O Homem Baile

Sem pressão

Repertório ruim, vocalista com variações de humor e falta de peso afundam o show do Sonata Arctica no Rio. Fotos: Daniel Crocce.

Tony Kakko: o vocalista acabou se destacando mais pelas variações de humor do que pela performance

Tony Kakko: o vocalista acabou se destacando mais pelas variações de humor do que pela performance

O incauto que adentrasse o Teatro Rival, na noite de ontem (11/3) e tentasse identificar a banda pelo som, afirmaria estar diante de um show de blues tocado por cinco brancos azedos. Era a introdução da última música do show do Sonata Arctica, na qual o vocalista Tony Kakko brincava com o público perguntando se todos queriam mais músicas. Foi justamente na parte final que o grupo tentou saldar um débito de canções irregulares tocadas em cerca de uma hora e meia, para um público estimado em 500 pessoas, a lotação total da casa em tempos pós Boate Kiss. Não conseguiu, ainda mais com as variações de humor do próprio Kakko, às vezes agradecido pela participação do público, noutras fulo da vida com o espocar dos flashes vindo lá do fundo da casa.

Elias Viljanen: muita técnica e pouca alma

Elias Viljanen: muita técnica e pouca alma

O caso é que o show grupo, talvez por falta de uma segunda guitarra na formação, não tem a pressão que as apresentações de heavy metal exigem. Soma-se a isso um punhado de músicas ruins, algumas sem ter sequer um bom refrão - crime inafiançável para o metal melódico – e está posta a irregularidade da apresentação. Se boa parte das músicas fosse colante como “FullMoon”, por exemplo, o problema estaria resolvido. Tanto que até o tecladista Henrik Klingenberg, de posse de um keytar (ou teclado de mão, como queiram), se manda para a beirada do palco para agitar com o guitarrista Elias Viljanen. Eles duelaram discretamente em outras partes do show, como em “Losing My Insanity”, mas nada que tivesse pompa de destaque.

Sozinho, Viljanen sua a camisa, mas na maior parte do tempo suas intervenções são rotineiras, e, nos solos, o sujeito descamba para a velocidade estéril num sobe e desce de notas em uma guitarra empunhada que pouco agrada, a não ser aos alunos de plantão. Sobra técnica e falta alma ao rapaz. Ainda assim, ele se sai muito bem em “The Gun”, uma das poucas músicas bem arranjadas, ao vivo; e ainda salva a modorrenta “I Have a Right”, uma das sete faixas do disco mais recente da banda, “Stones Grow Her Name”, lançado no ano passado, incluídas no set. Outra das mais novas é “The Day”, música que até agora, no dia seguinte ao show, não começou. É difícil concluir que, de sete álbuns lançados, o Sonata não consiga montar um bom repertório de uma hora e meia…

Henrik Klingenberg vai agitar na beira do palco

Henrik Klingenberg vai agitar na beira do palco

O auge do anticlímax, porém, acontece quando o Tony Kakko orienta aos fãs de música mais pesada para irem ao bar beber, já que é hora de uma música “fofa”. A tal fofura é “Tallulah”, uma antibalada de dar dó, que, entretanto, é cantada quase em uníssono pelos fãs. É a hora em que balões são soltos pelo público, após horas de conversa em chats na internet. O público, aliás, é bem melhor que a banda, participando em quase todas as músicas, sobretudo da metade para o final da noite, quando realmente a coisa melhora. É nessa parte que aparecem, além da já citada “FullMoon”, disparada a melhor música do show; a porrada “Cinderblox”, na qual Kakko, dotado de boas variações vocais, se derrete pelo público que o encheu de estouro de flashes; e “Don’t Say a Word”, a tal com introdução blues, que ainda é arrematada com citação a uma canção folclórica, para delírio dos fãs. Muito pouco, caso a banda almeje subir de divisão no metal.

