Fazendo História

Man… or Astro-man?

A verdadeira história dos alienígenas e ícones da surf music do espaço. Publicado na Rock Press no 22, de novembro de 1999. Foto: Marcos Bragatto.

moamViajando pelo espaço sideral, os alienígenas do Man… or Astro-man? caíram há sete anos no estado americano do Alabama. O problema é que eles perderam um chip sem o qual não vão conseguir voltar. Estão condenados a não fazer qualquer tipo de sucesso, para não se desviarem de seu objetivo principal. Por outro lado, encontrando o referido chip, eles só voltarão para o espaço após destruírem a Terra!

Com mais de um bilhão de discos vendidos nos mais variados planetas do universo, as músicas gravadas no futuro estão se esgotando, o que fez a banda voltar ao século 20 para buscar uma ponte com essa “forma obsoleta de tecnologia”. Como eles residem em outro planeta, setor 23-B6-1, a música do Man…, embora tenha vocais, não pode ser compreendida pelo ouvido humano, pois as vozes atingem frequências muito altas.

Na verdade o MOAM encabeça uma série de bandas que revitalizaram a cena da surf music mundial depois do estouro do filme “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino, em 1992, que utilizou na trilha sonora clássicos do estilo, até então caídos no esquecimento. A temática “from space” foi adotada por um sem número de grupos, como Laika & The Cosmonauts, The Sandblasters, Galaxy Trio, e dentre eles o Man… é sem dúvida o que atingiu maior sucesso. Não só pela mistura de punk rock e outros estilos mais atuais, mas pela urgente performance ao vivo, e porque seus integrantes levam a sério essa história de seres alienígenas, recriando histórias sobre o mesmo tema que mantém viva a sua saga na Terra.

Quando Starcrunch e Dexter X foram substituídos por Blazar The Probe Handler e Trace Reading nas guitarras, a banda alegou que não houve mudança alguma, só uma “adaptação de identidade”. Em 1997, com a repercussão da clonagem da ovelha Dolly, o MOAM não perdeu tempo e lançou também o seu Clone Project. Clones dos integrantes do grupo se apresentavam disfarçados, enquanto, em um telão, imagens dos verdadeiros alienígenas explicavam os detalhes do projeto e deixavam todos em dúvida. No show do Rio, foram vistos roadies vestidos de “médicos-astronautas” montando o palco. Eram do que os quatro integrantes e o manager do grupo.

O Man… or Astro-man? se formou ainda nos anos 1980, quando Coco The Electronic Monkey Wizard (baixo), Birdstuff (bateria), Starcrunch (guitarra) e Dexter X (guitarra e baixo), começaram a tocar nas garagens de suas casas, típicas da classe média americana. Por falta de grana, o primeiro contato com o meio musical se deu através da discoteca do pai de Birdstuff, na qual se destacavam os compactos de Dick Dale, The Ventures, The Challengers e Link Wray.

Assistir aos trash-movies e aos seriados americanos da década de 60 era outro passatempo, e deles foram tiradas as roupas esquisitóides e a base de toda a performance ao vivo, cuja coreografia vem dos clipes da banda new wave Devo (descobertos pelo MOAM no programa “Saturday Night Live”) e dos alemães pré-techno do Kraftwerk. Com essa mistura de surf music tradicional, visual disco-new wave e temática trash-movie, o Man… or Astro-man? se firmou como a principal banda de surf music do espaço.

A discografia do grupo é controvertida, e nem os seus integrantes conseguem precisar qual é a sua amplitude. O site oficial dá conta de 24 singles, 12 EPs em vinil e mais 45 CDs, entre álbuns e participações em coletâneas, além de uma série de vídeos, em diversos formatos.

Os álbuns mais citados em sua biografia são sete: “Is it… Man or Astro-man?” e “Destroy All Astromen!”, pela Estrus, uma das principais gravadoras da surf music dos anos 90; “Live Transmissions From Uranus”, “Intravenus Television Continuum”, “What Remains Inside a Black Hole”, “Experiment Zero”, produzido por Steve Albini; e “EEVIAC”, o primeiro a ser lançado no Brasil, pela indie mineira Motor Music.

“EEVIAC” – Operational Index and Reference Guide, Including Other Modern Computational Devices”, gravado durante a turnê brasileira no ano passado, mostra o grupo em sintonia com o presente, e efeitos eletrônicos começam a marcar presença pela primeira vez, em temas que se afastam da proposta desenvolvida até então. É o que se pode chamar de um “trabalho de transição”, cujo caminho a seguir só será definido após “EPIAC” e “REPIAC”, respectivamente um EP e um álbum de remixes (com a participação de Mark Mothersbaugh, do Devo) a serem lançados ainda este ano.

Durante a segunda (e maior) turnê pelo Brasil, a Rock Press conversou com os alienígenas no camarim do Ballroom e arrancou algumas revelações da banda, que você só poderia mesmo conferir aqui. Enjoy it! (Não se sabe quem respondeu as perguntas).

Fale sobre as influências do Man… or Astro-man?:

As nossas influências mais óbvias não vêm, na verdade, de um formato musical. Ciência é a chave para desvendar o estanho e misterioso universo de Blazar, Coco, Birdstuff e Trace Reading. Algumas preferências comuns entre a banda são: átomos e partículas atômicas, universos alternativos, protogaláxias, anti-gravidade e fissão nuclear.

