O Homem Baile

Altos e baixos

Lacuna Coil ignora as origens, toca com gravação no lugar de baixista, inclui arranjos acústicos e faz apresentação irregular na estreia da primeira turnê brasileira como headliner. Fotos: Daniel Croce.

Cristina Scabia no comando: noite de erros e acertos na primeira turnê do Lacuna como banda principal

Cristina Scabia no comando: noite de erros e acertos na primeira turnê do Lacuna como banda principal

Quase duas horas depois do início do show do Lacuna Coil, ontem, no Circo Voador, no Rio, a cantora Cristina Scabia explicava que algumas pessoas morrem, mas não vão embora: são espíritos que circulam entre nós. Era o início do bis, e ela dizia que a música “My Spirit”, a última a ser tocada, foi composta em homenagem a Peter Steele, o líder do Type O Negative, morto em 2010. Arrastada, densa, pesada, dramática até, a canção faz jus ao homenageado e sua banda, e foi um dos poucos momentos em que o grupo italiano honrou as origens ligadas ao gothic metal que o revelou. Soou como um pedido de desculpas ao público e aos fantasmas do rock que entranham o Circo Voador para todo o sempre. Porque a noite não foi lá das melhores.

O guitarrista Cristiano Migliore: coadjuvante

O guitarrista Cristiano Migliore: coadjuvante

Primeiro que o grupo está em turnê sem o baterista, substituído por um dos roadies (até aí tudo bem), e sem o baixista, posto ocupado por… ninguém! As notas graves, substanciais para o gênero, eram ouvidas graças ao play apertado na mesa de som por um dos técnicos do grupo, assim como os teclados, também pré-gravados. Um procedimento lamentável que jamais pode ser regra no rock, muito menos no metal. Depois, talvez por ser a primeira turnê brasileira como banda principal, Scabia e asseclas decidiram fazer um set acústico totalmente dispensável e em dissintonia com a própria história da banda. É bem verdade que só “Closer”, entre as quatro versões acústicas, saiu perdendo, mas no lugar das outras três baladinhas a banda bem que podia investir em músicas dos dois primeiros álbuns, “In a Reverie” (1999) e “Unleashed Memories” (2001), representados apenas por uma música cada um.

Por outro lado, é a turnê do bom álbum “Dark Adrenaline”, lançado no ano passado, e é justo – e também sinal de coragem – que o grupo inclua nada menos que sete das 12 músicas do CD no show. Assim, o início do set é um festival de refrões, pelos quais o grupo pegou gosto quando atravessou as fronteiras do underground europeu e foi flertar abertamente com o pós punk de origem, quase pop, e com o nu-metal made in America - os uniformes não negam. “I Won’t Tell You”, do álbum anterior, “Shallow Life”, vem com uma bateria anos 80 renovada que parece ter saído de um disco do Franz Ferdinand. “Kill The Light”, a terceira, gruda como poucas pérolas do pop mundial, e na dobradinha “Heaven’s a Lie”/”To The Edge”, essa última com direito à cabeleiras giratórias do thrash metal, o público canta como se não houve amanhã.

Cristina Scabia e Andrea Ferro: dueto entrosado

Cristina Scabia e Andrea Ferro: dueto entrosado

É bom ressaltar o papel do vocalista Andrea Ferro. De coadjuvante simplório de Scabia em tempos idos, em que usava vocais rasgados como contraponto aos da moça, mais agudos, Andrea hoje é cantor de verdade, sem utilizar de artifícios banalizantes intrínsecos ao death metal mais underground. Dá até pra dizer que nessa fase chiclete ambos não sobreviveriam um sem o outro. Daí a esperta Scabia responder com gritos de “Lacuna! Lacuna!” quando o público, cheio de marmanjos babões, puxa o coro “Cristina! Cristina!”. A coadjuvância fica por conta da dupla de guitarristas Cristiano Migliore e Marco Biazzi, concentrados mais nas melodias e solando em situações pontuais, como no já citado final dramático de “My Spirit” e em “Upsidedown”, que, ao vivo, cresce um bocado.

Outros destaques da noite são “Swamped”, com show particular de Cristina Scabia; a sinistra “Trip The Darkness”, peça perfeita do encontro gothic metal/pós punk/pop contemporâneo encontrado pelo Lacuna; e “Intoxicated”, reveladora das dores de amor da bela Cristina, outra paulada. No final, o público, vitimado por greve de ônibus, chuva e atraso causado pela logística Montevidéu (onde a banda tocou na quinta)-Rio, se esbaldou e até deixou o palco repleto de presentinhos para o grupo. Entre eles, uma inédita bandeira do Estado do Rio de Janeiro, coberta de assinaturas. Os italianos gostaram e prometeram voltar logo, claro.

