Massacre
Em verdadeira ode à guitarra, Mogwai ensurdece público com delicadeza instrumental convertida em esporro. Fotos: Daniel Croce.
O mais nervoso dos guitarristas, porém, é John Cummings (sim, quase homônimo de Johnny Ramone) que passa quase todo o tempo a esmerilhar seu instrumento, enquanto o terceiro demolidor de neurônios, Barry Burns, se divide entre o teclado/efeitos e outra guitarra, além de cantar – com a voz distorcida, claro – em “Hunted by a Freak”, uma das poucas não instrumentais do repertório. Mas Braithwaite também faz das suas. Em “I Know You Are But What Am I?” por exemplo, passa o tempo todo abraçado à guitarra, deitada no berço esplêndido que é o palco do Circo Voador. Mas o bicho pega pra valer quando há três guitarras em ação, como acontece no auge da noite, em “Mogwai Fear Satan”, um petardo extraordinário de mais de dez minutos que parte do ruído, vai ao silêncio ensurdecedor na meiúca para voltar como bala de canhão no peito, numa explosão sonoro-óptica intensamente sensorial. Que satã que nada. O Mogwai é que é o cão.
A música do Mogwai definitivamente não é para dançar, mas a batida eletrônica do bem da recente “Mexican Grand Prix” faz a função sem dar descanso, com o volume no talo. Em “Ratts Of The Capital”, Burns, tal qual um The Edge em “New Years Day”, deixa o teclado de lado para assumir não a guitarra, mas um segundo baixo, muito embora ele e o baixista Dominic Aitchison toquem como se tivessem guitarras dependuradas no pescoço. O resultado é, no mínimo, fascinante e cabeças batem sob a lona do Circo como num show de heavy metal, só que sem os clichês do gênero – o que menos se vê no palco do Mogwai, diga-se, é cabelo.Os caras do Mogwai sabem para que as guitarras foram feitas e as desafiam com ânsia do barulho. Pode até parece, em princípio, que se trata de um show para fãs da banda e iniciados em geral. Ao contrário. O show do Mogwai é um espetáculo de arrebatar, tirar abruptamente o cidadão comum de um estado letárgico para o sublime paraíso perdido das guitarras estridentes, sem qualquer rito de passagem que suavize a transição. A inequívoca sensação que se tem depois de quase duas horas e 15 músicas empurradas goela baixo é a de uma viagem para outro mundo, curta, intensa, inesperada. Um verdadeiro massacre sonoro.
Set list completo:1- White Noise
2- Stanley Kubrick
3- Rano Pano
4- I Know You Are But What Am I?
5- How to Be a Werewolf
6- I’m Jim Morrison, I’m Dead
7- Hunted by a Freak
8- Mogwai Fear Satan
9- Mexican Grand Prix
10- New Paths To Helicon, Pt 1
11- Ratts of the Capital
12- Batcat
Bis
13- San Pedro
14- Killing All the Flies
15- We’re No Here
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