E a influência de bandas como o Devo na música de vocês?

O Devo é um exemplar de involução. Eles representam isso usando vasos de flores em suas cabeças, mostrando aversão à sociedade Tecnológica Fase III. Eles se sentem muito mais à vontade no Mundo Agrícola Fase I. A música deles, “Too Much Paranoias” é sobre como crescer numa floresta.

Vocês costumam assistir a seriados de TV antigos?

Nós não estávamos capacitados para assistir a TV no tempo adequado, com o nosso deficiente aparelho ocular. No entanto, Trace Reading está acabando de completar seu trabalho de aceleração de transmissão fragmentada, que nos capacitará a receber, filtrar e reconstruir vários sinais da luz de anos passados. Embora a maioria das transmissões tenha sido originada no setor H9/P5P, a nossa vizinhança mais ativa, nós certamente perdemos e teremos de ver alguns episódios quando passarem de novo. O único problema é que as imagens são reconstruídas em uma forma obsoleta e nossas percepções são bem diferentes das de vocês.

Como vocês descobriram a surf music?

Ela é que nos descobriu. Ela se auto inventou, e então nós nos auto inventamos. Usando a equação SM =Al x Z1 + Tg – MM, nós descobrimos que esse era o caminho mais curto para invadir e conquistar a identidade conhecida como cultura pop. Nós liquidificamos os sons de Link Wray, Dick Dale, The Ventures, The Shadows, The Pyramids, e embrulhamos nós mesmos em um pacote destinado ao sucesso.

Como vocês decidiram fazer uma fusão entre surf music e filmes B?

Nós éramos viajantes do tempo e isso nos interessava. A expectativa e o futurismo das gerações passadas ultrapassa a forma como o futuro acabou realmente acontecendo. A música e a cultura dos filmes B se pareciam com o espaço e nos guiavam para o desconhecido. Atualmente existem coisas muito mais chatas, como esportes de ação e equipamentos de exercício, para nos salvar do tédio. Os Jetsons é uma família muito mais legal do que qualquer uma de hoje em dia.

Sobre a turnê brasileira no ano passado?

Aqui nos laboratórios do Man… or Astro-man? nós consideramos a missão brasileira do ano passado uma das mais bem-sucedidas na busca de fatos para acrescenta à recente história do MOAM. Nós voltamos para casa com soluções para alguns dos nossos problemas, bem como com novos enigmas que motivam o pensamento do MOAM. Nós modificamos nossos flutuadores espaciais de alta velocidade para aceitar aguardente de cana como combustível barato e eficaz, um novo passo no desenvolvimento no mundo das viagens semi-levitacionais. Nossa performance, que cuidadosamente escondia esforços para examinar os efeitos de som de altas densidade super concentrada, nos deu acesso a população brasileira, tanto para testar assuntos de nossa pesquisa sônica como para fazermos nosso primeiro contato com a América do Sul. Nós agradecemos a hospitalidade dispensada conosco, mesmo estando no Brasil sob falsas pretensões.

Como foi a participação de vocês no tributo “Delphonic Sounds Today!”?

É uma grande emoção para nós estar conectado com Bobby Fuller, Ritchie Valens, The Impacts, The Centurions e todas essas grandes bandas de surf music dos anos 60. É impressionante como s Del-Fi esteve fechada por uns 20 anos, e agora está lançando grandes álbuns de novo. Nós havíamos participado do tributo a Henry Mancini, “Shots In The Dark”, e o “Delphonic Sounds Today!” é uma grande ideia: bandas novas podendo interpretar músicas da origem do estilo. Nós gravamos uma faixa raríssima, do bacharel japonês, Yo Yo Hashi, e ainda com uma música que ele fez sobre ele próprio, “Yo Yo’s Pad”.

E sobre o novo álbum?

Foi lançado em todo o planeta no dia 20 de abril. As faixas básicas desse álbum foram gravadas pelo nosso estúdio móvel em Belo Horizonte, uma cidade que causou um impacto muito grande sobre nós. Esse álbum foi concebido pelo EEVIAC, um super computador desenvolvido nos laboratórios do MOAM e programado por uma equipe de engenheiros conectada conosco. A evidência sônica encontrada no nosso último lançamento é reflexo direto desse profundo desenvolvimento nos supercomputadores.

O que vocês estão achando da turnê desse ano?

É um pouco maior e mais cansativa do que a do ano passado, mas também estamos tendo a oportunidade de tocar para um público maior, pois é a nossa segunda turnê, e em lugares onde não tínhamos tocado antes, como aqui no Rio, por exemplo.

O que você está achando da cidade?

Não tivemos tempo para conhecer a cidade, mas tem bastante gente aqui, e o pessoal parece ser bem mais empolgado e feliz com esse evento. Estamos gostando muito.

Vocês gostaram das bandas que estão tocando com vocês?

Essa foi a mais legal (Autoramas), é bom que eles fazem surf music, mas não ficam só se repetindo, você percebe coisas novas nas músicas deles também.

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado