O Homem Baile

Boas memórias

Em noite marcada pela nostalgia, Bad Religion volta a se encantar com o público carioca, que, em 16 anos, nunca deixou de lotar um show do grupo. Fotos: Luciano Oliveira.

Greg Graffin: expressões faciais que não escondem a satisfação de tocar mais uma vez no Rio

Greg Graffin: expressões faciais que não escondem a satisfação de tocar mais uma vez no Rio

Já passava da metade do show quando o vocalista da banda, que canta tal qual um político, com o dedo em riste, puxa uma música à capela que os fãs demoram, mas reconhecem. É a faixa-título de um dos álbuns mais famosos da banda, que aos poucos é reconhecida. A versão, no entanto, deságua para um arranjo heavy metal que marca a noite. É o Bad Religion, do professor Greg Graffin, num dos pontos altos do show que encerrou a atual turnê brasileira, ontem, na Fundição Progresso, no Rio. “Generator” é a música que quase vira uma baladaça metálica, muito ás custas dos solos do amalucado guitarrista Greg Hetson. A música costuma servir para a banda brincar no meio do set, e já virou até reggae em algumas turnês. Só um dos pontos altos de uma noite inesquecível.

Greg Hetson: ouvindo muito heavy metal?

Greg Hetson: ouvindo muito heavy metal?

E marcada pela nostalgia. Graffin, ao mesmo tempo em que celebra a passagem pelo Rio, onde o grupo é habitué, mas não vinha desde 2007, lamenta os anos de ausência. “Sempre que voltamos ao Rio, temos a sensação de que nunca fomos embora”, diz, antes de “Along The Way”, já no final do show, que apresenta 25 músicas em cerca de 1h20. No início, o vocalista deu alento a quem tanto esperou pelo grupo: “Podemos demorar 40 anos, mas sempre viremos e vocês estarão aqui”, promete, logo depois da excepcional “21st Century (Digital Boy)”, o primeiro grande hit da noite. Greg Graffin lembrou até da estreia do Bad Religion no Rio, no festival Close Up Planet, na Praça da Apoteose, em 1996 – e lá se vão 16 anos. Preocupado, lembrou a todos do inicio do horário de verão, em meio a piadinhas que trocava com o baixista Jay Bentley. Mas será que alguém conseguiu acertar os ponteiros em meio a tantas rodas de pogo simultâneas?

Tudo pode parecer blablablá de artista que quer se mostrar simpático com o público, mas as expressões no rosto de Graffin denunciam uma insofismável satisfação que não deixa dúvida: depois mais de 30 anos, o único integrante que permanece desde o início do Bad Religion está amarradão. Num outro grande momento da noite, um fã sobe no palco e canta certinho o trecho de “Let Them Eat War”, que na versão do álbum “The Empire Strikes First” é feito pelo rapper Sage Francis. Depois, concluí a música num belo dueto com Graffin. O professor de biologia gosta tanto que diz que procura um substituto e que pretende dar entrada na aposentadoria.

Brian Baker: bom, discreto e eficiente

Brian Baker: bom, discreto e eficiente

Com um guitarrista a menos - por um período eram três - curiosamente parece que as coisas se acertaram. O veteraníssimo Brian Baker está muito bem entrosado com miúdo Hetson, que, por sua vez, parece atravessar uma fase metálica, impingindo solos que não faziam parte do repertório do Bad Religion; não foi só em “Generator”. Do disco mais recente, o correto “The Dissent Of Man”, lançado no ano passado, não há muitas músicas, mas elas são conhecidas do público. São nos hits que a plateia enlouquece em rodas de pogo e pula-pulas fantásticos, mas músicas nem tão alardeadas funcionam muito bem, caso de “Come Join Us” e “Atomic Garden”. “Fuck Armageddon… This Is Hell”, por sua vez, fecha o show com a síntese da acalorada Fundição, que, como tal, tem a vocação das altas temperaturas. É o inferno!

No bis, todo mundo queria “Punk Rock Song” – a música foi pedida antes depois do retorno ao palco -, mas como reclamar de “American Jesus” e seu riff marcante, quase épico? E olha que ela foi precedida por um solo de bateria de Brooks Wackerman, de um minutinho só, mas foi solo de batera em show punk! “Infected”, quase uma música romântica em meio a uma saraivada de protestos, é um must da diversão saltitante das cerca de 4 mil pessoas que abarrotaram a Fundição. “Sorrow” encerra a noitada com uma hora a menos sem dó. Sem “Punk Rock Song”, mas com 25 músicas punk na ideia.

O baixista Jay Bentley dialoga com Graffin

O baixista Jay Bentley dialoga com Graffin

Set list completo:

1- Resist Stance
2- Social Suicide
3- 21st Century (Digital Boy)
4- Los Angeles Is Burning
5- Wrong Way Kids
6- Overture
7- Atomic Garden
8- Before You Die
9- Recipe For Hate
10- I Want To Conquer The World
11- Come Join Us
12- New Dark Ages
13- Do What You Want
14- You
15- Modern Man
16- Generator
17- The Defense
18- Let Them Eat War
19- No Control
20- Anesthesia
21- Along the Way
22- Fuck Armageddon… This Is Hell
Bis
23- American Jesus
24- Infected
25- Sorrow

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Renato em outubro 17, 2011 às 11:29
    #1

    Olha, provavelmente foi o melhor show do ano em terras cariocas. Os caras são tão caristmáticos que nem chuva torrencial, nem engarrafamento infernal na linha amarela, nem péssima divulgação da Fundição e o preço meio salgado, afastou a galera. Vi muita gente da antiga presente, como também vi uma nova safra ansiosa por mais uma aula do professor Greg. Bad Religion é assim no Rio, não importa aonde e como, sempre é um show imperdível em todos os sentidos!

  2. Ricardo em julho 25, 2015 às 16:25
    #2

    Olhando esta reportagem, este show foi sem comentários, top. Lembro perfeitamente da minha adolescência, neste dia choveu e todo mundo entrando debaixo da proteção do gramado. Cara, foi muito foda.

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