Fazendo História

Entrevista Bill Ward

‘Somos o Black Sabbath. Queria mostrar para vocês o hard rock original. Tudo aquilo que faz parte dessa coisa chamada heavy metal’. Parte da matéria de capa da Rock Press 17, de dezembro de 1998, época do lançamento do álbum “Reunion”, que marcou a reunião no aniversário de 30 anos. Colaborou Marco Antonio Bart. Foto: Reprodução/internet.

billwardUm dos grandes empecilhos para a tão esperada (e hoje aclamada) reunião do Black Sabbath, além das liberações por parte das gravadoras e dos trâmites legais, foi a frágil saúde do baterista Bill Ward. Tanto que, por diversas vezes, a banda tocou com Mike Bordin nas baquetas, até que Bill tivesse plenas condições de assumir o posto. Se observarmos com atenção, Bill Ward foi um dos membros originais do Black Sabbath que mais saiu e retornou à banda, quase sempre por motivos de saúde.

Isso, é óbvio, nunca lhe tirou o mérito de grande músico que é, e da importância que tem para a pedra fundamental que sua banda representa. Tanto é que os outros três quartos do Black Sabbath fazem de tudo para tê-lo nos shows da turnê de “Reunion”.

Recuperando-se de um leve ataque cardíaco que sofreu em um ensaio, em maio do ano passado, Bill Ward se sente preparado para a turnê que o Sabbath fará na terra do Tio Sam, com início previsto para 31 de dezembro, na virada do ano.

Tranquilo, ele falou sobre Vinnie Appice, seu eventual (e eterno) substituto, a emoção de ter Ozzy Osbourne de novo à frente da banda, as novas composições e seu futuro como artista solo ou no próprio Black Sabbath. Confira os principais trechos da entrevista exclusiva concedida à Rock Press:

Como é que foi a reunião da banda no ano passado?

Os shows foram incríveis. Você quer saber dos shows, certo?

Claro!

Bem, eles foram ótimos. Tudo correu muito bem, e acho que conseguimos fazer boas gravações ao vivo. Foi tudo muito bem, os shows gravados foram em dezembro, se não me engano.

E sobre a turnê, no começo deste ano?

Nós fizemos alguns shows na Europa, logo depois de gravarmos. Tínhamos entrado em estúdio no fim do ano passado, e terminamos de gravar no começo deste ano. Então fomos excursionar, mas aí eu fiquei doente – sofri um ataque cardíaco, você sabe. Então os caras foram excursionar pela Europa e eu fiquei em casa. Realmente fiquei bem chateado por não poder ir com eles. Depois fiz uma pequena viagem promocional pelos Estados Unidos, sozinho, fazendo publicidade para o “comeback”, enquanto os caras viajavam pela Europa. Então Geezer ficou bem doente também… bem, estamos nos recuperando. Ninguém morreu, ainda (risos). Foi um ano bem cheio.

Vinnie Appice substituiu você na turnê. Você concordou com isso?

Oh, sim. Entendo perfeitamente porque eles se decidiram por Vinnie… eu estava na ambulância, no caminho para o hospital, e estava verificando quais poderiam ser as escolhas para me substituir, e então eu mesmo disse aos caras que Vinnie provavelmente seria a melhor escolha. Senti que seria muito provável que eles chamassem Vinnie, então não me surpreendeu. Acho que, de um ponto de vista “tático”, foi a coisa certa a se fazer.

Tirando você, qual o seu baterista preferido do Sabbath?

Oh, merda! (risos) São tantos… sabe como é, eu não os vejo como “bateristas do Black Sabbath”, apenas. Alguns deles são bons amigos meus. Possivelmente, Cozy Powell… ele era o mais próximo a mim, pessoalmente. Ele e eu éramos bons amigos. Mas creio que conheço bem cada um dos bateristas que passaram pela banda, e sou amigo de todos eles.

Ozzy Osbourne continua mantendo sua própria banda carreira solo. Você acha que isso pode interferir nos planos do Sabbath?

Deus, eu não sei! Não tenho nem ideia… na verdade, não sei até que ponto essa volta do Sabbath vai afetar os planos particulares de cada um de nós, estou sendo honesto; é apenas uma questão realmente difícil de responder.

Vocês gravaram duas músicas novas. Podemos esperar um álbum novo?

Bem, eu sei que os caras andaram falando a respeito disso. Acho que seria ótimo se realmente pudéssemos fazer um novo disco, mas não saberia te dizer nada de mais concreto além disso. Realmente estou sendo franco: até onde eu sei, não há nada definido ainda.

Como é que foi compor e gravar como Black Sabbath de novo, depois de todos esses anos? O que mudou no grupo?

Bem, o que mudou foi que Ozzy, Geezer e eu estávamos lá, desta vez (risos). Na verdade, eu estive junto com Tony (Iommi) quando os arranjos originais estavam sendo gravados – os riffs e coisas do tipo. Eu e ele fomos produzindo juntos as sessões. Nós fomos interagindo, trabalhando nos arranjos. Ozzy estava em outra sala, gravando os vocais. Basicamente, Tony juntou as gravações no computador, usando o Pro Tools (programa de áudio digital da Roland), primeiro ele botou as guitarras, depois eu chegava e colocava a bateria.

Então foi tudo feito no computador?

Sim. Depois, Geezer chegava e colocava o baixo. Então foi minha primeira experiência de tocar com um computador (risos).

E como foi?

