O Homem Baile

Precisão histórica

Afiado, Barão Vermelho revê 30 anos em 30 das músicas mais representativas de toda a carreira. Foto: Dafne Komora Tambeiro/Divulgação.

baraofundicao12As cinco mil pessoas que abarrotaram a Fundição Progresso, ontem, no Rio, na têm do que reclamar. Em mais de duas horas de show, o Barão Vermelho tocou todas aquelas músicas que todo mundo queria ouvir. Depois de um recesso que parecia não ter fim, a ansiedade, de parte a parte, era grande, o que resultou num verdadeiro congraçamento de energias. Era a banda, afiadíssima, de um lado, tocando rock de verdade, e, de outro, um público que se recusava a deixar o local e acabou ganhando uma “saideira” a mais, como disse Roberto Frejat.

Há muitas maneiras de se comemorar uma carreira de 30 anos, e o Barão, embora esteja para lançar uma versão caprichada do álbum de estréia, optou não por tocar a íntegra dele, mas por dar um passeio em sua história. E o set list (veja abaixo) parece ter sido elaborado por um pesquisador, tamanha a precisão e o compromisso em pinçar exatamente o que rolou de representativo para os Barões nessas três décadas. Assim, a banda agradou aos “die hard fans” com resgates como “Billy Negão” (do primeiro disco) e “Carne de Pescoço” (do segundo), ambos hits dos tempos do início no Circo Voador e da Flu-FM, que a maioria da plateia não conhecia; mostrou as releituras de Legião Urbana e Raul Seixas, entre outras; salientou hits da “fase violão” (“Política Voz”, por exemplo); e ainda arrebanhou high lights marcantes da carreira solo de Cazuza. Na contabilidade final, só o bom disco “Rock’n Geral”, de 1987, não foi contemplado entre as 30 músicas do show.

“Sempre me perguntam sobre homenagens ao Cazuza”, diz o falastrão Frejat. “Mas todo show do Barão tem sempre o Cazuza, é uma homenagem a ele”, completa, antes de levar, junto com Dé, o baixista da formação original, na guitarra, a desencravada “Bilhetinho Azul”. O enferrujado Dé participaria em outras partes da apresentação, assim como outros ex-integrantes, como o baixista Dadi e o guitarrista Serginho Serra (também Ultraje a Rigor), são lembrados nesse show retrospectivo. Ferrugem é o que não havia nas endiabradas guitarras de Frejat e Fernando Magalhães. Para se ter uma ideia, o início é nitroglicerina pura, com “Por Que a Gente é Assim”, “Ponto Fraco” e “Pense e Dance” emendadas com direito a riffs, evoluções e solos de toda a espécie, levando o público a uma participação contagiante.

O artifício de juntar músicas (medley, pout pourri, como queiram), que muitas vezes reduz o tamanho de algumas músicas, aqui funciona pelo fator surpresa e pela expectativa do público. De tanto tempo sem ver um show ou ouvir um disco do grupo, as músicas aparecem de supetão e arrebatam em nome do rock. A dobradinha “Bete Balanço”/”A Chave da Porta da Frente” que o diga. Em “Billy Negão” e “Pro Dia Nascer Feliz”, ente outras, Frejat debulha a guitarra sem dó, como se subisse no palco pela primeira vez, só que – seguramente – tocando bem melhor. E o coadjuvante Fernando Magalhães não deixa por menos: é ele quem esmerilha a guitarra em “Pedra, For e Espinho” e em “O Poeta Está Vivo”. Juntos, os dois parecem clones do bem de Chuck Berry, solando feito crianças em “Maior Abandonado”, que fecha a primeira parte do show. Completam a formação o baixista Rodrigo Santos, o baterista Guto Goffi, o tecladista Maurício Barros e o percussionista Peninha.baraofundicao12-2Os momentos de grande emoção ficam para “O Tempo Não Pára” e “Por Você”. A primeira, música símbolo de Cazuza, caiu muito bem ao ser anexada à messiânica “Tente Outra Vez” (não vivem pedindo pra tocar Raul?), e a segunda impressiona pelo sucesso junto ao público feminino. A intensa declaração de amor de Mauro Santa Cecília acerta em cheio o coração das meninas e o tom de voz da cantoria da Fundição muda na hora. Na tal música nova, “Sorte e Azar”, achada nos alfarrábios do grupo, na hora de remixar o primeiro disco (saiba mais), teve-se o bom senso – e o bom gosto - de não colocar a voz de Cazuza gravada. Em linhas gerais, foi a única que deixou a animadíssima plateia de bico calado. Ao menos por enquanto. Público que não queria arredar o pé da Fundição e ganhou, de presente, a sempre contagiante “Satisfaction”, dos Stones, célula mater do Barão Vermelho. Esse foi só o primeiro show, que deve se transformar em uma turnê. Se passar por um local perto de você, não deixe de ir.

Na abertura, o Autoramas mostrou músicas do disco mais recente, “Música Crocante”. Destaque para o hit nato “Abstrai” que, sem os geniais teclados que envolvem a música, ganhou evoluções de guitarra de dar gosto. É de se salientar como o trio está mais redondo que nunca, com a baixista Flávia Couri bem entrosada, se saindo muito melhor que a encomenda. É a danadinha que canta em “Lugar Errado”, outra das boas, entre as novas. Com um repertório ampliado e consolidado, já dá até para reclamar de músicas que não entraram no set, que, como abertura, durou só uns 40 minutinhos. Mas é melhor citar a porrada eloquente que é “Você Sabe”, tocada na pressão, e a sarcasticamente deliciosa “Fale Mal de Mim”. Recomenda-se, com urgência, uma apresentação inteirinha de Gabriel Thomaz e sua turma.

Set list completo Barão Vermelho
1- Por Que a Gente é Assim
2- Ponto Fraco
3- Pense e Dance
4- Cuidado
5- Menina Mimada
6- Billy Negão
7- Carne de Pescoço
8- Meus Bons Amigos
9- Política Voz
10- Tão Longe de Tudo
11- Por Você
12- O Poeta Está Vivo
13- Bilhetinho Azul
14- Todo Amor Que Houver Nessa Vida
15- Sorte e Azar
16- Pedra Flor e Espinho
17- Vem Quente Que Eu Estou Fervendo
18- Bete Balanço
19- A Chave da Porta da Frente
20- Puro Êxtase
21- Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto
22- Malandragem Dá Um Tempo
23- Declare Guerra
24- Maior Abandonado
Bis
25- Down em Mim
26- O Tempo Não Para
27- Tente Outra Vez
28- Pro Dia Nascer Feliz
Bis
29- Codinome Beija-Flor
Bis
30- Satisfaction

Set list completo Autoramas
1- Mundo Moderno
2- Domina
3- Abstrai
4- Verdugo
5- I Saw You Saying
6- Você Sabe
7- Verdade Absoluta
8- Lugar Errado
9- Jogos Olímpicos
10- Minha Fama de Mau
11- Fale Mal de Mim

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Selma Boiron em outubro 21, 2012 às 19:29
    #1

    Não me conformo de ter perdido isso… Foi dose única, Bragatto? Tô quase me suicidando!

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