O Homem Baile

Descartável

Com pop grudento e de qualidade questionável, Maroon 5 leva histeria para público pouco interessado em boa música. Fotos: Luciano Oliveira.

Adam Levine no comando do show que levou histeria para a plateia que lotou a HSBC Arena

Adam Levine no comando do show que levou histeria para a plateia que lotou a HSBC Arena

A entrada do Maroon 5 na HSBC Arena, ontem, no Rio, foi triunfal. O palco “cresce” com uma nova disposição das treliças de iluminação e junto com os telões do fundo, em retângulos recortados, dão um brilho que passou longe da abertura, feita pelo Keane (veja como foi). O público, que antes até participava do show, agora é envolvido por uma histeria ensurdecedora. Nunca se viu, desde o advento das boy bands, tamanha gritaria feminina em um show. A abertura é com “Payphone”, hit caçula que faz parte do novo álbum, “Overexposed”, mas conhecida de todos que esgotaram os ingressos em menos de 72 horas, com dois meses de antecedência.

Matt Flynn: baterista animal sentou a mão

Matt Flynn: o baterista animal sentou a mão

O público é do tipo “acéfalo”, pouco interessado em boa música, que opta pelos gritos de acordo com a proximidade do vocalista Adam Levine, e, instintivamente, canta quase todas as músicas, hits de combalidas FMs. Por isso, durante toda a noite, os telões no fundo do palco, de alta definição, não exibem informação alguma, apenas imagens do tipo “windows media player”, num abissal contraste do excesso de ideias mostrado em shows como o de Roger Waters, que passou pelo Brasil no primeiro semestre. A banda também contribui e usa a maior parte dos 90 minutos que a apresentação dura para martelar uma saraivada de sucessos infalíveis, mas de gosto dos mais questionáveis.

O espaço é ainda preenchido por citações a Michael Jackson e a Justin Timberlake, e dois covers. O riff de “Seven Nation Army” já não pertence à Jack White ou ao rock, é o grito universal de todas as torcidas em estádios de futebol e de todas as plateias mundo afora. Por isso a escolha da música, cantada pelo guitarrista James Valentine e com Levine nas baquetas, soa oportunista, embora, por incrível que pareça, a simples adição de um contrabaixo faz a versão soar “mais real’ que a do White Stripes. Até Jack White, que em carreira solo tem banda completa, já descobriu a fórmula da pólvora. Em menor escala, no bis, “Don’t You Want Me”, do Human League, música do tipo “todo mundo conhece, mas ninguém sabe de onde”, tem o mesmo significado aproveitador.

O guitarrista James Valentine lidera a parte musical

O guitarrista James Valentine lidera a parte musical

Detalhes que pouco interessam para a plateia, embevecida por hits do naipe de “If I Never See Your Face Again”, um pop funkeado cuja gravação tem a voz da cantora Rhianna; “Won’t Go Home Without You”, uma das melhores da noite, que passeia pelo funk, reggae e até – viva! - rock, num final ultra pesado; “Hands All Over”, com belo solo de James Valentine; e, por último, no arremate óbvio, mas acertado, com o blockbuster assoviável “Moves Like Jagger”. Indiferentes ao tipo de música que tocam, ou àquilo em que ela se transformou, os integrantes do grupo - reconheça-se - fazem a lição de casa com eficácia. Bons músicos, sobretudo James Valentine e Matt Flynn, um animal das baquetas, executam cada número com destreza para que Adam Levine exerça sua vocação para performer, um dos maiores do pop contemporâneo.

O grupo também não dá mole, e sem falação emenda várias músicas antes de Levine agradecer pelo Rock In Rio, onde se apresentou há quase um ano, para cerca de 100 mil pessoas. “Foi um dos nossos melhores shows em todos os tempos, com muita energia”, disse o vocalista. De certa forma, o Maroon 5 é a versão globalizada do Jota Quest. As referências são boas, há a música negra da Motown, o soul, o reggae, o pop com guitarras. Mas as músicas não são lá grande coisa, e, as que se salvam, de tão grudentas, trazem a sensação de asco só de ouvir as vozes de Rogério Flausino ou o falsete permanente de Adam Levine. Coisas do mundo pop e do inexplicável sucesso desenfreado.

Keane e Maroon 5 volta a tocar hoje (25/8), em São Paulo; saiba mais aqui.

