O Homem Baile

Podia ser melhor

Boa apresentação de Eric Clapton e sua banda não despista repertório irregular da atual turnê pelo Brasil. Fotos: Luciano Oliveira.

Bandaça: Eric Clapton, entre o baterista Steve Gadd e o baixista Willie Weeks iniciam o show de ontem

Bandaça: Eric Clapton, entre o baterista Steve Gadd e o baixista Willie Weeks iniciam o show de ontem

Foi bom. Mas podia ter sido melhor. Essa era a sensação no final do segundo show de Eric Clapton, ontem, na HSBC Arena, no Rio. Não que o guitarrista não estivesse escoltado por uma bandaça; não que ele não tenha tocado com todo o feeling e perícia técnica que lhe são peculiares; não que ele não tenha incluído no set vários hits universalmente consagrados; não que ele não tenha visitado várias fases de sua carreira. Mas sim porque, durante cerca de 1h40, Clapton apresentou um show de repertório irregular, de cunho pessoal, que tem marcado, artisticamente, os últimos anos de sua carreira. O público, típico de churrascaria, mal educado e que só conhecia “Cocaine”, tampouco ajudou.

É que Sir Eric Clapton tem gasto o tempo fazendo parcerias com velhos amigos. Tocou e gravou, nos últimos tempos, com BB King, Stevie Winwood, JJ Cale e Wynton Marsalis, entre outros. Gravou disco em que atua muito mais como intérprete e transformador de canções (uma de suas grandes facetas) do que como compositor. Não é mais um artista que grava um disco e sai em turnê – do mais recente, “Clapton”, só uma foi tocada ontem. Em vez disso, faz do show seu quintal artístico, recriando canções sempre de forma surpreendente; mérito dele. Ontem, por exemplo, mandou uma versão eletroacústica de “Layla” que permanecia guardada na sua caixola, de uma lindeza só. Mas, ao mesmo tempo, por causa disso, desperdiçou um dos maiores riffs da história do rock. Ante às duas opções, não é possível responder qual é a melhor. Só Clapton sabe.

O palco do show é simples, mas os panos brancos que ganham cores ao serem iluminados lembram a decoração do fantástico Royal Albert Hall, em Londres, onde Clapton costuma fazer morada. No início do show, quem brilha é o tecladista Chris Stainton, o que seria uma constante durante a noite. Clapton só se manifesta com um solo daqueles de cair o queixo no bluesão “Hoochie Cochie Man”, de Willie Dixon. Não é de hoje que o guitarrista se apropria de temas originais e os transforma espetacularmente. Vejam o caso de “Cocaine” (JJ Cale) e de “Shot The Sheriff” (Bob Marley), que acabou suprimida para a entrada da suingada “Tearing Us Apart” – em cada show dessa turnê, Clapton decide se é uma ou outra.

Em “Old Love”, esquecida parceria com Robert Cray do álbum “Journeyman”, o guitarrista impinge uma intensa dramaticidade numa das passagens mais emocionantes da noite. O improviso inclui a contribuição do pianista (sim, são dois) Tim Carmon, que também se destacaria ao longo do set. Em “When Somebody Thinks You’re Wonderful”, que encerra o trecho acústico do show, Clapton se veste de cantor de cabaré, tocando dixieland como se viesse do passado numa máquina do tempo. Antes, já havia investido numa levada country na ótima “Lay Down Sally”, mas errou o deixar a bela “Wonderful Tonight” fora desse bloco. No trecho final, quebrou o que seria o grande crescente de encerramento.

Mas a coisa engrena pra valer na trinca final: “Little Queen Of Spades”, remanescente dos shows em que Clapton presta tributo ao mestre Robert Johnson, traz uma verdadeira jam session entre ele e os tecladistas, e aponta para uma irresistível virtuose do bem que arranca aplausos do público. O artifício é mantido em “Cocaine”, revestida em contornos próprios sem perder o impacto do riff original, um dos maiores da história do rock, para delírio do público. “Crossroads”, outra de Johnson, ganha uma versão cadenciada, curta até, para um bis solitário, com a participação de Gary Clark Jr., encarregado do esvaziado show de abertura. Sim, podia ser melhor.

Em tempo: se você não foi ao show, corra atrasa do DVD “Eric Clapton & Stevie Winwood – Live From Madison Square Garden”, que ali, sim, não ficou faltando nada. Eric Clapton encerra a turnê brasileira nesta quarta, dia 12, no Estádio do Morumbi, em São Paulo – saiba mais aqui.

Eric Clapton: o eterno Deus da guitarra

Eric Clapton: o eterno Deus da guitarra

Set list completo:

1- Key To The Highway
2- Tell The Truth
3- Hoochie Coochie Man
4- Old Love
5- Tearing Us Upart
6- Driftin’ Blues
7- Nobody Knows You When You’re Down And Out
8- Lay Down Sally
9- When Somebody Thinks You’re Wonderful
10- Layla
11- Badge
12- Wonderful Tonight
13- Before You Accuse Me
14- Little Queen Of Spades
15- Cocaine
Bis
16- Crossroads

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Natalia em outubro 11, 2011 às 13:01
    #1

    O show foi bem morno, o que tinha de gente saindo no meio do show, ou para cerveja, banheiro ou até mesmo para ir embora, foi absurdo. O pessoal que chegou atrasado e ficava em pé, os murmúrios que nãoo tinham a ver com o show, e parecia uma noite de gala. O técnico de imagem foi horrível, para aqueles que pensaram em assitir ao telão, ou via a mão do Clapton e só, perdendo o solo magnifico do pianista Tim Carmon. O desfile de gala, pessoas que foram porque queriam dizer ‘eu fui no show do Clapton’ no Rio, dado que o primeiro dia esgotou, e fez as pessoas como assim, eu tenho que ir…. Apesar disso tudo, de não fãs, de mal educados, me emocionei a cada nota, a cada riff… Ver a versao de Layla, ímpar… Ainda estou emocionada, e iria sem erro, lógico!

  2. Fabio em outubro 13, 2011 às 14:55
    #2

    Essa Arena te uma infra muito boa, mas o show perde muito lá… o lugar é bem frio e muito claro… A arrumação de cadeiras na pista também não ajuda… Aqui nao é zooropa… a gente não sabe chegar na hora, falar baixo, etc…
    Quanto ao show, ele tocou e cantou muito, mas os anos de estrada e de vida louca tão começando a pesar. Me parece que essa será a última tour mundial dele. Não acho que ele ainda tem saco pra ficar na estrada.

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