O Homem Baile

A história, ao vivo

Em show retrospectivo com vários ex-integrantes, Ratos de Porão repassa toda a história do grupo no Circo Voador. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação (1 e 4) e Michael Meneses (2 e 3).

Jão, Spaghetti, João Gordo e Jabá: a formação clássica que gravou grandes álbuns do Ratos de Porão

Jão, Spaghetti, João Gordo e Jabá: a formação clássica que gravou grandes álbuns do Ratos de Porão

Existem muitas maneiras de se conhecer a história de mais de 30 anos do Ratos de Porão, de longe a maior banda de punk/hardcore do Brasil e uma das mais respeitadas em todo o mundo. O sujeito pode chafurdar na internet, passar horas na frente da TV assistindo ao (apenas razoável) DVD “Guidable” (2009), ou mesmo chamar os amigos para ouvir a extensa discografia do grupo e encher a cara. Mas a melhor delas é mesmo esse show que o grupo está fazendo com a participação de quase todos os ex-integrantes, com eles próprios contando como as coisas aconteceram, tudo – claro – muito bem ilustrado com as incríveis porradas lançadas pelo grupo, incluindo músicas nem sempre tocadas regularmente nos shows. Quem foi ontem, ao Circo Voador – só podia ser lá – não se arrependeu.

Porrada: os quatro fantásticos da formação atual

Porrada: os quatro fantásticos da formação atual

Não que tem sido um showzaço daqueles que o Ratos sempre faz no Circo, mesmo porque o show pra valer mesmo, com a formação atual, com os músicos em forma, só começou lá na 19ª música (veja o set list no final do texto). Mas tudo sendo contado em ordem cronológica, com muitos detalhes, e com quem de fato estava lá, faz desse show um evento único e imperdível. Tem por exemplo, o multifuncional Jão, que se firmou como guitarrista dos bons, cantando na fase antes de João Gordo, e tocando bateria em músicas como “Que Vergonha”, do contemporâneo Olho Seco, que ganhou fama com o Ratos. Os ex-integrantes, hoje, têm uma aparência bem diferente da época, e só são reconhecidos por aqueles que assistiram ao documentário “Guidable”.

Cabe ao figuraça João Gordo, que só entrou na sétima musica, mandar as sempre boas sacadas. “Aí o Mingau virou new wave e traiu o movimento, foi montar o 365”, disse, ao se despedir do hoje baixista do Ultraje a Rigor e figura marcante do punk nacional. “Mas foi você que fez o anúncio na TV”, retrucou Mingau. Só Jão saiu do sério e deu uma bronca ao vivo em Spaghetti, que teria faltado ao ensaio anterior ao show e errou feio em “Morte e Desespero”. É muito legal ver a formação que gravou os discos “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo”, “Brasil” e “Anarkophobia” (primeia foto), verdadeiros clássicos do hardcore mundial, reunida de novo, ainda que sem condição de segurar um show inteiro com a pegada animal de uma apresentação do Ratos. De todos os ex-integrantes, só os baixistas Waltinho e Pica-Pau não compareceram. Pense: que banda com 30 ou mais anos de história, em todo o mundo, consegue uma reunião festiva como essa, sem mágoas? Parabéns ao nobre gesto do Ratos.

O incrível João Gordo, com Jão na bateria

O incrível João Gordo, com Jão na bateria

Afora as rodas de pogo e os moshs sem fim, atração à parte num show do RDP, um olhar com mais atenção capta facilmente as várias fases pelas quais a banda passou. É possível identificar o punk rock ingênuo do início; o pulo para o hardcore furioso; o encontro com o thrash metal, num crossover de arrepiar; o flerte ligeiro com o metal industrial; as homenagens bem humoradas do punk mundial e local, da fase “feijoada”; e o crust da última década que desaguou numa fábrica de esporro cada fez mais feroz e agressiva.

No último terço do show, que durou 75 minutos e 30 músicas, a formação atual detonou o Circo com músicas recentes numa voracidade incrível, a custa da velocidade imposta pelo batera Boka e da capacidade de Gordo de acompanhar e de se fazer – à sua maneira – ser entendido. E ele reforçou: o grupo está se organizando para gravar um novo álbum. Para o final, o quarteto matador deixou hinos como “Aids, Pop, Repressão”, “Beber até Morrer” e “Crise Geral”. Fim da aula de história, e ninguém queria ir para o recreio.

A abertura ficou por conta do renascido Serial Killer, que fez certo sucesso na cena underground dos anos 90. O grupo tocou por cerca de 40 minutos e relembrou músicas conhecidas como “Seus Amigos”, gravada pelo Planet Hemp, a própria “Serial Killer” e “Toque de Recolher”. As três foram emendadas no final, depois que o grupo homenageou o Garotos Podres, com a trinca “Garoto Podre”/“Johnny”/“Anarquia Oi”, levantando o público. Explica-se que a noite era uma repetição do show de 1996, no qual a fanfarra que comemorava a então eleição do prefeito Conde, foi expulsa do Circo Voador, resultando no fechamento do local, que só voltaria, reconstruído como é hoje, oito anos depois, em 2004. Na ocasião, tocaram Ratos de Porão, Garotos Podres e Serial Killer, mas dessa vez o Garotos não pode vir.

Serial Killer no palco: hits dos anos 90 e homenagem ao Garotos Podres, ausência sentida na noite

Serial Killer no palco: hits dos anos 90 e homenagem ao Garotos Podres, ausência sentida na noite

Set list (quase) completo Ratos de Porão
Jão (guitarra/vocal), Jabá (baixo) e Betinho (bateria)
1- Por Que?
2- Corrupção
Jão (vocal), Mingau (guitarra), Jabá (baixo) e Betinho (bateria)
3- Não Podemos Falar
4- Vida Ruim
5- Novo Vietnam
6- Jane
João Gordo (vocal), Mingau (guitarra), Jabá (baixo) e Jão (bateria)
7- Morrer
8- Que Vergonha
9- Asas da Vingança
10- Crucificados Pelo Sistema
João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Jabá (baixo) e Spaghetti (bateria)
11- No Junk
12- Tatoo Maniax
13- Morte e Desespero
14- Terra do Carnaval
João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Jabá (baixo) e Boka (bateria)
15- Commando
João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Fralda (baixo) e Boka (bateria)
16- Atitude Zero
17- Guerra Civil Canibal
18- Engrenagem
João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria)
19- Pedofilia Santa
20- Expresso da Escravidão
21- Toma Trouxa
22- Homem Inimigo do Homem
23- Aids, Pop, Repressão
24- Beber até Morrer
25- Sofrer
26- Olho de Gato
27- Medo de Morrer
28- Buracos Suburbanos
29- A confirmar
30- Crise Geral

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Sura em maio 10, 2014 às 9:28
    #1

    O Spaghetti gravou com a banda Excomungados do polemico Pekinez Garcia um som que está no novo disco No Nirvana (2014).

  2. MAO em setembro 12, 2014 às 13:23
    #2

    MAO ex vocalista do Garotos Podres gravou uma musica com participação do polemico vocalista Pekinez Garcia da lendária banda punk Excomungados! A musica é Hospícios da banda Excomungados, e tem participação de João Gordo! Aguardem!

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