O Homem Baile

Noite de ‘Alagados’

Em show fadado a recordações, Paralamas revive ‘Selvagem?’, álbum que iniciou a busca por uma identidade ‘mais brasileira’. Fotos: Luciano Oliveira.

O inspirado João Barone e Herbert Vianna: Paralamas celebra 'Selvagem?' em grande forma

O inspirado João Barone e Herbert Vianna: Paralamas celebra 'Selvagem?' em grande forma

O desavisado que chegasse mais cedo ontem nas bilheterias do Circo Voador para comprar um ingresso e se divertir sob a lona, ia dar com cara na parede. O motivo? Todos os 2500 ingressos colocados à venda para ver o Paralamas do Sucesso tocar a íntegra do álbum “Selvagem?”, de 1986, já estavam esgotados desde cedo. A longevidade de uma das bandas mais representativas do rock nacional, impulsionada pelo “efeito queremos” foi batata. “Nós queríamos e o ‘Queremos’ também”, disse o baterista João Barone, antes do bis, agradecendo à “mobilização de todos”.

O inventivo baixista Bi Ribeiro e o flerte com o reggae

O inventivo baixista Bi Ribeiro e flerte com o reggae

Embora esteja completando 25 anos e vida, “Selvagem?” não o é disco com mais hits dos Paralamas. Basta perguntar para qualquer transeunte na casa dos 40 anos, à espera de atravessar a rua quando o sinal abrir, que ele irá citar as músicas de “O Passo do Lui”, lançado dois anos antes, como as mais conhecidas. A dificuldade do artista em aceitar o sucesso popular, mesmo quando a música é boa, associada ao refinamento blasé da crônica musical é que apontam o dedo para “Selvagem?”. O disco foi completado por regravações e versões dub, e tem músicas jamais conhecidas pelo grande público, contra, ao menos, sete hits que consagraram o Paralamas em “O Passo do Lui”, naquele que ficou conhecido como “o verão do rock”. Quem viveu a época, sabe.

O mérito de “Selvagem?” está não no disco, mas na música “Alagados”, que iniciou a transformação do Paralamas de “reles cópia do Police” em uma banda com “referências à música brasileira”. É o disco em que o grupo foi fundo no reggae, dub e na música negra, e que traz, à reboque, o sucesso “A Novidade”, a faixa-tíulo e a impagável “Melô do Marinheiro”. O resto, convenhamos, é enchimento. Por isso a ordem das músicas do show é alterada, e “Alagados”, esta sim a estrela da noite, é tocada duas vezes. Uma no último bis, na versão atual dos Paralamas, e outra fechando a sequência do disco - originalmente ela abre. O set inicial, aliás, é montado para a reprodução fiel das músicas do álbum, como elas foram gravadas, e tem Liminha, que produziu o disco, tocando guitarra em todas as músicas, além das participações de João Fera, nos teclados, e de um percussionista.

Herbert todo adaptado às funções paralâmicas

Herbert todo adaptado às funções paralâmicas

Fera é quem “canta” com efeitos na voz em “Marujo Dub”, uma versão dub para a “Melô do Marinheiro”, num clima totalmente retrô. Interessante como, ao vivo, “Selvagem?” tem um tratamento totalmente reggae/dub e adjacências, com Bi Ribeiro reinando absoluto e um Barone inspirado e com a precisão de sempre. É notório que o público desconhece faixas como “Teerã” e a policiana “There’s a Party”, resquício do passado na época, mas os solos de cada um dos três paralamas no reggaezão arrebenta assoalho “O Homem” não passam despercebidos pelo público. E você, tem seu paralama preferido?

Convertida em um primeiro encerramento, “Alagados” carnavaliza o Circo lotado e traz de volta o Paralamas dos últimos tempos. Bem, mais ou menos, já que há pouca coisa dos discos mais recentes, embora a repertório total anos 80 que vinha sendo tocado no show com o Titãs – que passou pelo Rock In Rio – seja posto de lado. Saem Liminha e os instrumentos de época, entram o duo de metais (saxofone + trombone) e uma saraivada hits certeira e de diferentes épocas para fazer – aí sim – o caldeirão do Circo ferver de vez. Registre-se que é muito bom ver Herbert Viana acionando manualmente seus pedais e cumprindo o roteiro – cheio de músicas não tocadas há muitos anos – com uma perfeição inesperada para quem passou pelo que ele passou.

Liminha, o produtor de 'Selvagem?', na guitarra

Liminha, o produtor de 'Selvagem?', na guitarra

Nas viradas de João Barone em “O Beco”, uma pausa no pula-pula para a platéia explodir em aplausos não requisitados de antemão. Na reflexiva “Lanterna dos Afogados”, cuja letra parece feita depois do acidente que Herbert Vianna sofreu 2000, nem o clima de nostalgia de Cássia Eller derruba a “vibe positiva” da noite. A dobradinha “Sonífera Ilha”, ela mesmo dos Titãs (“também somos fãs”, brada Herbert), com “Ska” abre o bis no gás, e “Vital e Sua Moto”, na versão atual, encerra o show. Herbert não resiste e canta trechos de “Every Breath You Take”, do… Police! Atendendo a pedidos, o trio volta para a versão atual de “Alagados”, a verdadeira dona da festa. Já pensou em um show com “O Passo Do Lui” ou “Cinema Mudo” na íntegra? Fica a dica.

Set list completo:

1- Selvagem
2- Teerã
3- A Novidade
4- Melô do Marinheiro
5- Marujo Dub
6- A dama e o Vagabundo
7- There’s a Party
8- O Homem
9- Você
10- Alagados
11- O Calibre
12- Ela Disse Adeus
13- Tendo a Lua
14- O Beco
15- Cuide Bem do Seu Amor
16- Meu Erro
17- Lanterna dos Afogados
18- Caledoscópio
19- La Bella Luna
20- Loirinha Brombril
21- Uma Brasileira
Bis
22- Sonífera Ilha
23- Ska
24- Vital e Sua Moto
Bis
25- Alagados

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