O Homem Baile

Dívida paga

Em show de quase duas horas no encerramento da noite do peso do Abril Pro Rock, Exodus sacia o público com o thrash metal que ajudou a criar. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

O vocalista Rob Dukes é um dos responsáveis pelo renascimento do Exodus e do thrash mundial

O vocalista Rob Dukes é um dos responsáveis pelo renascimento do Exodus e do thrash mundial

Como atração principal da noite do metal/hardcore do Abril Pro Rock, o Exodus chegou no Recife disposto a tudo. E não só por causa dos problemas enfrentados na véspera, no atribulado festival que se desenrola no Maranhão. É quem na primeira e única vez em que esteve na cidade, o grupo teve que fazer um show tão curto que saiu com a sensação de que ficara devendo aos pernambucanos. A ideia – via-se nas mãos velozes do guitarrista Gary Holt e no saculejo do vocalista Rob Dukes – era detonar geral, sem dó nem piedade.

Dukes toca e Gary Holt, em grande fase, se diverte

Dukes toca e Gary Holt, em grande fase, se diverte

Beneficiado por uma ótima qualidade de som (nem sempre uma constante durante a noite) o quinteto desfilou um repertório de clássicos do thrash metal mundial e mandou ver em músicas mais recentes que respondem por suas origens, num apanhado emblemático não só da banda propriamente dita, mas do thrash metal como um todo. Para quem poderia ter esquecido, num mundo em que subgêneros do metal se sucedem um após o outro, o show de ontem realça que o Exodus é o thrash metal antes do próprio thrash metal, em quase duas horas carregadas de riffs, maratonas de guitarras e mudanças de andamento que sacudiram o público, com disposição para agitar no nono show da noite.

A citação de Holt e Dukes no primeiro parágrafo não é gratuita. O segundo é peça fundamental nesse verdadeiro renascimento do thrash mundial que arrola o Exodus à reboque, e o que está tocando Gary Holt é digno de ser anotado no caderninho de melhores do ano. Remanescente da formação original, ao lado do batera Tom Hunting, o guitarrista parece um adolescente empolgado com sua nova banda. Em músicas como “A Lesson in Violence” e “The Last Act of Defiance”, ele debulha a guitarra sem a menor cerimônia. E o entrosamento da dupla registrado quando, no meio de “Blacklist”, Dukes toca a guitarra de Holt, para este refrescar a garganta com um gole de cerveja.

Nick Barker toca uma música com o Exodus

Nick Barker toca uma música com o Exodus

No início, Rob Dukes pede para alguém da produção retirar um segurança do fosso, que, na visão dele, estaria sendo violento com os fãs. Se precisava de alguma coisa a mais para ganhar a plateia, ele conseguiu. Mesmo assim, o vocalista parecia intrigado com a forma peculiar que o público do Recife tem de fazer as rodas de pogo, correndo uns atrás dos outros. Tentou por diversas vezes mudar a configuração, chegando a sugerir, em “Good Riddance”, no acender das luzes, a chamada “divisão do Mar Vermelho”. O artifício até daria certo, se, no encontro das duas partes separadas, uma nova roda, no estilo “tradicional” da cidade, não tomasse forma, com velocidade ainda maior.

Em “Fabulous Disaster”, o grupo recebe a visita do batera Nick Barker (Dimmu Borgir, entre outros), que, no show anterior encarnava Hongo Jr., nas baquetas do Brujeria. Outros petardos como a clássica “Bonded By Blood”, faixa título do álbum seminal para o thrash; a impagável “Piranha”; e “The Ballad of Leonard and Charles”, da nova safra, que de balada não tem nada, ajudaram a quebrar os ossos do público, fosse no aconchego da grade, mostrada no telão, ou no massacre das rodas sem fim que o show proporcionou. Mais um daqueles shows memoráveis que as cerca de 7 mil pessoas que estivaram no APR seguramente vão guardar para sempre.

Set list completo

1- The Ballad of Leonard and Charles
2- Beyond the Pale
3- Children of a Worthless God
4- Piranha
5- Deathamphetamine
6- Blacklist
7- A Lesson in Violence
8- Pleasures of the Flesh
9- Fabulous Disaster
10- And Then There Were None
11- Iconoclasm
12- Metal Command
13- Deranged
14- Brain Dead
15- The Last Act of Defiance
16- War Is My Shepherd
17- Bonded by Blood
18- The Toxic Waltz
19- Strike of the Beast
20- Good Riddance

O Abril Pro Rock continua hoje, com o indie Nada Surf, que inicia um giro pelo Brasil, e Mundo Livre SA como destaques. Clique aqui para ver a programação completa do festival e acompanhe a nossa cobertura exclusiva.

Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.

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