No Mundo do Rock

Mutante

Prestes a tocar pela primeira vez no Brasil, Machine Head conserva a inquietude que caracteriza sua trajetória no mundo do heavy metal. Fotos: Divulgação site oficial.

Rob Flynn (guitarra e vocal), Phil Demmel (guitarra), Adam Duce (baixo) e Dave McClain (bateria)

Rob Flynn (guitarra e vocal), Phil Demmel (guitarra), Adam Duce (baixo) e Dave McClain (bateria)

Uma coisa é certa. O álbum “The Blackening”, lançado pelo Machine Head em 2007 é um dos grandes momentos do grupo e do metal contemporâneo. Outra coisa que também não se discute é a incessante vontade da banda de se renovar, buscando novos caminhos a cada disco. E é aí que a lógica aponta para o passo seguinte: o que fazer depois de uma verdadeira obra-prima? A resposta está em “Unto the Locust”, o novo álbum do MH, que acaba de ser lançado. Mas para entender a transição de um disco pra outro, é preciso voltar mais ainda no tempo, até o ano de 2003, quando outro disco, “Through the Ashes of Empires”, foi lançado.

Explica o baterista da banda, Dave McClain, que tudo começou quando, para fazer a música “Imperium”, que abre o tal disco (mas foi a última a ficar pronta) o quarteto mudou substancialmente a forma de compor. Dave atendeu a um telefonema do Rock em Geral há cerca de um mês, mas uma avalanche chamada Rock In Rio não deixou o papo sair da fita cassete e virar esta matéria. Naquele momento, a curiosidade pelo novo material era latente; hoje (11/12), com o CD lançado, todo mundo já conhece o verdadeiro petardo que é “Unto the Locust” – se você ainda não baixou está dando mole. Além de Dave e do chefão Rob Flynn (vocal e guitarra), fazem parte da banda Phil Demmel (guitarra) e Adam Duce (baixo).

E tem mais. O Machine Head vem ao Brasil pela primeira vez, numa turnê junto com o Sepultura que passa por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, a partir deste sábado (detalhes aqui). Dave também falou que coube a ele apresentar a discografia do Rush ao Rob (veja uma mensagem dele), e que ele se interessou por uma música do trio canadense em particular. Nada mal para quem começou na cola do sucesso do thrash metal, no início dos anos 90, e um dia já gravou uma bela versão para “Message In a Bottle”, do Police. Só algumas pistas para tentar entender esse caminhão de nitroglicerina criativa chamado Machine Head. Leia a íntegra da entrevista, que só não rendeu mais por determinação da gravadora deles:

Rock em Geral: Vocês vão tocar no Brasil pela primeira vez, quais são as expectativas de conhecer o público brasileiro?

Dave McClain: Vai ser uma loucura. Temos tentado tocar no Brasil por muito tempo, mas por uma razão ou outra as coisas não deram certo. Mas agora estamos prontos para tocar aí e vivenciar o que sempre vimos em vídeos. Estamos com medo de falar em espanhol para o público brasileiro… Espero que todos entendam inglês…

REG: Falando do disco novo, “Unto The Locust”, esse é o primeiro do Machine Head em quatro anos, tempo em que vocês ficaram fazendo muitas turnês. Que novos elementos podemos encontrar nesse disco, a partir dessas turnês?

Dave: Tem sido sempre assim, tocamos muito. É bom ver a reação das pessoas, e estamos vendo uma nova geração de fãs do Machine Head, o que soa como um novo começo para nós. Queremos sempre incrementar algo de novo em cada álbum. No “The Blackening” já tentamos fazer isso, nos aproveitar de coisas que aprendemos de um álbum para outro, como fizemos no “Through the Ashes” (“Through the Ashes of Empires”, disco de 2003). Provavelmente a maior coisa que aconteceu ao fazermos esse disco foi compor a música “Imperium”, que foi a última música a ser composta para o disco. Ela tem todas essas partes diferentes, foi uma coisa nova para nós, a primeira vez em que tocamos tudo direto. Foi muito divertido ter todos esses tipos diferentes de elementos numa única música. Foi como partimos para fazer o “The Blackening”, as músicas foram ficando compridas, com muitas partes diferentes, trechos mais arrastados, tipo stoner, outros mais melódicos, outros bem pesados. É algo que agora faz parte da nossa forma de compor. O que aconteceu no “Unto the Locust” é que levamos isso mais a fundo.

REG: Você acha que “Unto the Locust” é quase um disco, digamos, de “thrash progressivo”?

Dave: Esse é o tipo de som que nos pressiona a fazer mais, a fazer coisas mais difíceis de tocar. Nós não nos interessamos nem ouvimos banda de prog metal, mas bandas como o Rush são definitivamente influências, principalmente nos três últimos discos. Antes de começarmos a fazer o “The Blackening”, eu dei ao Rob (Flynn, guitarrista e líder do grupo) todo o catálogo do Rush, cada disco. Na verdade foi antes, no “Through the Ashes”, e músicas como “Spirit of Radio” pegaram ele de jeito. Ele viu como esse tipo de música é atraente e se interessou mais pelo Rush, o que é legal e o ajudou a fazer coisas novas, do ponto de vista de um músico. Mas não somos desse meio do progressivo, não.

A sinistra capa do novo álbum, 'Unto the Locust'

A sinistra capa do novo álbum, 'Unto the Locust'

REG: Você acha importante para o Machine Head, ao iniciar a composição de um novo disco, sempre mudar a direção musical, em relação ao anterior?