Adam Levine: um dos melhores performers do pop atual

Adam Levine: um dos melhores performers do pop atual

Set list completo
1- Payphone
2- Makes Me Wonder
3- Lucky Strike
4- Sunday Morning
5- If I Never See Your Face Again
6- Wipe Your Eyes
7- Harder to Breathe
8- Won’t Go Home Without You
9- Wake Up Call
10- One More Night
11- Hands All Over
12- Misery
13- This Love
14- Seven Nation Army
15- She Will Be Loved
Bis
16- Stereo Hearts Play
17. Daylight
18. Don’t You Want Me
19. Moves Like Jagger

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Comentários enviados

Existem 13 comentários nesse texto.
  1. Marco Antonio Araujo em agosto 26, 2012 às 16:53
    #1

    Quanto ódio no coração!

  2. Breno em agosto 27, 2012 às 11:54
    #2

    Pode ser só impressão minha, mas achei sua crítica um tanto quanto ressentida. Parece que você foi fã, mas por algum motivo agora tem ódio da banda. Não teve coerência, só ponto negativo. O show foi assim mesmo?

  3. Cecília inamura em agosto 27, 2012 às 14:41
    #3

    Realmente não concordo com o que você disse . Acho que a banda apela mesmo muito para canções de amor , assim como citado no texto . Mas acho que todos os integrantes da banda são , sim , bons músicos e que eles merecem o devido reconhecimento

  4. igor em setembro 1, 2012 às 19:14
    #4

    Onde tem o botão do like para o texto?

  5. Nicole em setembro 3, 2012 às 2:40
    #5

    Gato, você merece um beijo na boca por isso: “De certa forma, o Maroon 5 é a versão globalizada do Jota Quest.”

  6. EU em setembro 7, 2012 às 14:32
    #6

    Normalmente a maior parte do público da música pop não está interessada em boa música mesmo (vide os tchu-tcha da vida).
    Sou fã de Maroon, gosto de pop, mas não sou acéfala e muito menos fico de gritinho histérico pela proximidade do vocalista! rs… O show foi bom, não excelente. Eles são inquestionáveis músicos de ótima qualidade, merecem o reconhecimento, a fama.

  7. Keyla em setembro 7, 2012 às 16:05
    #7

    “(…)com belo solo de James Levine;” Por favor, quem seria James Levine?

  8. Jo Niela em setembro 7, 2012 às 23:28
    #8

    Um crítco falar de música é algo normal e corriquero, mas vir questionar a inteligência do público já é um pouco demais. E um suposto jornalista que troca os sobrenomes de membros da banda e erra os nomes da músicas que esta comentando, esse sim pode ser chamado de “acéfalo”.
    O grupo é formado por grandes músicos e compositores, as letras e melodias são o diferencial que dá ao pop deles essa energia contagiante.
    Não seja recalcado só por que as meninas gritam pelo Adam Levine, ele tem uma bela voz, num corpo perfeito, rostinho bonito e carisma inegavel, e isso tudo não apaga o talento dele, mas seu comentário torna sua crítica questionável.
    Agora, já que você acha que a música deles não é boa o suficiente, se joga cara, vai no show do Tiririca ou do Falcão procurar pessoas tão prolixas quanto você.

  9. Marcos Bragatto em setembro 8, 2012 às 11:11
    #9

    Corrigido o nome do guitarrista. Obrigado.

  10. Barbara em setembro 8, 2012 às 17:29
    #10

    Nossa, que desnecessário! O show foi maravilhoso. Os “gritos estéricos” no qual você se referiu se chama afeto, fomos muito calorosos com a banda. E isso existe em qualquer show. Todos têm a mesma reação quando se é fã de verdade. Se liga!

  11. Marina em setembro 8, 2012 às 17:31
    #11

    Acho que tá faltando o minimo de respeito com os fãs e com a banda. Se você nao gosta, isso é um particular seu!

  12. Aysha em setembro 8, 2012 às 20:57
    #12

    Que bom que você corrigiu o nome do guitarrista, seria interessante que você corrigisse o nome das músicas que é “Hands ALL Over” e não “Hands Al Over”, e também” Moves Like Jagger” e não “Moves Like Mick Jagger”.
    Aliás descartável é a sua critica, que será esquecida dentro de dois meses, se tanto. Já o Maroon 5, que completou 10 anos agora, ainda terá pela frente muito mais anos de talento e sucesso, conviva com isso.

  13. Marcos Bragatto em setembro 10, 2012 às 9:56
    #13

    Tudo corrigido, obrigado!

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