Scabia deixa os marmanjos babando na plateia

Scabia deixa os marmanjos babando na plateia

Na abertura, o Painside fez uma boa apresentação, investindo num metal tradicional encorpado, cheio de referências a outros subgêneros do metal. Tanto que a cover escolhida para a noite – nem precisava – foi para “Before I Forget”, do Slipknot. Um problema a ser resolvido é a forte influência de Bruce Dickinson sobre o vocalista Guilherme Sevens, que precisa achar o próprio caminho. Sevens acabou protagonizando o momento curioso da noite, quando, durante a música “Reject The Silence”, subitamente deslocou o ombro, deixou o palco e depois voltou com uma improvisada tipóia de atadura, para cantar “Unbreakable”. Ossos do ofício.

Set list completo Lacuna Coil:
1- I Don’t Believe In Tomorrow
2- I Won’t Tell You
3- Kill the Light
4- Self Deception
5- Heaven’s a Lie
6- To the Edge
7- Senzafine
8- Swamped
9- Fragile
Acústico
10- Falling Again
11- Closer
12- Within Me
13- Shallow Life
Fim do Acústico
14- Our Truth
15- Upsidedown
16- End Of Time
17- Survive
18- Intoxicated
19- Trip The Darkness
20- Spellbound
Bis
21- My Spirit

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Marina Aieta em março 3, 2013 às 10:56
    #1

    Mas, gente! Gostei muito da banda há uns anos atrás, com uns 12, 13 anos, confesso que senti vontade de ir ao show, mas acabei esquecendo da data. Por sorte, né? Me irrita tanto coisas gravadas. Eu acabo o show inteiro prestando atenção no que é e no que não é gravado, me distrai, ahahah.

    E senti falta de algumas músicas aí. Vou citar a Enjoy The Silence. Acho que é uma das mais conhecidas deles por pessoas que eu conheço, ou aquela de “comecei a ouvir Depeche depois do Lacuna”, talvez tenham deixado muita gente esperando-a. Inclusive eu se tivesse ido ao show sairia decepcionada.

  2. Paulo Henrique em março 3, 2013 às 12:50
    #2

    Por que eles vieram sem baixista?

  3. Frederico Cruz em março 3, 2013 às 13:32
    #3

    Eu inicialmente até achei que o baixista estava escondido… mas depois percebi que era pré gravado… A apresentação foi bem irregular e só não digo que foi perda de tempo ir pois não esperava muito do show…

  4. Ana em março 3, 2013 às 21:14
    #4

    Em 2010 eles fizeram um show próprio, ou seja essa é a segunda fez que eles vêm ao Brasil como headliner! E aos que querem um show com musicas antigas, o visual Karma taí pra isso! Eles tê mais é que se inovar sempre!

  5. Suellenn em março 5, 2013 às 23:52
    #5

    Primeiro que essa não é a primeira vez que o Lacuna Coil faz show como headliner no Brasil, teve um único show em São Paulo em 19/06/2010. Segundo, o baixista Marco Coti Zelat está de licença, já que está com tendinite e nem sempre é fácil arrumar alguém pra substituir temporariamente! Vide o caso do Xandria, em que o Nils Middelhauve havia saído da banda, porém como não tinha ninguém pra substituí-lo, ele ficou até arranjarem alguém pra ficar no seu lugar (isso demorou quase um ano, se não passou disso). Terceiro, o Criz Mozzati está em casa com a família, pois faz pouco tempo que se tornou pai! Veja bem, uma crítica é sempre bem vinda, até pra aperfeiçoar o que há de errado na banda. Mais acho que antes de vocês divulgarem qualquer coisa em uma matéria possivelmente visada, se informarem melhor! O baterista substituto, Ryan Folden não é nenhum amador, então fez um ótimo trabalho. E apesar de terem realizado o show sem o baixista, o show foi impecável! A maioria que foi ao show e é fã da banda, já estava ciente dessa informação desde outubro de 2012! Para que gastou dinheiro comprando ingresso então? Quanto a não terem tocado “Enjoy the Silence”, a música é cover! Eles estavam aqui em comemoração aos 15 anos de carreira da banda, com direito a músicas na íntegra da banda e não a tocar covers! Querem ouvir “Enjoy the Silence” vão no Youtube e pesquisem pelo Depeche Mode ou as gravações em que o Lacuna Coil gravou o clipe ou eles a cantaram ao vivo!

  6. carlos eduarco em março 13, 2013 às 11:41
    #6

    Concordo com a Suellen. O show teve algumas irregularidades como a falta do baixista e do baterista (que para quem sabe, foi justificada), a falta da música “Enjoy the Silence”, blábláblá. Mas foi muito foda! E para a menininha que deixou de ir porque iria se sentir decepcionada, perdeu! O dia não estava legal para um show de rock (estava chovendo e os ônibus do centro do Rio estavam em greve. Mas mesmo assim os fãs foram à loucura com a performance dos caras e eles se surpreenderam com a nossa empolgação! E para quem reclamou que eles não cantaram mais músicas antigas, vou dizer a vocês que eles estão em turnê do novo álbum! Fã que é fã sabe dessas informações. Agora um cara que vai para um show de rock só para ver defeitos, é só mais um que quer aparecer.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado