O Homem Baile

Meio termo

Com boas músicas, mas sem um repertório convincente, Noel Gallagher agrada plateia que lhe é fiel sem deixar de lado a idolatria ao Oasis. Fotos: Luciano Oliveira.

O acanhado Noel Gallagher contou com a participação intensa dos fãs, em apresentação irregular

O acanhado Noel Gallagher contou com a participação intensa dos fãs, em apresentação irregular

Há quem acredite em coincidências, mas não é ao acaso que, diariamente, Noel Gallagher inicia e encerra o show de sua primeira turnê solo dizendo, respectivamente, que “é bom estar livre” e que “não olha para trás com rancor”. Estão sendo de grande serventia músicas como “(It’s Good) To Be Free” e “Don’t Look Back In Anger”, do Oasis, e foi assim que Noel fez na noite de ontem, num Vivo Rio lotado de cantores vocacionais que não deixaram de usar o gogó em um único intervalo sequer, fosse para sugerir músicas no set – jamais atendidos – ou para saudar o um dos dois mais famosos torcedores do Manchester City no mundo pop.

Noel, já com a guitarra, em 'Mucky Fingers'

Noel, já com a guitarra, em 'Mucky Fingers'

A falta de unidade do show também contribui. Noel – não há duvidas - tem um repertório fino, de grandes canções. Mas, juntas, elas não formam um conjunto homogêneo, não dão liga. Culpa, em parte, do próprio guitarrista, que troca de instrumento antes de cada uma das vinte músicas – o set list é idêntico ao apresentado na véspera, em São Paulo (veja como foi) – e dá brecha para todo o tipo de manifestação. No fundo, ele gosta de rechaçar os fãs, meio de brincadeira, meio à sério, depende de quem o vê no paco. A preferência quase que total por não-hits entre as oito músicas do Oasis não funciona, mesmo com um público tão na mão. O povo canta copiosamente cada sílaba da letra de um blockbuster como “Don’t Look Back In Anger”, assim como se esbalda já no início, com “Mucky Fingers”, da fase tardia e pouco relevante da banda.

Mas também não faz feio no repertório do disco solo, que o digam a ótima “Everybody Is On The Run”, ao receber um irresistível “ôôô” no final, e “Dream On”. Juntas, elas formam uma dobradinha rara no show (com a tal liga que faz falta na maior parte do tempo), assim como acontece com “(I Wanna Live in a Dream in My) Record Machine” e “AKA… What a Life”, num dos momentos mais rock’n’roll da noite. Por outro lado, um amigo próximo de Gallagher precisa avisá-lo que não é possível destruir um clássico como “Supersonic”, noite após noite, com um violãozinho mequetrefe que é salvo pelos teclados. Uma pérola cuja vocação para o esporro é antecipada já no título não pode ser a nova “Andança” dos saraus da juventude.

Não é que Noel cante mal, mas faltou um vocalista

Não é que Noel cante mal, mas faltou um vocalista

Noel Gallagher fala pouco, na maioria das vezes para negar o pedido coletivo do público, como o de “Gas Panic” (logo essa?), por exemplo, mas é generoso nos agradecimentos, sobretudo no final do show. De cara amarrada – e Gallagher marrento é o outro - e com aspecto “acabei de sair de uma ressaca daquelas”, o guitarrista conduz o show com o carisma de um antipático, culpa dos serviços prestados à boa composição ao longo dos anos. Muitas delas, do repertório solo, funcionam muito bem, como a oculta “Freaky Teeth”, esperada para o próximo álbum, numa das melhores performances da noite, e a ótima “AKA… Broken Arrow”.

É um show, no entanto, fadado a comparações. Se Noel não deixou as músicas do Oasis de fora, Liam, quando esteve no Rio, no aconchegante Circo Voador (veja como foi), só executou músicas o Beady Eye. A banda de Liam – quase todo o Oasis antigo – é melhor entrosada que a de Noel, e a produção do Beady Eye, com direito a telões e a um som ensurdecedor, coloca Noel no bolso fácil, fácil. Falta ao acanhado Noel o que Liam tem de sobra: voz e marra – de novo – de vocalistas de rock. Apesar de o Beady Eye ter um início promissor, falta a Liam o que faz a fama de Noel: composições fora de série. No frigir dos ovos, temos em pauta o mais rápido retorno de uma grande banda de rock em todos os tempos. Podem anotar que, já, já, o Oasis sai em turnê.

Enquanto isso não acontece, Noel faz uma saborosa limonada e manda um bis matador, só diminuído por sua estranheza no posto de frontman. Repete “Let The Lord Shine a Light On Me”, que estreou na quarta, em São Paulo, e engata três do Oasis fechando com a dobradinha “Little by Little”/”Don’t Look Back In Anger”. O público, que a bem da verdade não deixou de interagir um minuto sequer, vai ao máximo do delírio que as viúvas de Oasis conseguem chegar, e as luzes acessas revelam uma cantoria sem fim. Desse jeito não é mesmo possível ter rancor ao olhar para trás, mas, convenhamos, é para frente que se anda.

O baixista Russel Pritchard, Noel Gallagher e o baterista Jeremy Stacey: pouco entrosamento

O baixista Russel Pritchard, Noel Gallagher e o baterista Jeremy Stacey: pouco entrosamento

Set list completo

1- (It’s Good) To Be Free
2- Mucky Fingers
3- Everybody’s On The Run
4- Dream On
5- If I Had a Gun…
6- The Good Rebel
7- The Death Of You And Me
8- Freaky Teeth
9- Supersonic
10- (I Wanna Live in a Dream in My) Record Machine
11- AKA… What a Life
12- Talk Tonight
13- Soldier Boys and Jesus Freaks
14- AKA… Broken Arrow
15- Half The World Away
16- (Stanged On) The Wrong Beach
Bis
17- Let The Lord Shine a Light On Me
18- Whatever
19- Little by Little
20- Don’t Look Back In Anger

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. maria em maio 4, 2012 às 20:22
    #1

    Querido autor,

    Aka.. BROKEN Arrow e (Stranded On) The WRONG Beach
    Nao escreva um artigo de uma banda, criticando ela desse jeito, se você não sabe escrever nem o nome das músicas dela.

    Obrigada.

  2. Marcos Bragatto em maio 4, 2012 às 20:53
    #2

    Corrigido, obrigado.

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