O Homem Baile

Na pressão

Com atraso, Linkin Park estreia no Rio, amplia o tamanho show, supera problemas técnicos e enlouquece a plateia que lotou o Citibank Hall. Fotos: Bruno Eduardo.

O agitado Chester Bennington aponta para a verdadeira multidão que lotou o Citibank Hall

O agitado Chester Bennington aponta para a verdadeira multidão que lotou o Citibank Hall

Desde de 2004, quando o Linkin Park, no auge do sucesso do álbum “Meteora”, fez o único show da América Latina, em São Paulo, que o público carioca estava a ver navios. A recompensa veio com oito anos de atraso, com um bônus de 15 minutos (1h45 no total), em relação ao show dessa mesma turnê, anteontem, na capital paulista (veja como foi) e ainda com um show extra a ser realizado amanhã. As cerca de 8500 pessoas que lotaram o Citibak Hall fizeram a sua parte, cantando cada uma das músicas, incluindo as do disco mais recente, “Living Things”, num espetáculo de interatividade real entre público e banda que há tempos não se via na Cidade Maravilhosa.

Animadaço, Mike Shinoda faz de tudo um pouco

Animadaço, Mike Shinoda faz de tudo um pouco

O grupo modificou o palco da casa, com a instalação do cenário completo da turnê, na versão indoor, que inclui o telão de alta definição, as torres com luzes nas laterais, sutis elementos industriais espalhados entre os instrumentos, e luz, muita luz. A configuração foge do arranjo tradicional, com bateria de um lado, DJ/teclados do outro e o “faz tudo” Mike Shinoda e suas tralhas no centro, com uma chamativa bandeira pintada em verde e amarelo dependurada. Foi ele que se viu em apuros, na hora em que banda ia tocar “Numb”, já na segunda metade do show, quando deu pau no equipamento. Enquanto a coisa não se resolvia, Chester Bennington, o outro vocalista, puxou “Crawling”, à capela, antes de antecipar “In The End”, enquanto os técnicos davam jeito no problema. O artifício acabou juntando dois dos maiores hits da banda, um após o outro, fato raro nessa turnê.

“Vocês cantam melhor do que eu”, disse Chester, enquanto improvisava em “Crawling”. O que não e lá muita vantagem. Se mostra versatilidade quando canta de forma mais gritada ou até gutural (“New Divide”, “Victimized”), ele desafina na maior parte do tempo quando tem que ser cantor (“Lost In The Echo”, “Leave Out All The Rest”) sem o menor constrangimento. Do outro lado, Shinoda, com a expressão do sujeito mais feliz do mundo, se concentra nas partes rap das músicas. Soa como rap insosso de shopping na maior parte do tempo, a ponto de o público não dar muita bola para a citação a “Sabotage”, dos Beastie Boys - estes, sim, de verdade. E olha que o LP vem citando essa música nos shows há um tempão.

Chester real faz dupla com a imagem de Shinoda

Chester real faz dupla com a imagem de Shinoda

Embora tenha nascido com o cordão umbilical grudado no nu-metal que dominava o mercado americano, o sexteto logo soube rumar ao pop, fundindo elementos muitas vezes imiscíveis: guitarras pesadas (às vezes nem tanto), rap e eletrônica. O resultado cai como uma luva para a farra de ecléticos dos nossos tempos, a ponto de porradas nervosas como “Victimized”, quando a banda presta vassalagem ao esporrento Ministry, conviver em harmonia com, por exemplo, a tecladeira esperta de “Lost In The Echo”, na qual o público reage como se estivesse numa das micaretas espalhadas pelo litoral brasileiro. Melhor deixar o discernimento de lado, em nome da diversão mesmo.

Essa mistura de tudo às vezes funciona como um quebra cabeças que nem sempre tem as partes encaixadas com precisão, e estabelece a dúvida: os rapazes são bons compositores, criadores de hits, ou sobrevivem de montar arranjos bem acabados? É óbvio que hits como “Breaking The Habit”, a dobradinha casual “In The End”/”Numb” e “Somewhere I Belong”, outra cantada a plenos pulmões, falam por si, mas o que esperar a partir disso? Um bom exemplo é a forte “The Catalyst”, que, ao vivo, cresce horrores, com todos os elementos do grupo funcionando certinho, numa das melhores performances da noite.

Chester num momento de tranquilidade, ao lado do deck de Shinoda, com a bandeira verde e amarela

Chester num momento de tranquilidade, ao lado do deck de Shinoda, com a bandeira verde e amarela

Se havia dúvidas em relação ao bis, por causa dos problemas técnicos, ele veio na pressão, com “Faint”, quem tem sido usada na abertura os shows, e “One Step Closer”, com direito a explosões, labaredas e cascatas de fogo que já tinham aparecido em “Burn It Down” e “Bleed It Out”, ocasionalmente tocadas em sequência no final da primeira parte. Em relação ao show de 2010, no SWU (veja como foi), o grupo parece melhor resolvido ao misturar as músicas do novo álbum (cinco no total), com as antigas, superando uma indecisão crônica, e com a vantagem e “Living Things” ser melhor que “A Thousand Suns”. Resta saber o que eles vão aprontar no show de amanhã, no mesmo Citibank Hall.

Set list completo
1- A Place for My Head
2- Given Up
3- New Divide
4- With You
5- Somewhere I Belong
6- In My Remains
7- Victimized
8- Points of Authority
9- Lies Greed Misery
10- Waiting for the End
11- Breaking the Habit
12- Leave Out All the Rest/Shadow of the Day/Iridescent
13- The Catalyst
14- Lost in the Echo
15- Crawling
16- In the End
17- Numb
18- What I’ve Done
19- Burn It Down
20- Bleed It Out
Bis
21- Faint
22- Lying From You/Papercut
23- One Step Closer

A turnê do Linkin Park tem mais um show no Rio de Janeiro, nesta quarta (10/10), no Citibank Hall; e termina em Porto Alegre, no Gigantinho, na sexta, dia 12. Clique aqui e veja matéria completa sobre a turnê.

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