O Homem Baile

Datado

Com show fincado nos anos 90, Tomahawk chama mais a atenção no Lollapalooza pelos trejeitos de vocalista do que pela música em si. Foto: Bruno Eduardo.

tomahawklollla13Chamar o Tomahawk de projeto de Mike Patton chega a ser cruel com os demais integrantes, todos revelados no boom da música alternativa dos anos 90. Mas o público que chegou mais cedo para conferir o show do grupo no Lollapalooza, no sábado, queria mesmo era sacar os trejeitos do vocalista, que – acreditem – pouco mudaram nesses mais de 20 anos. Associado ao um estranho modo “bizarro do bem”, Patton continua sendo aplaudido por nada, agora com o plus de falar alguns palavrões em português, para delírio de fãs do tipo “que gostam por antecipação”. É, não deixa de ser engraçado.

Para se ter uma ideia, em mais de uma música rola uma introdução de bateria idêntica às usadas no Helmet, que revelou John Stanier. Só pode ser de propósito um músico tão inventivo caprichar tanto para soar como no passado em músicas como “Mayday”, que abre o set, e “White Hats/Black Hats”, uma das melhores do novo álbum, “Oddfellows”, e também do show. Se o baixista Trevor Dunn é discreto na maior parte do tempo, o guitarrista Duane Denison, conhecido no vexatório Jesus Lizard, se salienta na maior parte do tempo ao impingir um minimalismo que beira o estridente em quase todas as músicas. Denison abusa tanto do artifício que sente câimbras nos dedos que quase penetram no corpo a guitarra.

Dito isso, cabe a Patton fazer uso de suas habilidades para trazer a banda para o mundo real. De posse de um aparelhinho emissor de ruídos, Patton bem que tenta, mas o som que sai dali pouco aparece, a despeito da qualidade do equipamento do festival ser bastante boa. Sobra-lhe, então, a ótima performance vocal, que resulta em inflexões típicas em “Birdsong”, cuja intro tem um som de… passarinho!; na boa levada de “South Paw”; e na gritaria geral de “Laredo”, que fecha o show com Patton avaliando o público como “assim, assim”. É quando se arrisca no português de baixo calão que o vocalista arranca aplausos da plateia: é um “porra, caralho” pra cá, um “cachaceiro” pra lá… E o pobre do Josh Homme sentado ali, na lateral do palco, vendo tudo.

É em “Laredo” a melhor performance da banda, com o Duane Denison solando pra valer – coisa rara - e todos esmerilhando seus instrumentos sem dó, numa jam final de altíssimo poder de explosão. Até o cover para “How Low Can a Punk Get”, do Bad Brains, que movimentou o público em rodas de pogo ferozes teve menor importância, numa espécie de bis sem sair do palco. No cômputo final, no Tomahawk Patton é mais Patton que nunca – e isso é bom -, mas se for para ser ele próprio, para que ter outra banda que não seja o Faith No More? Como o FNM, a julgar pelo show do SWU de 2011 (veja como foi), é cada dia mais uma banda solo do vocalista, a conclusão que se chega é que tá tudo errado. E é assim que Mike Patton gosta.

Set list completo

1- Mayday
2- God Hates a Coward
3- Flashback
4- Oddfellows
5- Birdsong
6- Rape This Day
7- I.O.U.
8- Capt. Midnight
9- White Hats/Black Hats
10- Point and Click
11- South Paw
12- Totem
13- Laredo
14- How Low Can a Punk Get

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado