O Homem Baile

Nervoso

Autoramas emplaca sequência de hits no Goiânia Noise; noite foi marcada por péssima qualidade de som e ilógica simultaneidade de shows nos dois palcos do festival. Fotos Divulgação GNF: Marina Marques (1, 2 e 5) e Roberta Nascimento (3 e 4).

Trio matador: com Flávia Curi, Bacalhau e Gabriel Thomaz não tem tempo ruim, é rock!

Trio matador: com Flávia Curi, Bacalhau e Gabriel Thomaz não tem tempo ruim, é rock!

Quando o Autoramas subiu no palco do Goiânia Noise Festival na madrugada de sábado, sabia que tinha uma missão a cumprir. Com um tempo muito curto para tocar, considerando o histórico do grupo e a quantidade de fãs na cidade, o trio logo saiu emendando uma música atrás da outra, sem dar tempo para o publico respirar. Nem os tradicionais gritos de “rrrock” do guitarrista/vocalista Gabriel Thomaz resistiram a urgência da banda, que ainda teve que superar problemas técnicos de toda espécie, uma constante em todo o festival, o que tornou a apresentação, de certa forma, tensa.

Grindhouse Hotel: uma das revelações do festival

Grindhouse Hotel: uma das revelações do festival

Mas não há tensão que não seja superada quando se tem um punhado de boas músicas debaixo do braço. É “Você Sabe” de um lado, “Fale Mal de Mim” de outro, com a cantoria da plateia afiadinha. Gabriel, que de bobo não tem nada, logo pôs fim ao deserto estabelecido no palco entre banda e público, realçando as impagáveis coreografias com a baixista Flávia Curi. Até Bacalhau sai de trás da bateria para fazer das suas, em “Ex-Amigo”. Músicas do disco mais recente, “Música Crocante”, como a excelente “Abstrai”, renovada por uma linha de guitarra e “Lugar Errado”, cantada pela baixista, estão muito bem agrupadas no repertório atual. Em cerca de 40 minutos, o grupo mandou 11 músicas no talo, sem dó. Como o rock, aliás, deve ser.

O Palco Esplanada, que na sexta praticamente ficou às moscas, ontem foi enfim inaugurado, e roubou a cena do Palco Palácio da Música. Por conta de uma falha incrível da produção, na primeira parte do sábado, os shows aconteciam ao mesmo tempo, deixando bandas à míngua, sem – literalmente – nenhum espectador. Não precisava expor, por exemplo, Edu K, ícone do rock nacional há décadas, a esse constrangimento. O frontman do De Falla é um dos integrantes do Atomic Mambo All-Stars, que teve mais gente em cima do palco do que no salão. Lamentável.

Girlie Hell: raça para superar problemas com o som

Girlie Hell: raça para superar problemas com o som

Quem não tinha anda com isso eram as bandas do palco Esplanada, e logo a melhor delas – e uma das melhores de todo o festival - se destacou: o Grindhouse Hotel, de São Paulo. Com uma mistura íntima de stoner rock e grunge dos mais pesadões (entenda-se Soundgarden meets Alice in Chains, com up grade), o grupo esbanjou peso, boa técnica e boas composições. O quarteto usou praticamente em todas as músicas o artifício do duplo fim: o sujeito pensa que a pauleira acabou, mas é só uma paradinha para um vigoroso e verdadeiro encerramento. A boa “The Rock’n'Roll Kids Are Coming” fechou um set tão rico em bons arranjos que só umas cinco músicas foram tocadas.

Quem inaugurou o palco, mais cedo, foi o Fabulous Bandits, uma turba rock’n’roll de raiz misturado com hillbilly e country que só quer saber de farra, bebida e de se livrar da marcação do xerife. O grupo de Londrina, no Paraná, investe pesado no som de “redneck”, do interior americano, com direito a violino, baixão acústico, banjo e até três guitarras no palco. Curiosamente, tem público fiel que dança como nas festanças do antigo seriado “Os Gatões”. Diversão certa, até “It’s a Long Way to the Top”, do AC/DC, entrou na dança. Não deixe de assistir a um show dos caras. Mais cedo o trio instrumental Passo Largo, de Brasília, mostrou incrível precisão técnica e bom gosto nas composições, sobretudo o guitarrista Marcus Moraes. Quando ele acerta na mosca, o resultado é dos melhores, como em “Sujeiras de Angélica”, que abriu o set. Pena que não acontece em todas, mas aí ele faria parte do G3, de Joe Satriani, não do Passo Largo.

Fabulous Bandits: farra, bebida e cultura 'redneck'

Fabulous Bandits: farra, bebida e cultura 'redneck'

Quando o horário avançou e o público se concentrou no Palácio da Música, a coisa desenrolou, em que pese a péssima equalização do som. É difícil de acreditar que a mesma estrutura tenha funcionado perfeitamente para o Crucified Barbara (veja como foi), atração principal da noite, e tenha prejudicado tanto outras bandas. O supergrupo Hellsakura, que tem Cherry (ex-Okotô) e Donida, guitarrista do Matanza, por exemplo, penou para se fazer entender. O bom e pesado show deles deixou a sensação de que poderia ter sido melhor.

O mesmo aconteceu com a banda feminina local Girlie Hell, que viu a noite dos sonhos de tocar no Noise junto com o Crucified quase se converter num pesadelo daqueles. Salvou a parte final do show, que teve a pressão que o tipo de som da banda exige. Quem pouco se importou com as dificuldades estruturais foi o “pulgueta” Karina Buhr, que voltou a fazer uma movimentada apresentação. É fato que a banda dela perde sem Edgar Scandurra e Fernando Catatau, ainda mais com apenas um guitarrista no lugar deles, mas o show funcionou. A cantora prova cada vez mais que o negócio dela é o palco.

As atrações internacionais do Palco Esplanada não chegaram a ser aquela coca-cola toda, mas até que o povo se divertiu. O gigante Lord Bishop chegou com a pompa de rei do “sexy rock” e fez um bom show. Sua banda é um power trio das antigas, do naipe de Cream e do Experience, de Jimi Hendrix, mas há pouco de repertório autoral, e mesmo as músicas dele se parecem muito com clássicos do rock. Alô Bishop, dá pra fazer classic rock sem soar datado, hein? Já os austríacos do Overalls, embora com menos público, se divertiram mais. O trio vai fundo em clichês do nu-metal, mas com menos pretensão, a não ser que valha a diversão. Colocou dois fãs para agitar no palco, fez todo mundo sentar e depois pular, promoveu a “abertura do Mar Vermelho” na plateia e gravou tudo que pode para a posteridade. Numa palavra? Divertido.

Pura diversão: os austríacos do OverAlls fazem a festa do animado público no Palco Esplanada

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Veja também: como foi a primeira noite do festival

Veja também: como foi o show do Crucified Barbara no festival

Marcos Bragatto viajou á Goiânia á convite da produção do festival.

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