O Homem Baile

Espera recompensada

System Of A Down amplia o tempo do show no Rock In Rio e revê carreira em apresentação aguardada há dez anos. Fotos divulgação: Raul Aragão (1 e 3), Mauricio Santana (2) e Rodrigo Esper (4).

O vocalista Serj Tankian, com um look mais comportado em relação ao início da carreira

O vocalista Serj Tankian, com um look mais comportado em relação ao início da carreira

Juntou a fome com a vontade de comer. De um lado a produção do Rock In Rio cortava um dobrado para sanar os problemas decorrentes do tradicional atraso do Guns N’Roses, remanejando horários; de outro, o System Of A Down, com um show completinho de 28 músicas – o grupo havia tocado na véspera, em São Paulo – e apenas com 70 minutos disponíveis, tempo insuficiente para a empreitada. Pois deu a lógica da desorganização e o quarteto mandou toda a barulheira que o público esperava ver, em cerca de uma hora e quarenta minutos, no domingão (2/10) de encerramento do festival. Essa as 100 mil cabeças que se jogaram no pit vão ficar devendo a Axl e seus mimos de rockstar.

Daron Malakian quase não sola, mas faz um barulhão

Daron Malakian quase não sola, mas faz um barulhão

Não poderia mesmo ser diferente. Há dez anos o System Of A Down é a banda mais esperada pelo público brasileiro e foi a mais votada no site oficial do Rock In Rio, superando o próprio Guns N’Roses. Foi o que fez a produção abrir o cofre e transferir o show do grupo de Paulínia para a Cidade do Rock, o que acabou gerando uma escala no sábado, em São Paulo, antes do show que já entrou para a história do festival. O sujeito pouco acostumado ao grupo, no entanto, estranharia ao ver aquele senhor, quase estático, de cabelo aparado e rosto quase imberbe, não fosse por uma barbicha de bode, trajando uma camisa social e cantando como um tenor num recital de ópera. Serj Tankian já usou roupas extravagantes e maquiagem (veja foto de 1999), mas seu forte sempre foi a manipulação vocal. Impressionante como ele vai do vocal limpo, afinado (“Lost In Hollywood”, como segunda voz), ao gutural (na violenta “Mind”, que critica a tecnologia não necessária), passando por vocalizações rápidas como se fosse um rap (“Bounce”, com uma filmadora presa à cabeça), e até imitando trilhas de desenho animado (“Prision”, logo na abertura).

Voltando de um recesso de cerca de quatro anos, é normal que os integrantes acumulem uns quilinhos a mais, caso do bochechudo guitarrista Daron Malakian. O que não impede que o grupo toque como nos velhos tempos, ou mesmo melhor – a turnê de retorno começou em maio – em músicas que invariavelmente têm mudanças de andamento e praticamente – pecado maior – sem solos nem destaques individuais. A primeira vez em que Malakian solou deve ter sido a única, em “Lonely Day”, cerca de quarenta minutos depois de o show ter começado. E a resposta do público é imediata, abrindo rodas gigantes, não iguais aquelas na vertical, lá na entrada, mas esparramadas na frente do palco, num acesso e fúria só visto, nesse festival, no show do Slipknot. E isso com muito menos apelo visual; só um bem bolado jogo de luz servia de fagulha para o ímpeto que as músicas do SOAD naturalmente possuem.

O discreto baixista Shavo Odadjian também agita

O discreto baixista Shavo Odadjian também agita

O símbolo delas é “Chop Suey!”, tocada quase na metade do show, não só por ter se transformado num grande hit mundial, mas porque, de certa forma, sintetiza em tantas mudanças de direção, toda a mistureba indigesta numa única canção. E aí é que está o mistério: se é indigesta a música do grupo, o que faz tanta gente assim (não somente as 100 mil cabeças desse show) se interessar por ela? Dúvidas que o rock não explica, só tendo a sensação da música para saber. Antes de “Psycho”, Serj brinca: “Rio, do you like to disco?” e Daron Malkian prossegue: “Vocês gostam de samba?”, mas a coisa não descamba para a homenagem pueril que até Stevie Wonder adotou neste Rock In Rio. “Estamos felizes de estar aqui, é nossa primeira vez, estamos nos divertindo!”, diz Serj, antes de “Hypnotize”.

Embora os descendentes de armênios tenham um afiado discurso político, ele quase não aflora durante o show, exceto num discurso sarcástico sobre a preservação da natureza, antes de “Holy Mountains” – será que Serj achou que estava no SWU? Destaques da noite, além de “Chop Suey”, são “Science”, que tira sarro/presta homenagem ao metal clássico do Iron Maiden; a altamente death metal “Innervision”; “Aerials”, cujo riff distorcido leva o público a um inevitável bater de cabeça; e o final arrasador com “Suite-Pee”/“War?”/“Toxicity”/“Sugar”. Que nunca mais um fã do System Of A Down reclame de um chilique de Axl Rose.

O politizado Serj, sempre em pose de discurso

O politizado Serj, sempre em pose de discurso

Set list completo:

1- Prison Song
2- B.Y.O.B.
3- Revenga
4- Needles
5- Deer Dance
6- Radio/Video
7- Hypnotize
8- Question!
9- Suggestions
10- Psycho
11- Chop Suey!
12- Lonely Day
13- Bounce
14- Lost In Hollywood
15- Kill Rock N’ Roll
16- Forest
17- Science
18- Mind
19- Innervision
20- Holy Mountains
21- Aerials
22- Vicinity Of Obscenity
23- Tentative
24- Cigaro
25- Suite-Pee
26- War?
27- Toxicity
28- Sugar

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. João Kaiuca em outubro 5, 2011 às 20:07
    #1

    O melhor show de minha vida.

  2. Lucas Braz em outubro 5, 2011 às 20:52
    #2

    Eu tive a sorte de presenciar o show deles no Rock in Rio, e posso dizer que foi fenomenal. A voz do Serj vem mudando com os anos, porém ainda canta tudo com muita eficiência. Abraço.

  3. Daniel em outubro 6, 2011 às 12:38
    #3

    Não estive nesse dia do festival, fui no Dia Metal. Mas, uma semana depois do RIR, lá estava eu na Chácara do Jockey aqui em Sampa pra ver o System of a Fucking Down. Nada a declarar. Todo mundo já pode ouvir/ver.

  4. Bruno Lopes em outubro 6, 2011 às 23:32
    #4

    Minha situação é a mesma do Daniel, fui no RIR no dia do Metal e no show do SOAD em Sampa e tive os melhores shows da minha vida: Metallica e SOAD, a play list dos shows foram ótimas. System é uma banda de estilo único, nunca mais ouvirei System do mesmo jeito.

  5. Leal em outubro 7, 2011 às 14:35
    #5

    Saí de Recife para ver o show do SOAD no RiR e foi a melhor coisa que eu já fiz. O show foi insano!

  6. Bruno Nigro em novembro 20, 2011 às 9:55
    #6

    Não tem o que falar, foi do caralho. Só me arrependi muito de não ter descolado um ingresso para o dia do Metal, mas em 2013 não vou dar esse vacilo. Se tiver show de bandas que eu curto todos os dias, vou todos os dias.

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