O Homem Baile

Simplicidade que atrai

Tears For Fears reúne bom público em festa de tom revivalista no Rio. Fotos: Luciano Oliveira.

Roland Orzabal e Curt Smith: a duplinha do Tears For Fears mantém a boa voz com o passar do tempo

Roland Orzabal e Curt Smith: a duplinha do Tears For Fears mantém a boa voz com o passar do tempo

É quase meia-noite e cerca de 5 mil pessoas começam a cantar o refrão de “Shout”, uma das músicas da década de 80 que habita o inconsciente coletivo do mundo pop, por conta própria. Eles esperam a volta do Tears For Fears no Citibank Hall, no Rio, na noite de ontem, onde o grupo tocou um repertório que, se fosse o de uma coletânea do tipo “best of”, venderia feito água. Sim, a paisagem é revivalista, nostálgica: gente que não vai a um show de rock há décadas sacudiu a poeira da velha roupa guardada no armário e compareceu para gritar - gritar pra valer - numa noite para se guardar na memória.

Curt Smith tocou baixo na maior parte do tempo

Curt Smith tocou baixo na maior parte do tempo

Mas o grito, em princípio, foi de reivindicação. Inexplicavelmente, parte do sistema de som do Citibank Hall falhou, e Roland Orzabal passou praticamente duas músicas do set, incluindo o super sucesso “Sowing The Seeds Of Love” cantando em volume baixíssimo, sem perceber o problema, apontado pelo público através de gestos. “Som! Som! Som!”, gritava a plateia no intervalo, até que o problema fosse resolvido. “Shit happens”, disse Orzabal, usando um afamado bordão americano. Para uma turnê revivalista, até que o grupo trouxe uma boa produção de palco, com três telões montados por trás de estruturas metálicas repletas de luzes – a iluminação é o forte do visual da apresentação. Orzabal toca guitarra o tempo todo, Curt Smith baixo, e a banda tem baterista, tecladista e guitarrista de apoio.

Mas uma das marcas registradas do Tears For Fears é justamente a bateria eletrônica, brinquedinho muito usada na década de 80. É ela que se destaca na abertura, com “Everybody Wants to Rule the World”, e aparece em várias outras partes do show. É de impressionar como uma simplicidade quase tacanha tenha permanecido por tanto tempo viva em bandas da época – a tal bateria era um “must”. Outra característica da banda era fazer músicas completamente indigestas que acabavam caindo nas graças do público, das letras aos climas explorados pela dupla Orzabal/Smith. A sequência “Mad World”/“Memories Fade”/“Closest Thing to Heaven” chega a dar uma caída no show, embora a primeira, climática, tensa, seja um os pontos altos da noite, expondo outra contradição do grupo: como conseguia atrair público com temas tão áridos? Até a versão para o blockbuster “Billie Jean”, de Michael Jackson, com o Tears For Fears, fica difícil de cantar – e isso é bom, muito bom.

Roland Orzabal é o mais inventivo durante o show

Roland Orzabal é o mais inventivo durante o show

Aridez é o que menos existe, de outro lado, em “Head Over Hills”, que traz um irresistível lalalá de fazer inveja a “Hey Jude”; “Advice For The Young at Heart”, muitas vezes subestimada, mas que ganha contornos pop ao vivo; e em “Break it Down Again”, outra que vira festa nas vozes do público. Mas as performances mais arrebatadoras, musicalmente falando, ficam por conta de músicas em que Orzabal – que é quem cria na dupla – viaja, em tons quase progressivos. Caso de “Badman’s Song”, pesada e com final épico, e na ignorada “Everybody Loves a Happy Ending”. Vale lembrar que as vozes da dupla – a terceira marca registrada do TFF - continuam impecáveis, sobretudo Roland Orzabal, que mata a pau em “Call Me Mellow” e “Badman’s Song”.

No início do bis, entretanto, foram os backing vocals de Michael Wainwright que se destacaram, na dramática “Woman In Chains”. O sujeito, de semblante e tipo físico semelhante ao de Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, deu uma de “uninvited guest” ao fazer um não anunciado mini show de abertura, com o olho “chorando sangue”, arrancando aplausos do público. É aí que começa a cantoria de “Shout”, apontando para o inevitável congraçamento público/banda. A música tem uma introdução diferente, mas ninguém percebe; o negócio é gritar e curtir um dos poucos solos de guitarra da noite, feito numa época em que o artifício não era imprescindível ao rock. O importante era colocar tudo pra fora. So, let it all out!

Set list completo:

1- Everybody Wants to Rule the World
2- Secret World
3- Sowing the Seeds of Love
4- Change
5- Call Me Mellow
6- Everybody Loves a Happy Ending
7- Mad World
8- Memories Fade
9- Closest Thing to Heaven
10- Billie Jean
11- Advice for the Young at Heart
12- Floating Down the River
13- Badman’s Song
14- Pale Shelter
15- Break It Down Again
16- Head Over Heels
Bis
17- Woman In Chains
18- Shout

Depois do Rio, a turnê passa hoje (9/10) por Belo Horizonte, no Chevrolet Hall; Brasília, no Centro de Convenções, terça, dia 11; e termina em São Paulo, numa segunda apresentação no Credicard Hall, dia 14. Veja os detalhes aqui.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. gnappi em outubro 10, 2011 às 7:03
    #1

    Fui ontem no Show aqui em BH e foi demais! Realizei um sonho da adolescência…

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