Bem, com relação a essas músicas que gravamos, acredito que as batidas que eu gravei estão realmente lá. O que aconteceu foi que minha bateria foi mixada com outras batidas. Basicamente, foi inserida uma batida eletrônica junto com a bateria gravada ao vivo. Foi estranho; ainda não tenho uma opinião definida sobre a experiência. A única coisa que sei é que estou contente com a música, porque tenho certeza que a batida vem daquilo que escrevi. O processo de composição foi diferente de tudo o que já tinha feito. Por exemplo, dessa vez Ozzy escreveu as letras, e nos velhos tempos quem escrevia era o Geezer. Mas dessa vez Ozzy apareceu com grandes letras também. Acho que ele fez um trabalho impressionante. Na verdade, toda a banda fez um trabalho impressionante, mas fiquei bastante animado com a maneira como Ozzy juntou as coisas.

A quantas anda a sua carreira solo agora?

Minha carreira solo está bem. Gosto do que estou fazendo. É uma coisa bem “low profile”, sou um cara bastante “não famoso” ou “infamoso” (risos), mas gosto do que faço. Amo tocar as músicas que faço e pretendo lançar um álbum no ano que vem. Vou continuar compondo minhas próprias músicas e vou voltar à estrada, enquanto puder. Enquanto alguém me contratar e enquanto eu puder subir num palco e tocar, estarei lá. Agora, muito material que estou preparando está em compasso de espera, enquanto estou envolvido com o Sabbath de novo. Assim que toda esta volta acabar, retomarei os meus próprios projetos. É bom poder tirar um tempo das minhas ideias próprias e voltar com o Sabbath, poder tocar bateria alto, em músicas com bastante energia. É um contraste refrescante com o que faço em minha carreira solo. Um bom equilíbrio.

Como vão as vendas de seus discos?

Nada mal, considerando que nunca tive uma gravadora gigante para me apoiar, com publicidade e coisas assim. Mas vendo alguns milhares de discos, não são milhões nem centenas de milhares. Estou dentro da faixa de dezenas de milhares e não posso reclamar disso. Estou bem dentro de meu mercado, que é o de “world music” – o que é maravilhoso, é ótimo. Sim, estou contente com o rumo das coisas. Compor e tocar é o que realmente importa para mim, e enquanto eu puder fazer isso, eu me sentirei saudável.

E como é que você se vê? Mais como um instrumentista ou mais como um compositor?

Me vejo como um compositor. Eu adoro bateria, adoro essa coisa de ser baterista. Adoro observar outros bateristas tocando, gosto de uma bateria bem tocada. E também gosto de tocar bateria no Black Sabbath. É o que sei fazer na vida, é tudo o que tenho no mundo. É muito normal para mim. Mas eu não presto muita atenção no meu lado baterista, prefiro compor e produzir.

Uma vez você disse que o Igor Cavalera é o melhor baterista do mundo. Ainda mantém essa opinião?

Oh, sim, sem dúvida! Eu acho o Sepultura uma banda incrível. Há muitos bateristas bons no rock pesado, trazendo música realmente boa para as pessoas.

E você pode citar alguns que você admira, em particular?

Merda! Eu… (risos. Ele vacila.)

Só um ou outro…

Bem, Mike Bordin (Faith No More), ele faz coisas incríveis. Adoro misturas de técnicas de jazz e rock. Mas você fez uma pergunta que pode ferir alguns sentimentos de gente que eu conheço (risos). Deus, há alguém que ouvi outro dia, um baterista realmente bom, mas não consigo me lembrar nem do nome dele, nem da banda… É uma banda nova. Deus, me deu um branco!

E que outro tipo de música você ouve, além de rock pesado?

Escuto praticamente qualquer música que toque no rádio. Se vou comprar um disco, geralmente compro um CD de jazz. Acabei de comprar três discos de Max Roach…

O baterista de jazz…

Sim. Estou ouvindo Max Roach agora. Se eu escuto alguma coisa no rádio, e ela tem algum apelo para mim, eu vou e compro o disco. Não precisa ser nenhum tipo de música em particular, não precisa ser rock pesado ou Marilyn Manson, ou qualquer outra coisa. Eu gosto de Marilyn Manson. Acho que ele está fazendo coisas muito boas. Aliás, o cara que toca bateria com ele tem algumas ideias legais. Não sei o nome do cara, mas gosto do que ele faz.

Mas você consegue escutar puramente como um fã, ou fica analisando a música como baterista e produtor?

Às vezes eu cruzo a linha e ouço analiticamente, com o ouvido de produtor, mas na maioria das vezes, eu só ouço como fã, mesmo. Esta é uma pergunta muito, muito boa, por sinal. Bastante observador. Sim, eu escuto como fã. Às vezes tenho essa tendência de ficar observando os detalhes, como baterista ou compositor, mas acho que já está na hora de voltar a escutar apenas como fã.

Para terminar, vocês planejam tocar no Brasil num futuro próximo?

Não há qualquer plano de irmos ao Brasil, ou mesmo à América do Sul agora. Eu certamente gostaria que fôssemos. Não sei da opinião dos outros do grupo, nem sei se existe esta possibilidade. Mas, falando por mim, eu gostaria muito de ir. Somos o Black Sabbath e fazemos um show de rock muito bom. Queria mostrar para vocês o hard rock original, sem misturas. Tudo aquilo que faz parte dessa coisa chamada heavy metal.

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