Nervoso
Autoramas emplaca sequência de hits no Goiânia Noise; noite foi marcada por péssima qualidade de som e ilógica simultaneidade de shows nos dois palcos do festival. Fotos Divulgação GNF: Marina Marques (1, 2 e 5) e Roberta Nascimento (3 e 4).
O Palco Esplanada, que na sexta praticamente ficou às moscas, ontem foi enfim inaugurado, e roubou a cena do Palco Palácio da Música. Por conta de uma falha incrível da produção, na primeira parte do sábado, os shows aconteciam ao mesmo tempo, deixando bandas à míngua, sem – literalmente – nenhum espectador. Não precisava expor, por exemplo, Edu K, ícone do rock nacional há décadas, a esse constrangimento. O frontman do De Falla é um dos integrantes do Atomic Mambo All-Stars, que teve mais gente em cima do palco do que no salão. Lamentável.
Quem não tinha anda com isso eram as bandas do palco Esplanada, e logo a melhor delas – e uma das melhores de todo o festival - se destacou: o Grindhouse Hotel, de São Paulo. Com uma mistura íntima de stoner rock e grunge dos mais pesadões (entenda-se Soundgarden meets Alice in Chains, com up grade), o grupo esbanjou peso, boa técnica e boas composições. O quarteto usou praticamente em todas as músicas o artifício do duplo fim: o sujeito pensa que a pauleira acabou, mas é só uma paradinha para um vigoroso e verdadeiro encerramento. A boa “The Rock’n'Roll Kids Are Coming” fechou um set tão rico em bons arranjos que só umas cinco músicas foram tocadas.Quem inaugurou o palco, mais cedo, foi o Fabulous Bandits, uma turba rock’n’roll de raiz misturado com hillbilly e country que só quer saber de farra, bebida e de se livrar da marcação do xerife. O grupo de Londrina, no Paraná, investe pesado no som de “redneck”, do interior americano, com direito a violino, baixão acústico, banjo e até três guitarras no palco. Curiosamente, tem público fiel que dança como nas festanças do antigo seriado “Os Gatões”. Diversão certa, até “It’s a Long Way to the Top”, do AC/DC, entrou na dança. Não deixe de assistir a um show dos caras. Mais cedo o trio instrumental Passo Largo, de Brasília, mostrou incrível precisão técnica e bom gosto nas composições, sobretudo o guitarrista Marcus Moraes. Quando ele acerta na mosca, o resultado é dos melhores, como em “Sujeiras de Angélica”, que abriu o set. Pena que não acontece em todas, mas aí ele faria parte do G3, de Joe Satriani, não do Passo Largo.
Quando o horário avançou e o público se concentrou no Palácio da Música, a coisa desenrolou, em que pese a péssima equalização do som. É difícil de acreditar que a mesma estrutura tenha funcionado perfeitamente para o Crucified Barbara (veja como foi), atração principal da noite, e tenha prejudicado tanto outras bandas. O supergrupo Hellsakura, que tem Cherry (ex-Okotô) e Donida, guitarrista do Matanza, por exemplo, penou para se fazer entender. O bom e pesado show deles deixou a sensação de que poderia ter sido melhor.O mesmo aconteceu com a banda feminina local Girlie Hell, que viu a noite dos sonhos de tocar no Noise junto com o Crucified quase se converter num pesadelo daqueles. Salvou a parte final do show, que teve a pressão que o tipo de som da banda exige. Quem pouco se importou com as dificuldades estruturais foi o “pulgueta” Karina Buhr, que voltou a fazer uma movimentada apresentação. É fato que a banda dela perde sem Edgar Scandurra e Fernando Catatau, ainda mais com apenas um guitarrista no lugar deles, mas o show funcionou. A cantora prova cada vez mais que o negócio dela é o palco.
As atrações internacionais do Palco Esplanada não chegaram a ser aquela coca-cola toda, mas até que o povo se divertiu. O gigante Lord Bishop chegou com a pompa de rei do “sexy rock” e fez um bom show. Sua banda é um power trio das antigas, do naipe de Cream e do Experience, de Jimi Hendrix, mas há pouco de repertório autoral, e mesmo as músicas dele se parecem muito com clássicos do rock. Alô Bishop, dá pra fazer classic rock sem soar datado, hein? Já os austríacos do Overalls, embora com menos público, se divertiram mais. O trio vai fundo em clichês do nu-metal, mas com menos pretensão, a não ser que valha a diversão. Colocou dois fãs para agitar no palco, fez todo mundo sentar e depois pular, promoveu a “abertura do Mar Vermelho” na plateia e gravou tudo que pode para a posteridade. Numa palavra? Divertido.
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Marcos Bragatto viajou á Goiânia á convite da produção do festival.
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