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Do quase fim, o início

Com bom humor, documentário mostra como, há 20 anos, o U2 teve que zerar o passado de sucesso para continuar como uma das maiores bandas do planeta. Fotos: Divulgação.

u2filmeSe existiu um momento em que o U2 quase acabou de verdade, foi durante a preparação e gravação do álbum “Achtung Baby”, cujo lançamento completa 20 anos agora. É o que diz o líder do grupo, Bono Vox, no documentário “From The Sky Down”, de Davis Guggenheim (“Uma Verdade Inconveniente”). O filme teve pré-estreia nessa madrugada (15/10), no Festival do Rio. O longa tenta explicar como, para superar as dificuldades de uma banda que se tornou gigante, global e americanizada, Bono e seus acólitos tiveram que por um fim numa trajetória para iniciar outra, o que resultou na mudança radical que o mundo conheceu através do irregular – hoje clássico - “Achtung Baby”. O artifício certamente foi usado ao menos uma vez mais pelo U2, entre os álbuns “Pop” (1997) e “All That You Can’t Leave Behind” (2000). Mas isso já é outra história.

O filme foi feito a partir do convite para o U2 se apresentar este ano no Glastonbury, o mamútico festival britânico, o que levou a banda a tocar num evento desse tipo (deixando de lado a parafernália própria que o Brasil viu em três shows em abril) pela primeira vez desde quando era uma iniciante, na década de 80. Na verdade, o U2 só não tocou no Glasto em 2010 porque as costas de Bono travaram e ele teve que ser operado às pressas. O filme começa e termina com os quatro U2s se preparando para entrar no palco do festival, e é composto, basicamente, por depoimentos tomados de cada um deles, que, em off, se transformam numa narração para as imagens, inéditas e/ou recuperadas. O que, às vezes, pode confundir o espectador que não conseguir diferenciar as vozes de um e de outro; Bono e The Edge – claro – são os que falam mais.

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Convidados pelo diretor, o grupo volta ao Hansa Studios, em Berlim, onde se malocou, seguindo exemplo de David Bowie e Iggy Pop, para parir o novo álbum. As imagens recuperadas da cidade na época, pós-queda do muro, junto com a narração, dão um contorno próprio à história, recheada de bom humor pelo diretor, o que garante certa leveza a temas nem sempre atraentes. Animações quase rascunhadas são inseridas, por exemplo, quando Bono explica que, dependendo do estado emocional, a guitarra de The Edge, nos ensaios, pode soar terrivelmente estridente, arrancando gargalhadas do público. Participam da empreitada produtores de longa da do U2, como Brian Eno e Daniel Lanois, e Flood, convocado para “desamericanizar” e “dar uma cara moderna” ao U2, além do perene empresário Paul McGuiness.

O documentário não é focado somente na gravação do disco, tampouco se prende fielmente a detalhes técnicos, como acontece na fantástica série “Classic Albums”, que, inclusive, empresta cenas ao filme. Mas mostra uma banda, em princípio sem rumo, que, curiosamente, se reencontra na feitura de “One”, uma das melhores músicas do U2 em todos os tempos. A canção nasceu de outra música, uma sequência repetitiva de acordes da qual The Edge se tornara prisioneiro e de onde só conseguiu sair com a ajuda de Bono. O vocalista, no início da fita, exagera ao se considerar um gênio que, já aos sete, oito anos, tinha a noção de que guardava na caixola todas as melodias que usaria no U2. Será?

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A gravação do disco é contextualizada com histórias do início da banda, com um espetáculo de imagens recuperadas dos integrantes bem novinhos. E ainda com os exageros que resultaram na turnê anterior e no filme “Rattle And Hum”, quando o U2 se transformou na maior banda do mundo. No último show da turnê, na noite de Ano-novo, Bono se despede da plateia como quem dá adeus à banda. O auge do bom humor acontece quando a separação de várias bandas clássicas, incluindo Police, Pink Floyd, Judas Priest e Rolling Stones, é tomada como espelho para o iminente fim do U2. Fotos das bandas têm os integrantes que saíram (ou foram “saídos”) “rasgados” na tela, revelando o motivo da separação. O público delira, mesmo que as legendas não consigam acompanhar a velocidade da boa edição.

“From The Sky Down” é um filme sobre banda, feito para quem gosta de histórias de banda, mas, por conta da leveza e do bom humor de Davis Guggenheim, e mesmo dos U2s, pode sem atraente para qualquer não iniciado. Mesmo porque, a essa altura, não há, na face da terra, quem nunca tenha ouvido falar do U2 nos últimos 35 anos.

Não há informações sobre a entrada do filme em circuito ou sobre novas exibições no Brasil, mas a expectativa é de que ele faça parte da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece a partir do próximo dia 21. “From The Sky Down” também deve ser inserido na programação de canais à cabo, logo, logo. Clique aqui para assistir ao trailer.

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