Set list completo:

1- Intro
2- Only the Broken Hearts (Make You Beautiful)
3- Black Sheep
4- Alone In Heaven
5- Shitload of Money
6- The Gun
7- The Day
8- I Have a Right
9- The Last Amazing Grays
10- Paid in Full
11- Broken
12- Losing My Insanity
13- Tallulah
14- FullMoon
15- Replica
16- Cinderblox
17- Don’t Say a Word

Tony Kakko acompanha o solo de Elias Viljanen, com o discreto e desanimado baixista ao fundo

Tony Kakko acompanha o solo de Elias Viljanen, com o discreto e desanimado baixista ao fundo

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Comentários enviados

Existem 8 comentários nesse texto.
  1. Frederico Cruz em março 12, 2013 às 12:36
    #1

    O título da resenha está perfeito… Mandou bem…

  2. Antonio Dias em março 12, 2013 às 12:49
    #2

    Sem Blank File e Weballergy , os “hits”, esse show não deve ter sido bom mesmo.

  3. Mariana Nascimnento em março 14, 2013 às 12:29
    #3

    Cada um tem direito de dar a opinião que bem entender, por isso mesmo estou aqui. Bem se vê que você não conhece nada de metal, nem finlandês nem de qualquer outro país. Para aumentar sua escassa informação, Sonata Arctica é power metal, e não metal melódico. A presença de palco deles sempre foi algo muito elogiado no meio do metal, e a qualidade musical é algo incontestável. As letras compostas por Tony Kakko são de uma qualidade que você jamais poderia experimentar. Não sei qual é seu gosto musical, mas falar mal de uma banda impecável apenas para ganhar atenção é algo nada louvável. Com certeza essa crítica não será levada a sério por pessoas que conhecem o trabalho da banda. Passe bem.

  4. Marcos Bragatto em março 14, 2013 às 13:14
    #4

    Você é que não me conhece, Mariana. Seja bem-vinda!

  5. Mariana Nascimnento em março 14, 2013 às 14:36
    #5

    Não quero ser bem vinda, pois não frequento esse site e não faço parte do “seleto” grupo de pessoas que você faz. Não te conheço e nem quero, estou opinando com relação à sua crítica e ao que ela dá a entender. Se você quer criticar, tem que aguentar ser criticado. Você chamou Sonata Arctica de metal melódico e acha que os caras da banda não tem vida própria e tem que estar sempre de bem com a vida, por que né, segundo você, integrantes de banda só fazem isso da vida, não tem direito de estar chateado ou seja lá o que você ache que eles estivessem. Sendo assim, sua opinião com relação ao show ou ao meu comentário não me valem de nada. E, só o fato de você ter respondido ofendidinho já mostra sua falta de profissionalismo. Foi mal aí pelas suas possíveis frustrações pessoais, seu ódio bate no talento dos caras e volta pra você. Ah, e chamar cinco pessoas que você não conhece de branquelos azedos é preconceito e julgamento indevido.

  6. Marcos Bragatto em março 14, 2013 às 15:21
    #6

    Fiquei ofendido, não, Mariana. Você foi a única que escreveu direito. Sou branco azedo também. Continuas sendo bem-vinda.

  7. Leo Luz em março 14, 2013 às 16:36
    #7

    Caro Marcos, li sua crítica ao show no RJ e fiquei completamente espantado, já que estive presente na Via Marquês/SP e vi um show completamente diferente. Sou fã da banda, os acompanho há 6 anos e, nos dois shows que vi deles no Brasil, destoa do contexto apresentado em seu texto. Observando ambos (seu texto, show de SP), e pensando na turnê América Latina deles, acho que a única conclusão para um show ruim foi o cansaço que bateu forte no Rio de Janeiro. Tivemos problemas em SP, claro, com som saindo baixo demais e um atraso chato antes do show, mas a empolgação deles era visível, menos do esquecido baixista, enfim…

  8. Sebastian em março 14, 2013 às 20:05
    #8

    Desanimado? O Marko sempre foi assim, eu já vi fotos de praticamente todos os shows da banda, e ele sempre é assim, fechadão. Mas ele é o mais simpático e carismático quando conversa com os fãs.

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