O Homem Baile

Irmãos do barulho

Cavalera Conspiracy atrasa, mas satisfaz os fãs com muito esporro em show intenso; repertório é dividido entre os dois álbuns do grupo e clássicos da era de ouro do Sepultura. Fotos: Michael Meneses.

Max Cavalera detonando com sua guitarra à frente do Cavalera Conspiracy: valeu à pena esperar

Max Cavalera detonando com sua guitarra à frente do Cavalera Conspiracy: valeu à pena esperar

Uma trapalhada dos diabos fez o Cavalera Conspiracy passar o dia inteiro no aeroporto antes de chegar direto no Circo Voador, no Rio, para começar o show quase às duas da madrugada desta sexta. “Demorou, mas chegou”, disse Max Cavalera, de guitarra em punho, para acalmar os fãs, que, revoltados, já atiravam garrafas plásticas nos roadies que se desdobravam para montar o palco. Acalmar o modo e dizer, porque aí é que a agitação começou, com uma furiosa apresentação que durou pouco mais de uma hora, mas teve uma intensidade de furacão americano. Não era para menos: estavam no palco os irmãos Cavalera, fundadores do Sepultura, a banda brasileira mais bem sucedida no exterior em todas as épocas.

Iggor Cavalera senta o braço como nos bons tempos

Iggor Cavalera senta o braço como nos bons tempos

Para muitos a banda que estava ali era o “verdadeiro Sepultura”, considerando que no grupo atual, liderado por Andreas Kisser, não há integrantes relevantes da formação original. E que, no show, sete das 16 músicas são hits do Sepultura, da fase com os Cavalera, e as demais são os dois discos do CC. É difícil também fazer a diferença entre a banda e o Soulfly, o grupo principal de Max, mesmo porque, na formação atual está o excelente guitarrista Marc Rizzo, com Max desde 2004 no Soulfly, e ainda Tony Campos, outro que toca nas duas bandas. E, ainda, porque as músicas do Sepultura tocadas nos dois shows são exatamente as mesmas; bem que Max poderia dar uma variada (relembre aqui como foi o show do Soulfly no mesmo Circo Voador, em fevereiro). Ou seja, o que conta é que é “Max Cavalera e mais dez” e tá tudo certo.

Honra seja feita, Max tem a manha para fazer músicas no extremo do peso com grande apelo. Não por acaso as porradas gravadas com o Cavalera têm refrões cantados pelo público, ainda que sejam brados de uma única frase ou uma palavra só. É o caso de “Torture”, “Inflikted”, música que quase virou o nome do projeto, e de “Killing Inside”, verdadeiros temas do apocalipse metálico cantadas/berradas quase em tom de assovio pelo público. A plateia – diga-se – conhece muito bem as músicas do grupo, talvez mais até do que as do Soulfly, no que é ajudada pela fúria e perfeição com que são tocadas, com um Iggor Cavalera sentando a mamona como nos bons tempos, e Max – lixão do rock em carne e osso – na ponta dos cascos, mostrando o carisma que lhe é peculiar.

Max e o duplo símbolo do metal, com Iggor ao fundo

Max e o duplo símbolo do metal, com Iggor ao fundo

As músicas do Sepultura são evidentemente as mais comemoradas e têm grande participação, mas seria uma injustiça não verificar que a plateia nervosa se bate o tempo todo, impulsionada por instinto pela agressividade das músicas e também pelo incentivo constante de Max, para a abertura da roda de pogo. Embora enfrente problemas operacionais, Iggor impinge uma incrível velocidade às músicas.

No medley “Arise”/“Dead Embrionic Cells”, por exemplo, a bateria parece que vai sair voando feito turbina de avião; em “Troops Of Doom”, iniciada por um “ôôô”, é o vocal podrão de Max que realça nos trechos mas velozes; e o solo de “Territory” fica por conta do vocalista, deixando Rizzo destruir nas músicas do Cavalera, usando o timbre melódico no “metal de raiz trazido de volta” do grupo. Em “Black Ark”, os pimpolhos Igor e Ritchie Cavalera, filho e enteado de Max, respectivamente, cantam junto com o patriarca da grande família do metal. O bis reúne a dobradinha “Inner Self”/“Roots Bloody Roots”, para deixar claro que valeu cada segundo a espera pelo início do show.

O baixista Alex Camargo, do Krisiun: desabafo

O baixista Alex Camargo, do Krisiun: desabafo

Chamar o show do Krisiun de abertura não é lá muito correto, uma vez que o show do trio durou quase o mesmo tempo que a apresentação principal, mas o fato é que bem mais cedo os irmãos Kolesne abriram a noite para os irmãos Cavalera. Como de hábito, o público carioca recebeu o grupo com uma participação atroz, lembrando que o primeiro show do novo Circo Voador, inaugurado em julho de 2004, foi do Krisiun.

As 12 músicas tocadas em cerca de 70 minutos deram uma geral na carreira, incluindo duas do álbum mais recente, “The Great Execution”: “The Will To Potency” e “Blood of Lions”. Nas duas, o grupo experimenta passagens menos velozes com muito groove entre outras rápidas, sem perder peso e agressividade habitual. O clássico “Black Force Domain” fechou a noite, não sem antes o grupo mandar o cover esperto para “In League With Satan”, do Venom, e reafirmar a força de 20 anos de metal extremo, numa cutucada/desabafo do baixista Alex Camargo: “estamos aqui para provar que o metal nacional está vivo, doa quem doer. Não é qualquer poser que vai dizer que o metal nacional acabou”. Depois de uma noitada dessas, de deixar ouvindo zumbindo deliciosamente o dia seguinte inteiro, não dá mesmo para duvidar.

Set list completo Cavalera Conspiracy
1- Warlord
2- Torture
3- Inflikted
4- Refuse/Resist
5- Sanctuary
6- Terrorize
7- Territory
8- Killing Inside
9- Blunt Force Trauma
10- Black Ark
11- Arise / Dead Embryonic Cells
12- Troops of Doom
13- I Speak Hate
14- Attitude
Bis
15- Inner Self
16- Roots Bloody Roots

Patriarca da grande família metal, Max faz a alegria da garotada: Ritchie e Igor detonam no palco

Patriarca da grande família metal, Max faz a alegria da garotada: Ritchie e Igor detonam no palco

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Papí Fajardo em novembro 16, 2012 às 19:32
    #1

    Estou em casa ainda exausto de ontem. Show excelente!
    Braços marcados, costas e ombro doloridos, mas de alma lavada…

  2. Rafael em novembro 18, 2012 às 13:53
    #2

    Showzaço, Bragatto!!!!

  3. natalia em novembro 18, 2012 às 14:40
    #3

    Tô esperando o de hj em sp

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