Todo mundo sabe que um show do Motörhead vai ter voluma altíssimo e que clássicos como “Ace Of Spades” e “Overkill” vão ser tocados, além da “nossa” música, “Going to Brazil”. Mesmo assim, não houve quem arredasse o pé da frente do Palco Mundo, anteontem (25/9), no Rock In Rio. Mas muito mais do que atração para “compor o elenco”, o grupo, talvez o mais antigo de todo o festival, é a lenda viva que permanece espalhando sabedoria rock’n’roll por onde passa, numa rara unanimidade no meio. Todo mundo quer aproveitar enquanto isso é possível.

Quando começa a vibrar as cordas do Rickenbacker talhado, Lemmy Kilmister, 65, mostra como e porque é diferente o som do Motörhead. Com a naturalidade de quem toca violão em luau, o baixista tira um esporro dos diabos de seu instrumento, no clássico “Iron Fist”, que abre a noite. O guitarrista Phil Campbell, já há quase 30 anos no grupo, é o parceiro perfeito para Lemmy; discreto, não tem momentos de guitar hero, mas faz das suas, quase sempre seco, direto, na medida certa. Em “Stay Clean”, música que não sai do repertório do grupo há anos, eles fazem uma coreografia na frente do palco, agitando o público com vontade pela primeira vez na noite. Antes, o brasileiro Gloria havia sido vaiado a cada música e o desconhecido Coheed And Cambria não teve lá grande recepção.

Lemmy e Campbell desenvolveram uma simbiose no palco revelada não só na troca de indiretas e piadinhas, no melhor estilo “british humor”. Eles tocam com uma facilidade impressionante, mesmo em músicas mais recentes, como a boa “Get Back In Line”, do álbum “The Wörld Is Yours”, lançado este ano. Outra desse álbum incluída no show é “I Know Now to Die”, que mostra um Phil Campbell solando feito louco, e por mais de uma vez na mesma música. Mas a melhor performance dele vem na seguinte, a clássica “Chase is Better Than The Catch”, cujo riff é de não deixar ninguém incólume na Cidade do Rock.

Outro momento virtuose acontece em “In The Name of Tragedy”, quando o bateria Micky Dee engata um solo de cerca de três minutos, com rara precisão. Dee, que passa boa parte do tempo reclamando do som para os roadies, investe no duelo do duplo bumbo com a caixa, revelando técnica e precisão. A essa altura, Campbell veste uma camiseta preta do Galo Mineiro, cortesia do roadie brasileiro que há anos acompanha o grupo mundo afora. Lemmy – claro – dedica “Going to Brazil” ao público do Rock In Rio, e como de hábito, pede para aumentar o som, que não chega ao nível ensurdecedor de outras apresentações do Motörhead – coisas de grandes festivais.

A dobradinha final é mesmo com “Ace Of Spades”, que resulta em delírio geral, e “Overkill”. Essa tem como convidado o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, que já tinha dido que estaria na área para dar uma canja. Com Lemmy e Campbel, ele compõe a cena clássica do grupo na beirada do palco, enquanto Mike Dee revira a bateria ao avesso nos muitos finais que “Overkill reserva. No fim, fica a imagem de Lemmy “metralhando” o público com o baixo em punho. Curto, grosso, rápido e pesado. Motörhead.

Set list completo:

1- Iron Fist
2- Stay Clean
3- Back in the Line
4- Metropolis
5- Over the Top
6- One Night Stand
7- I Know Now to Die
8- Chase is Better Than The Catch
9- In the Name of Tragedy
10- Going to Brazil
11- Killed by Death
12- Ace of Spades
13- Overkill

Saiba mais:

Outros shows do Rock In Rio

Tudo sobre o Rock In Rio

Tags desse texto: Motörhead, Rock In Rio