Dave: No sentido de não nos repetirmos, sim, certamente. Uma coisa que nós aprendemos com o tempo é não tentar fazer o mesmo disco duas vezes, só porque este disco foi bem. Muita coisa boa nos aconteceu com o “The Blackening”, mas não podemos recriá-lo ao longo do tempo. Não há como fazer o mesmo disco de novo, como se ele pudesse ser criado de novo. Queríamos fazer o “The Blackening” e fizemos. Desde “Through the Ashes”, que nos colocou de volta no mapa, as pessoas ficaram na expectativa sobre o que faríamos em seguida. Quando o “The Blackening” saiu, todos gostaram mais ele. Mas nós não nos sentimos à vontade para ficar no estágio que chegamos, como se o “The Blackening” fosse tudo para nós. Buscamos sempre seguir em frente.

REG: Ao mesmo tempo vocês se sentem pressionados pelos fãs – e por vocês mesmos - a fazer outro “The Blackening”, que muita gente considera como a obra prima do Machine Head?

Dave: Ah, sempre há pressão para escrevermos grandes músicas e tudo, mas depois de fazermos turnês com o “The Blackening” durante três anos, nos sentimos bem preparados para começar a compor e a fechar a porta como um todo no “The Blackening”, para nos mover adiante. Acho que isso responde um pouco àquela primeira pergunta.

REG: Esse disco parece ser ao mesmo tempo bem cru e ao mesmo tempo bem técnico. Essa tem sido uma característica – a fusão desses elementos – que faz diferença no som do Machine Head?

Dave: Acho que mais nesse disco, que foi mixado pelo Rob e pelo Juan (Urteaca, engenheiro de som), ficou mais como uma demo, no sentido da equalização. O Rob queria que soasse assim e chamou o Juan, que em geral mixa as nossas demos, que gravamos antes de entrar em estúdio para gravar os discos. É uma coisa mais crua do que qualquer disco que já fizemos. O som do disco é muito vivo, orgânico, acho que esse disco soa mais como o Machine Head do que qualquer outro que já fizemos, é mais como nós realmente somos.

REG: Você acha melhor ter o Rob como produtor do que um “nomão” como o Ross Robinson, que já trabalhou com vocês? Não é legal, às vezes, ter uma opinião de fora da banda?

Dave: Havia uma época em que queríamos alguém que produzisse o nosso disco, mas ao mesmo tempo em que isso acontecia, o Rob tava sempre lá do lado cara, supervisionando. Depois de algum tempo trabalhando dessa maneira, pareceu mais apropriado para o Rob fazer o trabalho de produtor, já que ele estava por perto o tempo todo mesmo. Muitas vezes ele dizia o que o produtor deveria fazer ou vetava idéias dele. Acho que hoje faz mais sentido o Rob cuidar de tudo, porque ele está no meio de todo o processo de composição e de gravação. E ele faz um bom trabalho como produtor, no “The Blackening” foi uma experiência muito boa.

REG: Uma vez o Rob chamou o som do Machine Head de “modern metal”. Como você desenvolveria isso? Era assim que se chamava o nu-metal, mas imagino que Rob quis dizer outra coisa…

Dave: Para mim colocar rótulo nas coisas… nu-metal, modern metal, qualquer coisa metal… Para mim somos apenas uma banda de metal. Podem nos chamar do que quiserem, mas provavelmente, se você perguntar a dez pessoas diferentes, cada uma delas vai responder algo diferente. Somos uma banda de metal, nosso som é baseado nisso, crescemos ouvindo as mesmas coisas: Judas Priest, Iron Maiden, e depois bandas como Sepultura e Pantera, eles realmente influenciaram não só a música, mas as pessoas. Para mim é tudo metal, por mais que criem novos termos. Mas, sim, nós somos modernos, em certo aspecto. Não queremos ser como os Beatles, nem reviver nada do passado. Não queremos recriar nada, mas tentamos criar. Queremos ser uma banda que os garotos ouçam e queiram tocar esse tipo de música.

REG: Como baterista você influencia muito na hora de compor ou atua mais na hora de fazer os arranjos?

Dave: Acho que participo bem nas duas coisas. Componho para a banda e também toco guitarra, contribuo em muitas músicas. Tenho melhorado com tempo e ajudado a fazer algumas bases. Em geral, quando faço algo passo para o Rob, que arruma e toca para a banda, e a canção vai surgindo, casos eles se interessem. É mais ou menos assim que me envolvo. Gosto de juntar as partes criadas por cada um, mudando uma ou outra coisa.

REG: Vocês colocaram vídeos que mostraram o processo de gravação do disco na rede. Valeu a pena fazer isso?

Dave: Adoramos colocar coisas na rede, para os fãs verem o que está rolando. É uma boa maneira de mostrar as coisas novas, especialmente, não só no site, mas no youtube e em outras redes sociais. As pessoas vêem como estamos gravando. É bom ver o retorno, o que os faz estão falando de nós. Sempre aproveitamos as sugestões e considerações deles, são úteis. Ou mesmo quando eles falam quais músicas querem ouvir nas turnês ou num show especificamente.

O amplo kit de bateria usado por nosso entrevistado, Dave McClain, nas gravações de 'Unto the Locust'

O amplo kit de bateria usado por nosso entrevistado, Dave McClain, nas gravações de 'Unto the Locust'

11/10

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Julio Cortez em outubro 12, 2011 às 14:53
    #1

    Grande banda, vi em 98 e recomendo, uma das melhores bandas de metal hoje em dia. Uma pena que as bandas de abertura antes do Sepultura, façam com que o show deles seja mais curto. Abraço, Bragatto.

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