O Homem Baile

Mão na massa

Novo, mas experimentado, Joe Bonamassa revira o baú do rock em show marcado por grande performance instrumental e brilho vocal. Fotos: Luciano Oliveira.

Joe Bonamassa esmerilhou a guitarra num show muito mais para o (hard) rock do que para o blues

Joe Bonamassa esmerilhou a guitarra num show muito mais para o (hard) rock do que para o blues

Joe Bonamassa não estava pra brincadeira, e, diante de cerca de mil sortudos que compareceram ao Vivo Rio, ontem, empunhou a guitarra com vigor e enfileirou números certeiros do blues rock. A apresentação, mais para o (hard) rock do que para o blues, foi marcada pela grande performance instrumental do guitarrista e por uma surpreendente força vocal, pouco notada em gravações de estúdio. Em aproximadamente duas horas, Bonamassa passeou pela história do classic rock em um show repleto de citações, mas acessível a qualquer um minimamente interessado nesse tal de rock’n’roll. Uma apresentação para se guardar na memória.

O batera Tal Bergman tocou até com as mãos

O batera Tal Bergman tocou até com as mãos

Só depois de “Sloe Gin”, uma das melhores perfomances do guitarrista como intérprete, segundo ele próprio, é que Bonamassa fala com o público. Cita uma ligação feita pra a mãe durante à tarde e revela que foi “pressionado” pelos fãs, via e-mail, para vir ao Brasil. Santa internet. A música de Tim Curry é realmente uma das melhores da noite, mas antes o guitarrista já tinha mandado uma versão de arrepiar de “Midnight Blues”, de Gary Moore, a ponto de uma salva de palmas partir espontaneamente da plateia durante uma explosão dramática em um dos solos. Convenhamos: não é sempre que isso acontece. A escolha do irlandês Moore não é ao caso, já que Joe Bonamassa é fortemente influenciado pela escola do blues britânico.

Ele poderia sacar um tema instrumental de Jeff Beck, outra de suas claras influências, mas optou por “Blues DeLuxe”. Cantada magistralmente por Rod Stewart na versão do álbum de 1968, a música recebe uma tratamento vocal que nada fica devendo, e isso já no final do show. Em boa parte de suas releituras – e mesmo nas músicas próprias – Bonamassa conduz o público ao silêncio quase que total, ao diminuir o ritmo e o volume dos instrumentos, como se a música chegasse ao fim, para, em seguida, voltar com um solo ou uma evolução instrumental de tirar o fôlego. O artifício cai muito bem em “Song Of Yesterday”, uma ode ao Deep Purple, de sua outra banda, o Black Country Communion, e em “Dust Bowl”. Esta deságua numa improvisação das boas, que chega a ser física, com o batera Tal Bergman e o baixista Carmine Rojas.

Bonamassa só usou duas guitarras em todo o show

Bonamassa só usou duas guitarras em todo o show

Mas o duelo mais divertido é o travado entre Bonamassa e Bergman, numa versão sensacional de “Young Man Blues”, do The Who, no qual Rojas também se mete. A música, que encerra a primeira parte com um peso extraordinário, traz citações a clássicos do rock (e do hard rock), não de forma óbvia, mas em sutis colocações. Há quem tenha ouvido Bad Company ou Led Zeppelin, mas muito só vão se lembrar de Whitesnake e Free – todos, não por acaso, britânicos. É também o que acontece no final do bis, quando “Just Got Paid”, de ZZ Top, ganha uma versão arrasa quarteirão de mais de dez minutos, com Joe esmerilhando a guitarra sem dó. Do novo álbum, “Driving Towards The Day Light”, só entraram no repertório a boa faixa título e “Who’s Been Talking”, de Howlin Wolf.

Um ponto que não pode ser deixado de lado é a versatilidade do guitarrista, que se sai bem no ritmo, na escolha dos timbres de suas duas guitarras (não eram quatro?), na hora de solar, quando a música pede velocidade, quando o feeling é que prevalece… Em cada um desses momentos, Joe Bonamassa mostra uma incrível capacidade de adequação e a facilidade de quem começou tocar com sete(!) anos e hoje, aos 35, é um precoce veterano, considerado, ao mesmo tempo, uma grata revelação do classic rock. O show não chegou a durar as duas horas e meia como o músico prometera (leia aqui), mas a intensidade das músicas tocadas em cima daquele palco, somada à invocações de momentos históricos do rock em todas as épocas, irão durar seguramente uma eternidade na cabeça de cada um que ali esteve.

Agora, Joe Bonamassa se apresenta em São Paulo, amanhã, dia 2 de junho, no HSBC Brasil; saiba os detalhes aqui.

Set list completo:

1- Slow Train
2- Last Kiss
3- Midnight Blues
4- Dust Bowl
5- Who’s Been Talking
6- Sloe Gin
7- The Ballad Of John Henry
8- Lonesome Road Blues
9- Song Of Yesterday
10- Look Over Yonders Wall
11- Blues Deluxe
12-Young Man Blues
Bis
13- Driving Towards The Daylight
14- Just Got Paid

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