O Homem Baile

Almas gêmeas do esporro

Sonic Youth ignora boatos de separação, transforma barulho em arte e encanta plateia diversificada do SWU. Fotos Divulgação: Caroline Bittencourt (1, 3 e 4) e Marcos Hermes (2).

Kim Gordon e Thurston Morre: separados, sim, mas de mãos dadas quando o assunto é barulho

Kim Gordon e Thurston Morre: separados, sim, mas de mãos dadas quando o assunto é barulho

Parece que o Sonic Youth veio ao SWU para reafirmar sua própria identidade. Explica-se que o grupo coleciona apresentações homéricas no Brasil, mas também, em contraste, outras muito fracas. Soma-se a isso os boatos de que a banda vai acabar, “só” porque o casal Thurston Moore e Kim Gordon, respectivamente guitarrista e baixista, se divorciou depois de um matrimônio que durou 27 anos e a confusão está formada. Lee Ranaldo – o outro guitarrista – nada tem a ver com o bafafá, dá um breve “hello” e o grupo começa o show, na tarde da última segunda (14/11) com “Brave Men Run (In My Family)”, cuja introdução é um protótipo do modelo “guitar band” adotado há anos pela banda: calmaria e doçura se opõem ao esporro desmedido.

Moore demonstra todo seu amor à amada

Moore demonstra todo seu amor à amada

Kim Gordon parece muito bem. Com um vestido vermelho de encher os olhos, faz os vocais principais nas primeiras músicas e se reveza na guitarra e no baixo quando precisa tocar, já que, no palco, o amigo de longa data Mark Ibold segura a onda. É em “Calming The Snake”, a terceira da noite, que a sessão de esporro começa a ganhar ênfase, a custa de um final comandado pelas viradas nervosas do batera gordinho Steve Shelley. Antes, Moore e Gordon já haviam retirado ruídos de seus instrumentos com um pequeno bastão de madeira, tipo um lápis. Era só o começo da brincadeira. Ou, por outra, deu pra ver que ninguém ali estava brincando. De um modo ou de outro, melhor para o público.

Porque o Sonic Youth está longe de ser uma unanimidade, mas há poucos que não se envolvem num show do grupo no meio de um festival; não há como não se divertir com eles, mesmo que seja de longe ou em busca de um hambúrguer ou de uma cerveja para aplacar a fome ao entardecer. É por isso que o telão é ligado só em “Mote”, quando a noite cai. Nela Moore começa a maltratar a guitarras pra valer, chegando a deixá-las largadas no piso para que um roadie venha socorrer. Não é à toa que as guitarras deles são detonadas, mas ele não larga o osso. Assim como as do grisalho Ranaldo, que canta nessa música. Moore esfrega a guitarra nos amplificadores e no piso, depois a coloca sobre a câmera, que joga a imagem nos telões. Kim Gordon também maltrata o baixo e a vida segue.

O modelito de encher os olhos de Kim Gordon

O modelito de encher os olhos de Kim Gordon

Mesmo porque o bicho pegar mesmo é no final, com uma versão quilométrica para “Teen Age Riot”, encerrada com uma verdadeira curra ao vivo de Thurston Moore em sua guitarra. A coitada ainda leva uma surra de microfone. Lee Ranaldo, que antes, em “Flower”, usa uma chave de fenda presa entre as cordas, com se fosse o clássico cigarro de Jimmy Page, também faz das suas. Ele se junta a Morre para empunhar as duas guitarras num encerramento à Judas Priest de emocionar o mais incrédulo fã de Megadeth que estava na espreita para a apresentação seguinte e viu extraordinárias evoluções instrumentais, sob muito esporro.

Debaixo dos cabelos desgrenhados, Thurston Moore está pra lá da Marrakesh. Antes, chegou a anunciar a música “Schizophrenia” como se chamasse “Sister”, na verdade o título do antológico álbum da qual a canção faz parte, lançado no final dos anos 80. Com a voz arrastada, ele faz as honras da casa: “É uma honra estar de volta aqui no Brasil, junto de novo com os irmãos e irmãs brasileiros”. Já a divorciada Kim Gordon deixa sua marca em “Drunken Butterfly”. O rodopio sem fim de menina faz seus cabelos, possivelmente aparados por ela mesma com tesoura cega, levitarem lindamente no palco do SWU. O público aplaude. Lembram do dilema apresentação homérica versus shows muito fracos? Dessa vez deu a primeira opção.

O final exuberante do show do Sonic Youth

O final exuberante do show do Sonic Youth

Set list completo:

1- Brave Men Run (In My Family)
2- Sacred Trickster
3- Calming the Snake
4- Mote
5- Cross The Breeze
6- Schizophrenia
7- Drunken Butterfly
8- Starfield Road
9- Flower
10- Sugar Kane
11- Teen Age Riot

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Dan em novembro 19, 2011 às 11:52
    #1

    Sem palavras. Não é a toa que a banda tinha como fã ninguém menos do que Kurt Cobain. Tá explicado. Foda!

  2. Luis Tertulino em novembro 19, 2011 às 16:10
    #2

    Queria muito ter ido. São fodas, todos o 5!
    P.S: Faltou “Death Valley ‘96″ aí no setlist. A segunda música.

  3. ederson em novembro 19, 2011 às 18:26
    #3

    O show do Sonic Youth foi do caralho, do jeito que eu imagino o Sonic, muito barulho (no bom sentido, lógico)!

  4. paula em novembro 20, 2011 às 22:23
    #4

    Segundo alguns fãs do Sonic Youth, o Thurston chama a Schizophrenia de Sister (essa não foi a única ocasião).

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