O Homem Baile

Guitarras mágicas

Acompanhado por excelentes guitarristas, baixista original do Wishbone Ash revive os grandes sucessos do grupo e empolga a plateia do Rio Prog Festival. Foto: Bruno Eduardo.

Todo o feeling do baixista Martin Turner, que mantém vivo o som peculiar criado pelo Wishbone Ash

Todo o feeling do baixista Martin Turner, que mantém vivo o som peculiar criado pelo Wishbone Ash

Os guitarristas britânicos Ray Hatfield e Danny Willson estavam se divertindo em pleno palco do Teatro Rival, ontem, no Rio. Depois de quase duas horas de show, lado a lado, um tocava na guitarra do outro, para delírio do público que lotou a casa. E a tarefa que lhes foi dava não era nada fácil: reviver as guitarras gêmeas criadas por Ted Turner e Andy Powell no início dos anos 70, que influenciaram tudo o que foi feito nas seis cordas desde então. No centro do palco, o baixista Martin Turner, integrante fundador do Wishbone Ash, garantia o sucesso da empreitada, como um embaixador do legado da banda. Era a música “Jail Bait”, um bluesão às avessas feito para as guitarras brilharem com se não houvesse amanhã.

Visto de longe, o Martin Turner’s Wishbone Ash pode até parecer uma banda cover, afinal há só um integrante da formação original e o Wishbone Ash, com o nome de batismo, ainda existe sob o comando de Andy Powell e lança discos com razoável frequência. Daí a importância da dupla de guitarristas não vacilar e segurar a vibe do grupo original, o que acabou acontecendo, aos poucos, mas aconteceu. Porque o começo não foi lá dos mais animadores. Embora o set tenha sido aberto com “Why Don’t We”, do álbum que marcou uma das voltas da formação original, em 1989, e que tocou muito na Fluminense FM, as músicas escolhidas pelo quarteto não colaboraram. Hatfield, por exemplo, só foi se soltar em “Ballad Of Beacon”, iniciando um diálogo melódico com Willson que iria marcar a noite.

O set é dividido em duas partes, com meia hora de intervalo, e, na primeira, o Rival veio abaixo de verdade em “The Way Of The World”, cujas mudanças de andamento levaram os fãs de rock progressivo a uma piração na “música hippie dos anos 70”, como definiu Turner. A canção, que nem é uma das mais queridas do grupo, ganhou uma versão pesada com a dupla de guitarristas indo às últimas consequências, numa amostra de como a coisa aconteceria dali pra frente. Antes, em “Rock N’ Roll Widow”, Ray Hatfield já havia sacado um dedal – que circulou de uma mão a outra - para dar um show de slide guitar. Vale lembrar que todos cantam ou fazem backing vocals, resgatando outra característica do Wishbone Ash original. A instrumental “The Pilgrim” e seu poderoso riff “surpresa” foi outra que encantou o público, ratificando que passagens difíceis de tocar podem ser – devem ser! – extremamente cativantes.

Os guitarristas Ray Hatfield e Danny Willson supriram a ausência dos integrantes da formação original

Os guitarristas Ray Hatfield e Danny Willson supriram a ausência dos integrantes da formação original

A íntegra do álbum “Argus”, tocada na segunda parte, traz tudo de bom e de ruim que o artifício de tocar um disco clássico tem. A ordem das faixas pode não ser a mais adequada para um show, e algumas músicas não fazem a mínima diferença. Foi o que aconteceu com “Leaf And Stream”, por exemplo e – quase – com “Time Was”. Poderiam tranquilamente ter cedido a vaga para “Lady Whiskey” ou a “Keeper Of The Light”, só pra citar duas ausentes. A parte boa é ver clássicos emendados um depois do outro, sem dó. Caso de “Sometime World”, cujo solo de Hatfield puxa aplausos e vale um beijo do “gêmeo” Willson, e de “The King Will Come”, cujo extraordinário riff faz o público ficar de pé de imediato. É um dos muitos momentos em que os belíssimos duelos entre eles encantam o público e dão a certeza de que estão ali, vivíssimas, as guitarras mágicas criadas há 40 anos.

Malandramente “Blowin’ Free” é deslocada para o final do show. Talvez o maior sucesso do Wishbone Ash, é também uma das poucas que tem refrão, assim como “Warrior”, cuja introdução já promove um duelo de guitarras espetacular. No bis, a famosa balada “Persephone” vale mais como exercício de virtuose do que como atrativo ao público. Mas a dobradinha final com “Living Proof”, numa versão mais lenta, porém não menos interessante, e “Jail Bait”, quando os guitarristas, no êxtase da animação, se entrelaçam na beirada do palco, mata a pau. A essa altura, o público do Rival, a despeito das cadeiras empecilhantes, se acaba, de pé, com braços erguidos em direção ao palco. Tudo por causa das tais guitarras.

O 3º Rio Prog Festival continua hoje, no Teatro Rival, com o Bacamarte tocando a íntegra do álbum “Depois do Fim”; saiba mais aqui.

O Martin Turner’s Wishbone Ash segue em turnê pelo Brasil. O grupo toca hoje, em São Paulo, e depois em Belo Horizonte e Porto Alegre; veja todos os detalhes aqui.

Set list completo
1- Why Don’t We?
2- Front Page News
3- Lady Jay
4- The Ballad Of Beacon
5- Rock N’ Roll Widow
6- The Way Of The World
7- The Pilgrim
8- No Easy Road
Intervalo
9- Time Was
10- Sometime World
11- The King Will Come
12- Leaf and Stream
13- Warrior
14- Throw Down the Sword
15- Blowin’ Free
Bis
16- Persephone
17- Living Proof
18- Jail Bait

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Luiz Felipe Freitas em setembro 22, 2012 às 14:36
    #1

    Belo review para um ótimo show.

  2. Jungle Wear em setembro 23, 2012 às 16:45
    #2

    Olá!

    Parabéns pela matéria!

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