O Homem Baile

Médio e acessível

Explosions In The Sky rejeita holofotes, mas mostra post rock palatável sem deixar de ser barulhento. Foto: Daniel Croce.

As guitarras de Mark Smith, Michael James e Munaf Rayani; o batera Chris Hrasky e o baixista, ao fundo

As guitarras de Mark Smith, Michael James e Munaf Rayani; o batera Chris Hrasky e o baixista, ao fundo

A essa altura do campeonato você já deve estar por dentro de que post rock é aquele tipo de música, em geral instrumental, minimalista, que finge ser suavezinha, mas, de repente se revela barulhenta, esporrenta, ensudercedora. Há grupos de origens de vários subgêneros rock que vão por essa onda, e o Explosions In The Sky encerrou a mini turnê pelo Brasil no domingo fiel às raízes indies que lhe dão respaldo no circuito de festivais ao redor do globo. Um bom público, menos do “tipo Queremos” e mais interessado, compareceu e voltou para casa satisfeito com uma reforçada dose diária de guitarra.

Michael James comanda o 'esporro tríplice guitarra'

Michael James comanda o 'esporro tríplice guitarra'

O guitarrista escalado para dar as boas vindas ao público carioca, em português bem decoradinho, diga-se, é Munaf Rayani, que não disfarça o semblante de um típico indiano, muito embora o grupo seja do Texas (tinha uma bandeira do estado americano sobre o amplificador dele) nesse mundão globalizado. Ele pede para que todos fechem bem os olhos para fazer uma viagem, certamente movida à avalanche sonora que estaria por vir. Por via das dúvidas, a banda reduz a potente iluminação do Circo Voador quase a zero, e o que sobra é uma luz de cabaré fixa das mais escuras, deixando os músicos numa penumbra de dar dó, em total anticlímax com o espetáculo. Já pensou como seria explosivo se houvesse uma explosão de luz junto com a explosão sonora do Explosions In The Sky?

Ocorre que a banda é indie e como tal não é dada a exposições. Não à toa os músicos mal sabem empunhar seus instrumentos – uma banda com três guitarras! -, olham fixamente para o piso, como shoegazers demodês e parecem não estar nem aí para o mundo à sua volta. Ou, por outra, para o público. Este, como óbvio, imita o desajeito dos músicos como pode, no limite de uma felicidade que recusa demonstrar, mas não consegue esconder. Definitivamente, é um show para iniciados. Ou não, uma vez que as guitarras que moveram o século 20 têm o poder de cativar e, a despeito de todo esse porém estético, os caras tocam pra cacete, têm boas músicas e sabem como poucos cativar com um esporro dos diabos.

Munaf Rayani se diverte maltratando a guitarra

Munaf Rayani se diverte maltratando a guitarra

O observador mais atento, todavia, não diria tanto. Isso porque o quarteto (3 guitarras + baterista), adicionado por um baixista contratado, não pega tão leve nas partes calmas, nem tão pesado nas mais barulhentas. E é nesse meio do caminho bem temperado que talvez esteja o ovo de Colombo do Explosions, sem deixar de notar que boas melodias de guitarras, daquelas que pegam o ouvinte de primeira, cruciais nesse tipo de som, aparecerem em quase todas as músicas. O grupo também não exagera tanto nos volumes e frequências combinados, um achado do post rock que só cabe a mestres como os do Mogwai; clique aqui e relembre como foi o show no mesmo Circo Voador, há cerca de um ano.

Dos três guitarristas, Michael James, ao centro, parece ser o mais criativo e entregue à execução das músicas; quase não há solos no post rock. Curiosamente, quando toma o baixo do empregado, toca como se fosse guitarra, lançando os dedos velozmente sobre as cordas reforçadas. Rayani é o mais sem jeito e, ao mesmo tempo, presepeiro, que chegar a trocar a guitarra – crime inafiançável – por um tarol de banda marcial de colégio ginasiano e a espancar o instrumento com uma pandeirola. No final, ele ainda se acabaria extraindo ruídos dos pedais, jogado ao chão como uma criança no engradado de bolinhas plásticas. Mark Smith, o da esquerda, é o mais discreto, cuja função talvez seja de reforçar o barulhão mesmo. Curto, o show dura menos de hora e meia sem bis, como numa dose programada pela intensidade sonora. Imaginem no dia que os caras descobrirem a luz…

Set list enigmático fotografado do palco (cortesia de Pedro Montenegro), que, segundo consta, foi modificado durante o show:

explosions13-4

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. tiago em maio 30, 2013 às 10:30
    #1

    Discordo totalmente. Houve explosões de luz em algumas partes.
    E, embora o autor parece não ter gostado, o público foi ao delírio. E nada melhor que os caras que curtem tocar ao invés de dar o espetáculo. Fomos para ouvir as músicas que, ao vivo, é muito melhor! Do caralho.

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