Era grande a expectativa para o show do Down no SWU, afinal o grupo é uma dos poucos da programação do festival a tocar no Brasil pela primeira vez. E a banda, liderada pelo ex-vocalista do Pantera, Phil Anselmo, não decepciona. Com os contornos mais arredondados, o careca tatuado mais conhecido no mundo do metal agita o público, faz escorrer o próprio sangue ao espocar o microfone na testa e – o melhor – continua se esgoelando até a última nota durante toda a curta apresentação do grupo.

No inicio, um blefe. Anselmo promete tocar a íntegra do álbum de estréia do Down, “NOLA”, o que no fim das contas não acontece, mesmo porque não haveria tempo, considerando os limites do show num festival com trocentas bandas. Mas todas as nove músicas tocadas saíram, sim, do tal disco, e – diga-se – a plateia pouco se preocupou com isso. Massacrada por uma incrível sucessão de riffs pesadíssimos, o público, o maior até então, no começo da tarde, se diverte com o irresistível bater de cabeça e abrindo rodas de lado a lado – há um corredor de grade no meio que impede uma movimentação plena.

A apoteose dos riffs não acontece por acaso. Na formação do Down há três integrantes do Crowbar, o guitarrista Kirk Windstein, o baixista Pat Bruders e o baterista Jimmy Bower. Para quem não sabe, o grupo é exímio propalador do stoner metal, uma verdadeira fábrica de músicas calcadas em longos riffs pesados e arrastados, como se as músicas mais lentas e pesadas do Black Sabbath fosse levadas ao extremo. E completa o time Pepper Keenan, guitarrista do Corrosion Of Conformity, outro grupo especialista no assunto. É ou não é um supergrupo do peso devastador dos infernos?

Notório malvadão, Phil Anselmo comanda a festa com peculiar simpatia. Com uma bandeira do Brasil presa na cintura, manda beijinhos para o público, agradece de joelhos ao ter seu nome gritado em coro pela plateia, se orgulha e aplaude um fã avistado no meio do público com o logotipo do Pantera tatuado em tamanho GG no peito. Ele dedica “Liver” ao ex-guitarrista da banda, Dimebag Darrell, assinado em 2004 por um desses matadores malucos que os Estados Unidos fabricam em série. Quando Phil lembra os “brothers” Paulo e Andreas, do Sepultura, em “Hail the Leaf”, recebe em troca aplausos de um público totalmente extasiado e na mão do vocalista. Não podia ser melhor.

Tanto que dá pra perceber, no palco, a expressão de satisfação estampada no rosto de cada um dos músicos, ainda mais quando o verso “I never died before”, de “Stone The Crow”, é cantado em uníssono pela multidão. Dessa vez o clichê “foi o melhor show, queremos voltar logo”, repetido por Phil Anselmo, pode ser levado a sério. A música reserva um duelo de guitarras entre Kirk Windstein e Pepper Keenan de arrepiar. O público vibra com os riffs galopantes de “Losing All”, cria um mar de braços erguidos em “Eyes Of The South” e vai à loucura com o trechinho de “Walk”, do Pantera, tocado antes de “Bury Me In Smoke”, que encerra o show. No fim da música, um a um os integrantes são substituídos pelos músicos do Loaded, que havia tocado antes, no mesmo palco. Pode acreditar: nunca Duff McKagan tocou tão pesado em toda a sua vida.

Set list completo:

1- Temptations Wings
2- Lifer
3- Pillars Of Eternity
4- Hail The Leaf
5- Underneath Everything
6- Losing All
7- Eyes Of The South
8- Stone The Crow
9- Bury Me In Smoke

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