cordas da guitarra agarradas e o refrãozinho chuchu. É aí que não dá para deixar passar batido a baixista Josephine Wiggs, cujo avançar da idade lhe confere um certo tom intelectual. Não é só em “Cannonball” que ela assume papel de destaque: “Flipside”, a razoável “Hag” e “Fortunately Gone”, essa do álbum “Pod”, já no bis, por exemplo, seriam outras sem essas quatro cordas bem próprias da “fesorra”. Além do resgistro do pungente batera Jim Macpherson, marca-se a presença da animada Carrie Bradley tocando violino e teclados, como fez há 20 anos no “Last Splash”.Fora as 15 músicas obrigatórias da turnê, outras nove completaram um show curto, mas que tinha mesmo que ser assim. Não sem querer, “Head to Toe”, a boa faixa-título do EP lançado na mesma época, garantiu um final dos mais animados, num outro bom exemplo de interação público e banda. Em relação ao show de São Paulo, na quarta (o do Rio foi na quinta, 25/7), o repertório teve ligeiras alterações, mantendo-se o esqueleto original tanto em quantidade de músicas quanto em tempo de duração do show, não superior a 80 minutos. Era tudo, afinal, que a banda tem a oferecer, a menos que agora, fora do Pixies, Kim Deal leve o Breeders à frente pra valer. Mesmo assim, eles bem que poderiam ter voltado ao palco mais uma vez para mandar “Cannonball” de novo. Poderiam mesmo tocar a música umas cinco, seis vezes, que ninguém ia chamar de vandalismo. Outra noite daquelas do Circo Voador.
Set list completo:1- New Year
2- Cannonball
3- Invisible Man
4- No Aloha
5- Roi
6- Do You Love me Now?
7- Flipside
8- I Just Wanna Get Along
9- Mad Lucas
10- Divine Hammer
11- SOS
12- Hag
13- Saints
14- Drivin’ on 9
15- Roi (Reprise)
Bis
16- Shocker in Gloomtown
17- Hellbound
18- Happiness is a Warm Gun
19- Safari
20- Fortunately Gone
21- Limehouse
22- Iris
Bis
23- Don’t Call Home
24- Head to Toe
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